terça-feira, 27 de setembro de 2011

R.E.M. - Collapse Into Now



Artista: R.E.M.
Álbum: Collapse Into Now
Data de lançamento: 7 Março 2011
Género: Rock alternativo
Editora: Warner Bros. Records
Lista de faixas:

1 – “Discoverer”
2 – “All the Best”
3 – “Uberlin”
4 – “Oh My Heart”
5 – “It Happened Today”
6 – “Every Day Is Yours to Win”
7 – “Mine Smell Like Honey”
8 – “Walk It Back”
9 – “Alligator_ Aviator_Autopilot_Antimatter”
10 – “That Someone Is You”
11 – “Me, Marlon Brando, Marlon Brando and I”
12 – “Blue”

É com muita pena que escrevo este artigo já depois da banda de Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills ter anunciado o seu fim após uma mítica e lendária carreira de 31 anos. Adiando várias vezes a audição deste disco – os motivos saltavam entre questões de tempo e questões de preguiça – apenas o ouvi agora, quando já estava ciente de que este era o último álbum da banda. Mas não é com ouvidos diferentes que se ouve um álbum que se sabe que seja o último, principalmente no caso dos R.E.M. que já não têm nada a provar. Só o nome deles, três simples letras já carrega um legado que muitas bandas desejariam ter e não tantas o conseguem, repleto de excelentes canções, hits intemporais, influência e aquele tom que faz com que praticamente toda a gente goste pelo menos um pouquinho ou pelo menos de algumas músicas da banda. Não haveria qualquer pressão sobre os R.E.M. para a realização de um disco final, e de qualquer das maneiras, banda que saiba bem o que faz são eles. Ainda para mais, depois de um excelente “Accelerate” de 2008, que resgata uma sonoridade mais rockeira, mais “agressiva” que de certa forma não só contrasta outros trabalhos anteriores como também os completa. Este “Collapse Into Now” prossegue do ponto onde ficou “Accelerate” mas indo buscar mais influências ao repertório calmo dos R.E.M. para fazer um trabalho mais global. O resultado é um disco que perfeitamente pode representar o estilo/género/nome/legado R.E.M. Melodias perfeitamente compostas pelo trio, com a voz única e inigualável de Michael Stipe a sobressair-se. As letras parecem lidar com factores etários, como o crescente afastamento da juventude dos membros do grupo, completos com passagens que questionam os miúdos de hoje em dia – que são, com certeza, muito diferentes dos miúdos dos tempos em que andavam a editar o “Murmur” ou até mesmo o “Out of Time” ou o “Automatic for the People”, para citar alguns exemplos de álbuns lendários da espectacular carreira da banda. As canções são daquelas que já conhecemos que carregam o selo identificativo “R.E.M.” mas das quais não nos fartamos por serem tão características e ao mesmo tempo tão moldáveis. Exemplifico com “Discoverer” que como primeira faixa do disco já é suficiente para nos abrir o apetite e deixar-nos motivados para o que se segue, “Walk It Back” que com o seu “slow tempo” pode-nos fazer lembrar uma “E-Bow the Letter”, a faixa que a segue que pode imediatamente mudar os ares e a disposição do disco, ao apresentar-se como sendo mais enérgica “Alligator_Aviator_Autopilot_Antimatter” que pede emprestada alguma essência do “Accelerate”, uma curtíssima mas semelhante em energia “That Someone Is You” e a final abordada meia em “spoken word” que ainda nos lembra mais o clássico “E-Bow the Letter” por repetir a participação de Patti Smith. É assim que se faz um disco de uma banda que já tem a sua base de fãs mais que conquistada, já tem o seu nome pela parada das maiores bandas de Rock de sempre, das mais influentes e construiu uma carreira de invejar. Da minha (nossa) parte, o único que se pode dizer é… Obrigado por tudo o que nos deixaram, R.E.M…

Avaliação: 8,8



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Katra - Out of the Ashes



Artista: Katra
Álbum: Out of the Ashes
Data de lançamento: 26 Outubro 2010
Género: Metal sinfónico, Metal gótico
Editora: Nuclear Blast, Napalm Records
Lista de faixas:

1 – “Delirium”
2 – “One Wish Away”
3 – “If There’s No Tomorrow”
4 – “Vendetta”
5 – “Out of the Ashes”
6 – “Envy”
7 – “Mirror”
8 – “Anthem”
9 – “The End of the Scene”
10 – “Hide and Seek”

Não há necessidade de introduzir este artigo explicando no que consiste o género de música e enumerando exemplos de principais bandas que lá se encontram. Já todos conhecemos bem a base e essência do Metal sinfónico orientado pelos vocais femininos. Esta banda oriunda da Finlândia, Katra é mais um bom exemplo. Centram a imagem da banda na belíssima vocalista Katra Solopuro – que dá o seu nome à banda – e a própria música também se encontra bastante orientada pela sua voz. Depois de um relativamente bem recebido “Beast Within”, o grupo Finlandês não se quis repetir e procurou evitar uniformizar-se quanto à sua abordagem do estilo, portanto na transição para o novo “Out of the Ashes”, largaram-se alguns pormenores e procuraram-se utilizar outros. Por exemplo, a utilização da influência de música étnica já não surge aqui como factor de destaque. A atmosfera obscura do anterior também já não soa igual e parecem haver aqui temas mais influenciados por Pop e Rock através de melodias bastante pegajosas. O disco parece ser mais orientado por guitarra e a jovem Katra já experimenta utilizar outros tons vocais, procurando por vezes tons mais agudos. Portanto, para uma banda que escolhe tocar um determinado estilo que já tem poucas voltas a dar e que também já tem a sua lista de clichés, os Katra pelo menos não se deixam estagnar, e vão procurando mudanças, mesmo que mínimas – não davam para ser mudanças bruscas também. Tudo em favor do crescimento musical e a banda demonstra-se bastante competente na composição do disco. O seguidor de “Beast Within” encontra-se recheado de bons temas, alguns com um toquezinho épico e melodias belíssimas com refrães que se mostram como autênticas obras catchy – aqui posso destacar faixas como a introdutória “Delirium”, o single promocional “One Wish Away”, “If There’s No Tomorrow”, o tema de som épico e letra tenebrosa “Anthem” ou a conclusiva "Hide and Seek”. Mesmo com faixas a destacar-se mais do que outras, é um álbum que pode perfeitamente funcionar bem como um todo. E se o objectivo do grupo era solidificar-se como banda credível, criando uma obra sucessora a outra diferente mas na mesma ligada a ela, bem que o conseguiram e é bem possível que com mais alguns anos, o nome Katra seja mais soante no género e talvez já sejam enumerados juntamente com todas aquelas bandas que eu poderia ter dito no início do artigo mas que não achei necessário. E para quem for fã deste estilo de música e gostar de uma banda que seja liderada por uma cara bonita mas que não seja só isso e também esteja bem recheada de talento, – curiosamente, acho sempre muito mais beleza e talento num pack inteiro por aqui por estas bandas, do que na música pop propositadamente orientada pelo factor visual atractivo – é um disco suficiente ou talvez um pouco mais.

Avaliação: 7,6



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mão Morta - Pesadelo em Peluche



Artista: Mão Morta
Álbum: Pesadelo em Peluche
Data de lançamento: 19 Abril 2010
Género: Rock Alternativo, Rock experimental
Editora: Universal Music Group
Lista de faixas:

1 – “Novelos da Paixão”
2 – “Teoria da Conspiração”
3 – “Paisagens Mentais”
4 – “Biblioteca Espectral”
5 – “Tardes de Inverno”
6 – “Como um Vampiro”
7 – “Penitentes Sofredores”
8 – “O Seio Esquerdo de R.P.”
9 – “Fazer de Morto”
10 – “Metalcarne”
11 – “Estância Balnear”
12 – “Tiago Capitão”

Muitas vezes quando se enumeram as grandes – maiores – bandas Portuguesas, mencionam-se sempre os óbvios e deixam-se os Mão Morta de fora. Claro que não é em todos os casos, não é muito dificilmente que se encontra um apreciador que diga que em termos de Rock e música alternativa propriamente dita, os Mão Morta reinam singularmente. Normalmente ao falar-se em actos dos bons e importantes na música nacional como Xutos & Pontapés, GNR, UHF e afins já sabemos que esses grupos têm a sua base musical “standard” e fazem canções reconhecíveis pelo seu estilo. Já esta banda Bracarense, tendo quase tanta experiência como os mencionados anteriormente, difere em todos os sentidos. E não só deles para as outras bandas, dentro do repertório musical deles há muita variação de música para música, de disco para disco. Portanto, falando das maiores bandas únicas e originais? Talvez os Mão Morta liderem à sua vontade. Se muita gente se surpreendeu com o tema Rockeiro meio dançável meio bizarro de “Budapeste (Sempre a Rock ‘N Rollar)”, não muito menos surpreendidos devem ter ficado com uma frenética “Quero Morder-te as Mãos” cantada toda aos berros. Já para não mencionar a capacidade em escrever tamanhas canções de protesto como “Bófia”, longas narrações de contos sádicos como em “O Divino Marquês” ou até explosivos derrames de energia, alguma raiva e quase aleatoriedade de “Oub’lá”. Isto apenas alguns dos exemplos do que a gloriosa carreira dos Mão Morta tem para oferecer. Mas não se ficam por aí, não cruzam os braços a lançar reedições e compilações de êxitos para ganhar mais uns trocos à custa deles e dos concertos que dão. Mantêm-se sempre como uma banda activa, disposta a escrever um novo disco, com cabeça para prosseguir com álbuns conceptuais, para escrever música que tanto pode passar na rádio como pode ser evitado pela mesma. Mas é certo que passando os anos, toda aquela variação de géneros tem tendência a afrouxar e este “Pesadelo em Peluche” lançado em 2010 já abranda um pouco e procura um som mais estandardizado e até mais leve. Mas os factores que identificam a etiqueta “Mão Morta” estão lá. Seja nas melodias dos refrães de “Novelos da Paixão” – que pode facilmente ter rotação diária em qualquer rádio que se importe em passar algo minimamente decente – “Fazer de Morto” ou “Tardes de Inverno”; seja mais uma vez o “storytelling” que bem conhecemos das canções dos Mão Morta com a voz áspera e por vezes sussurrada de Adolfo Luxúria Canibal a narrar-nos histórias pouco ortodoxas mas fantásticas de tão surreais que o são – ou em alguns casos de tão perturbadoras e reais. A esses e outros factores característicos desta banda oriunda de Braga, juntam-se outros pontos no disco que lhe reforçam o poderoso sabor: desde a participação notável e brilhante de Fernando Ribeiro – dos Moonspell – em “Como um Vampiro”, à melancolia obscura ligeiramente orquestrada de “O Seio Esquerdo de R.P.”, passando por uma divertida enumeração de bebidas em “Estância Balnear” e concluindo com uma belíssima obra-prima progressiva, “Tiago Capitão”, uma balada – a contar uma história como é habitual nas músicas dos MM – que se prolonga até aos 8 minutos e cujo refrão “Vamos em frente, olho por olho, dente por dente, ó capitão!”orientado por piano pode muito facilmente levar-nos. É um excelente disco, mas é possível que hajam fãs da banda que acreditem que para o calibre desta banda, o disco seja mais fraco em comparação a anteriores, afirmando a sua antiga passagem nos anos 80 e até meados dos 90 como a sua “era de ouro”, mas isso já se torna habitual em qualquer banda que suba na carreira. Porque em comparação a muitos discos que se editam hoje em dia – e muitos que representam erradamente a música portuguesa nas tabelas de venda – este álbum vale ouro.

Avaliação: 8,1



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Dream of Poe - The Mirror of Deliverance



Artista: A Dream of Poe
Álbum: The Mirror of Deliverance
Data de lançamento: 25 Fevereiro 2011
Género: Death/Doom Metal, Metal gótico, Metal progressivo
Editora: ARX Productions
Lista de faixas:

1 – “Neophyte”
2 – “Os Vultos”
3 – “Lady of Shalott”
4 – “Liber XLIX”
5 – “The Lost King of the Lyre”
6 – “Chrysopoeia”

Começo logo por dizer que quem diz que cá em Portugal existe pouca boa música, simplesmente não procura. É claro que no caso de se basearem nos tops de vendas, há pouca fruta fresca para escolher, mas uma pesquisa mais profunda é capaz de dar em surpresas bastante agradáveis – e não estou a dizer que não haja boa música nos mais vendidos, é apenas ofuscado por outras coisas. O que vale é que a comunidade de Metal é uma das que mais dá valor ao trabalho nacional, não só porque já estão habituados a aprofundar a procura da música para além de tabelas de vendas – ou exclusivamente fora dessas tabelas – e porque o Metal em si é muito universal, acaba por ter todo o mundo unido e qualquer país pode ser uma boa fonte de música pesada. Esta introdução serviu apenas para apresentar esta banda de Doom Metal, notoriamente influenciada por My Dying Bride, oriunda dos Açores, cujo disco de longa duração de estreia “The Mirror of Deliverance” mostra-se um trabalho bastante interessante e competente, a fazer valer a pena depositar tempo nele. A Dream of Poe é o nome do projecto que fica inteiramente ao cargo do músico Bruno “Spell” Santos, que já tem alguma experiência com outros projectos do mesmo género. É um disco que não pretende propriamente abrir uma nova porta no que toca à música Doom, mas é um trabalho bastante maduro para um projecto a solo formado por volta de 2005. As influências de actos influentes e essenciais da música Doom internacional como os My Dying Bride são, como já afirmei, evidentes, mas é dentro dessa influência que o projecto Açoriano procura construir a sua própria identidade. Os riffs lentos mas pesados e a chorar melancolia são competentes, os vocais limpos suaves dando o tom assombroso bem acompanhados de outros guturais que dão ainda mais força a um ambiente já obscuro estão muito bem administrados. São 6 longas canções com tudo no sítio, com todos os factores bem aplicados e toda a essência do género bem espremida. Uma aposta mais diferente mas igualmente bem conseguida é a faixa “Os Vultos”, na qual predomina exclusivamente a língua portuguesa. E resulta bem, os versos em português encaixam perfeitamente no género e os vocais guturais na nossa língua mãe só mostra que se pode grunhir em qualquer língua – já haviam casos disto por parte de outros actos como os Morbid Death em “Silêncio Profundo” do “Echoes of Solitude”, ou dos Bizarra Locomotiva que também nos vão apresentando vocais menos “simpáticos” na língua de Camões, e com certeza que inúmeros mais exemplos existem. E para finalizar a minha vaga descrição que, de maneira nenhuma substitui uma boa audição atenta, menciono as melodias que mesmo estando bem carregadas de melancolia, sabem bem como penetrar o ouvido e ficar lá entranhadas, fazendo canções simplesmente belas. Portanto lá está, mesmo que não seja algo exclusivo no género, é algo que está tão bem conseguido, tão bem feito que não há como negar o valor e qualidade que existe na obra-prima destes A Dream of Poe – que por hábito ainda os trato pelo plural, mesmo sendo um projecto de um só. Vale a pena acrescentar à colecção e ouvir várias vezes. Vale também a pena ter orgulho no trabalho nacional, quando é assim.

Avaliação: 8,6



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Foo Fighters - Wasting Light



Artista: Foo Fighters
Álbum: Wasting Light
Data de lançamento: 12 Abril 2011
Género: Rock alternativo, Hard Rock
Editora: RCA Records
Lista de faixas:

1 – “Bridge Burning”
2 – “Rope”
3 – “Dear Rosemary”
4 – “White Limo”
5 – “Arlandria”
6 – “These Days”
7 – “Back & Forth”
8 – “A Matter of Time”
9 – “Miss the Misery”
10 – “I Should Have Known”
11 – “Walk”

Longe vão os tempos em que andava aí a banda do baterista dos Nirvana. Dave Grohl, sempre bem acompanhado pelos seus parceiros nos Foo Fighters, foi capaz de construir o seu próprio legado sem esquecer as suas raízes. Saltou da bateria e começou o seu projecto a solo em que tocava todos os instrumentos e chamou-lhe de Foo Fighters para se parecer com uma banda a sério. Passam-se anos, vários álbuns e já com outros membros estabelecidos na banda e já não parecem uma banda a sério, são uma banda a sério. E já com um nome grande suficiente para se consagrar como um dos maiores actos de Rock da actualidade, prometendo já deixar a sua pegada no percurso do Rock até ao futuro. Ao sétimo álbum, os Foo Fighters já nem têm grande pressão, o seu estilo é reconhecível e já sabemos a capacidade de Grohl e companhia em escrever viciantes melodias e hinos de estádio dando à banda a forma de Arena Rock. Mesmo assim, vão-se fazendo algumas experiências. No anterior “Echoes, Silence, Patience & Grace” – de onde saiu o grande hit “The Pretender” – a banda ficou mais calma, várias canções acústicas, menor procura de escrever malhas, piscar um pouco o olho ao Folk Rock e ao Country sem se instalar lá definitivamente. Após essa bem recebida experiência, era altura de uma outra abordagem diferente. Em contraste ao antecedente álbum, neste os Foos, resgatando o antigo guitarrista Pat Smear e ficando a banda com 5 membros, chamando Krist Novoselic – baixista dos Nirvana para quem não souber – para ajudar e contribuir numa faixa e tendo Butch Vig como produtor – que outrora já trabalhara com os Nirvana no lendário “Nevermind” – fazem aqui um disco intencionalmente pesado, talvez com o propósito de o tornar dos mais pesados da carreira. Esse peso e uma certa abordagem de “Rock n’ Roll duro e sujo” é mais evidente em “White Limo” que já atraía a atenção dos fãs antes do lançamento do álbum, pelo vídeo que contava com a participação de Lemmy Kilmister – que dispensa apresentações. Mas do princípio ao fim, o que se encontra é aquilo que já sabemos que Grohl & Ca. fazem bem e na perfeição, que são canções sólidas, com melodias às quais se fica facilmente agarrado, bem orientada por guitarra, que não sendo das mais extraordinárias, são suficientemente características para reconhecermos o nome “Foo Fighters” mal ouvimos. É do princípio ao fim, desde a inicial “Bridge Burning” à conclusiva e single “Walk”, 11 canções às quais nos podemos facilmente agarrar, 11 canções de criar espectáculo ao vivo – sem esquecer que os Foo Fighters são das bandas mais electrizantes em concerto, actualmente – e sem qualquer indício de material “filler”. Sempre com bastante energia, como Dave Grohl prometia antes da edição do álbum, apenas com “I Should Have Known” – onde Novoselic participa – a acalmar as águas. Não há já muito a fazer no estatuto dos Foo Fighters, eles não têm porque tentar inventar a roda outra vez, mas não há maneira possível de negar a qualidade a um álbum tão consistente e tão acima do suficiente. E mesmo com opiniões variando sempre… Não será este o disco que muitos fãs dos Foos esperam há já uns bons anos?

Avaliação: 8,7



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

[Clássico do Mês] Kraftwerk - Autobahn



Artista: Kraftwerk
Álbum: Autobahn
Data de lançamento: 1 Novembro 1974
Género: Electrónica, Krautrock, Ambiente, Experimental
Editora: Philips, Vertigo Records
Lista de faixas:

1 – “Autobahn”
2 – “Kometenmelodie 1”
3 – “Kometenmelodie 2”
4 – “Mitternacht”
5 – “Morgenspaziergang”

Qualquer um que tenha uns conhecimentos musicais pelo menos na média, já reconhece os Kraftwerk, e para dizer honestamente, por esta altura eles já deviam dispensar apresentações para qualquer um. Influentes, sem qualquer dúvida, alguns fãs mais extremos do grupo Alemão afirma que a influência e inovação da música do quarteto faz deles “maior do que os Beatles”. Seja exagero ou não, não se pode excluir o nome Kraftwerk de qualquer quadro ou lista de maiores bandas de sempre. Já a começar pelo facto de que soavam futuristas outrora e continuam a sê-lo hoje. Mas não futuristas como outros que se dizem ser futuristas e apenas são descabidos, estes Alemães estavam mesmo à frente do seu tempo. Começaram a carreira com 2 álbuns auto-intitulados que se distinguiam ou por um número ou pela cor do cone que se encontrava na capa. Já aí, apesar do experimentalismo seguir por músicas mais simples, já não eram dos discos mais comuns que se encontravam na época. De seguida com “Ralf und Florian” já se desenvolveram um pouco mais, ainda sobre a mesma base. Foi ao quarto disco, com “Autobahn” que o imaginativo grupo não se conteve, arregaçou as mangas, e trabalhou num disco que seria a criação de algo novo, algo nunca visto - ou ouvido, neste caso. A música electrónica tinha assistido a um dos seus maiores passos, que mais tarde viria a criar muitos mais subgéneros, que hoje nos parecem vulgares mas que talvez nem o fossem, se não fosse a criação deste disco. Um álbum conceptual a consistir numa viagem de carro, ao longo da estrada, desde o ambiente à volta aos sons interiores, desde ao simples progresso da viagem à monotonia em si de um longo percurso. Tudo isso se sente bem na faixa de abertura/faixa-título/Lado A do disco, que se estende por 22 minutos. Representa bem a monotonia de uma longa viagem, mas a música não é nada monótona. Uma faixa, que por si só, poderia servir como aula para quem quiser aprender um pouco de música electrónica. Os ritmos são calmos mas mantêm a sua capacidade de se prender ao ouvido e também temos direito a ouvir o uso de voz na música de Kraftwerk que seria exclusivamente instrumental até então. Lá está, em 22 minutos, não dá para se aborrecer, a não ser que tenham a mente demasiado concentrada em músicas de 3 ou 4 refrães, feitas em 3 minutos e meio, ou seja, música fácil. A complexidade deste álbum é merecedora de vénia e toda essa avançada musicalidade estende-se até às restantes faixas do disco, presentes já no lado B. Já em vez de ser uma canção a alongar-se por 22 minutos, temos 4 canções mais curtas a manter o mesmo conceito de viagem, neste caso, aparentemente nocturna. Para concluir bem o álbum com uma sensação visual através do que ouvimos, na final “Morgenspaziergang” – que pode ser traduzido para algo como “Caminhada matinal” – temos claramente o efeito de um amanhecer. Exactamente isso. Uma viagem, uma noite, um amanhecer. Tudo isto é “relatado” sob a forma de música electrónica/ambiental. Um friso rodoviário em forma de disco se assim se puder chamar. Um disco que de tão inventivo que é, se alargou para além dos sintetizadores para as criações da música, tendo também breves passagens de guitarras e violinos e um importante uso de flauta em “Morgenspaziergang” - prometo que a melodia de flauta nessa faixa, tão simples que é, é para ficar presa na cabeça. Não há forma de não considerar este enorme e mítico álbum um clássico e achei-o bastante merecedor desta posição, não só por todos os factores que já mencionei anteriormente mas também pela enorme influência, pois conseguimos notar tão bem nestas longas faixas outros géneros como o Industrial, o Progressivo ou o Synthpop a serem semeados. E também, porque após uma audição apenas, já nos dá vontade de cantarolar “Wir fahr’n fahr’n fahr’n auf der autobahn” a qualquer momento.


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Baptized in Blood - Baptized in Blood



Artista: Baptized in Blood
Álbum: Baptized in Blood
Data de lançamento: 19 Outubro 2010
Género: Death Metal melódico, Metalcore, Thrash Metal moderno
Editora: Roadrunner Records
Lista de faixas:

1 – “Up Shirts Down Skirts”
2 – “Dirty’s Back”
3 – “Game On”
4 – “Only Cure”
5 – “Down and Out”
6 – “Mental”
7 – “Last Line Lady”
8 – “My Salute”
9 – “Go It Alone”
10 – “Will of a Demon”
11 – “Sinking Ships”
12 – “Event Horizon”

E temos aqui mais um disco de uma banda que segue o caminho da modernização do Metal, praticando uma variante do estilo representativa de uma boa maioria do som extremo da actualidade. Um álbum daqueles cuja intenção é pouco mais que criar uma sucessão de malhas intensas de abanar a cabeça, sem grande intuito de escrever um novo capítulo na história do Metal, ao procurar criar algo futuramente influente. Mas foge facilmente ao monótono e dentro do género está aqui um bom álbum, que mesmo que não seja muito duradouramente memorável, é o suficiente para umas quantas audições a alimentar um vício e de seguida mais algumas esporádicas para dar o gosto ao pescoço. Um autêntico festival de riffs e breakdowns, num daqueles que se podem dizer ser álbuns orientados por guitarra. Toda a brutalidade das guitarras – que por vezes passam por riffs mais “Core-izados” para além dos já caracteríticos breakdowns – é acompanhada por uma voz suja, berrando todas as músicas, escapando a um dos outros clichés do Metalcore actualmente – os vocais limpos no refrão. Aqui berra-se de princípio ao fim. Mas não é por isso que este não deixa de ser um álbum bastante melódico, pois sem sombra de dúvida que o é. Mesmo berrando, existem aqui grandes melodias de pedir a repetição do “Play”. Destaco neste factor, faixas como “Game On” – a pessoal favorita – ou “Down and Out” que também sabe bem como pedir um “replay” através de breakdowns orelhudos que tentam evitar tornar-se os mesmos de sempre. Após esta descrição breve, entende-se que este é um daqueles álbuns que se a banda continuar a fazer do género, não irá muito longe sem chatear. É com este estilo de Metal extremo mais moderno que se torna fácil de fazer um disco e daí em frente continuar a reproduzi-lo de forma minimamente diferente. Mas este ainda é o segundo álbum, portanto para já, ainda pode manter uma certa identidade a estes Canadianos Baptized in Blood. Logo, em termos de recomendação… Para os fãs de música pesada mais vanguardistas que procurem algo de mais extraordinário para se impressionarem… Podem seguir, é provável que este disco não vos cative assim muito. Porém, para aqueles fãs de malhas pesadas, que queiram uma boa dose e uma boa razão para abanar a cabeça e rodar o pescoço, com este disco têm com que se entreter a longo prazo. 

Avaliação: 7,7



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pure Reason Revolution - Hammer and Anvil



Artista: Pure Reason Revolution
Álbum: Hammer and Anvil
Data de lançamento: 15 Outubro 2010
Género: Rock Progressivo, Rock Electrónico, Industrial, Pop Rock, Metal Progressivo
Editora: Superball Music
Lista de faixas:

1 – “Fight Fire”
2 – “Black Mourning”
3 – “Patriarch”
4 – “Last Man, Last Round”
5 – “Valour”
6 – “Over the Top”
7 – “Never Divide”
8 – “Blitzkrieg”
9 – “Open Insurrection”
10 – “Armistice”

Já houveram dias em que os Pure Reason Revolution demonstravam ser uma forte aposta e uma promissora banda nos campos do Rock Progressivo. Não se ficava apenas pelo “New Prog” que se ia fazendo na altura, apresentava algo diferente, algo de muito fresco. O certo é que aos poucos, o grupo foi-se distanciando da sonoridade inicial procurando sempre experimentar coisas novas, apostar em abordagens sonoras diferentes, colocar mais qualquer coisa sobre a mesa. E é com isso que este terceiro registo intitulado “Hammer and Anvil”, alguns fãs se encontram menos agradados com o som que ouvem, mas está longe de ser um disco de se deitar fora. Até muito pelo contrário, está aqui uma proposta bastante interessante. Enquanto que, no álbum de estreia “The Dark Third”, os PRR apresentavam um som mais progressivo, aqui no “Hammer and Anvil”, a banda debruça-se mais sobre a electrónica, e mantendo sempre ali uma margem progressiva, as canções agora mostram uma diferente mistura de sabores, apresentando desde o Pop ao mais pesadinho, regando tudo com melodias bastante pegajosas que até se chegam a tornar dançáveis. Não soa, de maneira nenhuma, a algum golpe de comercialização, isto ainda se trata de música bastante inteligente, e as canções que dificilmente nos saem da cabeça ainda se apresentam bem complexas. Ouçam a “Black Mourning” e digam se não vos apetece acompanhar a cantoria. De novo, as vozes são alternadas entre a masculina de Jon Courtney e a dócil voz feminina de Chloe Alper, desta vez com mais destaque à voz de Jon – algo que também pode ter desiludido um pouco os fãs. E mesmo que a voz de Chloe seja um pouco mais apetecível, não é lamentável o trabalho regular de Jon Courtney, na voz, cantando-nos versos e refrães – tenho definitivamente que me habituar a escrever esta palavra – que ficam no ouvido por quanto tempo lhes bem apetecer. Musicalmente, a instrumentalização é maioritariamente electrónica, orientada com sintetizadores, com as guitarras a “riffar” e a acrescentar o poder aos temas, enquanto o resto se trata por sons Electro-Industriais, que, de maneira nenhuma soam errado. Seja na mais Industrial pesada “Last Man, Last Round”, na mais dançável “Never Divide” ou na instrumental/experimental/quase dance track “Blitzkrieg”. Portanto, mesmo que se estranhe o novo som da banda em comparação ao disco de estreia, não há como não reconhecer um excelente trabalho nestes novos temas que demonstram um lado mais acessível, sem ser no mau sentido e ao mesmo tempo, mantendo-se bastante maduro. Mesmo que os fãs antigos que se deixaram apaixonar pelo som progressivo dos inícios não sintam grande prazer em ouvir esta evolução para lados mais electrónicos/dançáveis com tons de Pop e Metal ao mesmo tempo, tudo isto assente na mesma base progressiva… É uma grande pena, porque está aqui um álbum para ser bem aproveitado. E volto a dizer, mesmo com apenas uma audição… Há melodias aqui que já ficam, logo à primeira. Quem tiver curiosidade… Vale a pena.

Avaliação: 8,7



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Before the Torn - The Serpent Smile


Artista: Before the Torn
Álbum: The Serpent Smile
Data de lançamento: 1 de Março 2011
Género: Metalcore
Editora: Self-Released
Lista de faixas:


1 – “Cosmopolitan Deathwish”
2 – “Last Night’s Nightmare”
3 – “Poisonous Words”
4 – “This Will Be Legend”
5 – “Remember September”
6 – “Heartriders”
7 – “Overlooked”
8 – “Fractures”
9 – “My Pray”   (com Vasco Ramos dos More Than a Thousand)
10 – “The Spirits”

Cada vez existe mais bandas no nosso país a estabelecer-se na cena pesada nacional, mais propriamente em géneros como o Metalcore ou o Thrash moderno. São essas as principais tendências e de onde têm vindo a surgir cada vez mais jovens bandas, que assim que se dão a conhecer, mostram-se de imediato, promissoras. Os Before the Torn, se já não estão lá estabelecidos nessas bandas hoje influenciadas, no futuro influentes, para lá caminham a passo largo. Logo de início, há que louvar esta banda pelo seu árduo trabalho, sendo esta, um exemplo de uma banda que começou praticamente do 0 para chegar onde está. Há que louvar também a dedicação, esforço, suor, sangue e lágrimas depositados na realização deste segundo álbum. Se com o disco de estreia “Burying Saints” não desiludiram, o objectivo que aqui tinham a cumprir seria o de impressionar ou pelo menos manter os fãs anteriores mais seguros. Acaba por ser um daqueles discos que mantém o género habitual que já conhecemos do Metalcore na sua forma mais moderna, mas que o aborda, à sua maneira, de modo a que evite que se torne maçador. Porque há que admitir, que hoje em dia é muito difícil encontrar algum disco novo de Metalcore, com algo de impressionante e surpreendente, e o que outrora fora relevante no género, hoje já está mais que batido e cada vez mais se auto-satiriza involuntariamente. Portanto, temos que procurar algum factor em discos deste género, que nos possam captar o ouvido e o gosto. Dar-lhes uma oportunidade, em vez de excluí-los de imediato pelo seu rótulo. E um factor deste disco que capte a atenção do ouvinte tem que ser, com certeza, a explosão de energia que aqui se encontra. “Moshpit” é o que nos vem à cabeça ao ouvir os temas, os ligeiros abanares de cabeça e o bater de pé são involuntários e as melodias evitam tornar-se melosas sem retirar nenhuma força e poder aos temas. Muitos discos actuais de Metalcore podem-se tornar aborrecidos. Este nem por isso. Nem que seja necessário mais que uma ou duas audições e mesmo que não seja logo um disco de reprodução repetida automática. Está mais do que o suficiente. Riffs bem orelhudos – destaco exemplos como “Last Night’s Nightmare” ou “Fractures” – um uso de refrães – agora que aprendi que essa é que é a palavra correcta, e não “refrões”, como sempre disse – limpos que não se dispersam do objectivo principal dos temas que é fornecer muita força, poder e energia. É generalista e algo usual, mas sem ser previsível. Usa da parte limpa e calma do género, mas não abusa. Segue a mesma estrutura que as canções do género, mas seguindo o seu próprio caminho. São uma banda que jogam pelo seguro, mas soam a já estarem seguros de si mesmos. Um nome que ainda passa despercebido, mas que já está mais que bem estabelecido na cena a que pertence. Fãs do género que ainda os desconheçam… Vale a pena uma espreitadela…

Avaliação: 7,5