terça-feira, 29 de maio de 2012

Moonspell - Alpha Noir / Omega White



Artista: Moonspell
Álbum: Alpha Noir / Omega White
Data de lançamento: 27 Abril 2012
Género: Black/Death Metal, Metal gótico, Rock gótico/dark/ambiente
Editora: Napalm Records
Lista de faixas:

Alpha Noir:

1 – “Axis Mundi”
2 – “Lickanthrope”
3 – “Versus”
4 – “Alpha Noir”
5 – “Em Nome do Medo”
6 – “Opera Carne”
7 – “Love Is Blasphemy”
8 – “Grandstand”
9 – “Sine Missione”

Omega White:

1 – “Whiteomega”
2 – “White Skies”
3 – “Fireseason”
4 – “New Tears Eve”
5 – “Herodisiac”
6 – “Incantatrix”
7 – “Sacrificial”
8 – “A Greater Darkness”

Um mês depois de o disco ter saído cá para o mundo e numa altura em que o vocalista Fernando Ribeiro se encontra envolvido numa polémica às custas de uma mera página de Facebook que parece ter ofendido e ferido profundamente o seu campo vital privado, eis que decido comentar este duplo registo. Não é mau timing decidir escrever texto em alturas em que o nome de Fernando Ribeiro ficou mais associado a devaneios filosóficos e insultos solutos em discursos semanticamente ricos que mais depressa lhe mancharam a imagem. Não é mau timing porque essa parte nunca foi a que mais me interessou, se sei que o Fernando é um indivíduo inteligente chego lá através do seu talento para escrever boas canções negras e pesadas e não pela quantidade de palavras longas que utiliza para chamar filho da puta a alguém de uma forma mais disfarçada e envolta em intelecto. Arrume-se desde já essa parte, porque não é isso que interessa. Aqui o grosso é o disco em questão.

Vinte anos já lá vão desde que o grupo deu os primeiros passos daqueles que viriam a ser uns passos bem longos e que não vinham de curta perna: os Moonspell viriam a liderar a música pesada em Portugal e encabeçavam uma longa fila de seguidores que os podiam utilizar como ponto objectivo: alcançar o mesmo sucesso que eles. Um dos nomes mais internacionalizados ou até o mais pelo menos no que diz respeito ao género de música em questão. Com este estatuto fica no ar a questão se no culminar destas duas décadas, a banda fica sob pressão na criação de um novo disco ou se o seu estatuto alto os deixa em posição confortável. O certo é que os Moonspell não se deixaram adormecer e sucederam na concepção de um álbum bem focado e sólido, pegando em vários factores identificativos da marca da banda.

No entanto, apesar da mistura de influências, a impressão que fica no ar é a de procura de um registo mais pesado, veloz e violentamente faminto. Sublinha-se principalmente pelo trabalho de guitarras que aparenta ser a linha condutora de todo o disco: canções mais ferozes, bem riffadas com alguns exemplos a apresentar toques de Thrash. Completa-se com o trabalho vocal de Fernando que cospe agressividade a cada verso, balançando entre uns guturais de Death Metal e uns berros frios mais à la Black, é o meio-termo que já conhecemos dele. Os sedutores vocais limpos e graves com tons vampirescos ficaram guardados para o disco secundário “White Omega”. No entanto até chegarmos lá, o que ouvimos é bem mais violento que o “Night Eternal” e compila e enverniza as variadas influências e trademarks sonoros da banda ao longo da sua longa e galardoada carreira.

E já que trouxe o “Night Eternal” à baila, volto a fazer um paralelismo. É bem possível que não se sinta a mesma sensação épica de “Night Eternal” e talvez as canções não sejam tão concentradas como nesse disco. Não só as de “Alpha Noir” soam mais pesadas, mas também parecem seguir uma fórmula muito mais directa e em vez de procurar a co-relação entre temas para colidir num álbum propriamente dito, este último registo apresenta canções mais soltas que funcionam mais independentemente do que num todo. São facilmente descartáveis. Mas não deixam de ser boas, aliás esse pormenor nem é obstáculo, até se nota que no meio de todas as faixas não é fácil destacar-se algumas faixas em concreto, são todas bem trabalhadas e todas conseguem ser bem captadas para se resguardarem no nosso ouvido.

No entanto, pode-se tentar destacar algo: “Axis Mundi” é um perfeito início arrebatador com o seu refrão / ante-refrão cuspido na língua de Camões; “Lickanthrope” enrola-se nuns tons meios Samael-escos para expor assim um tema representante, evidenciado pela sua escolha como principal single; o tema-título “Alpha Noir” que despeja um dos mais agressivos riffs com um peso bem equivalente ao Thrash feio e mau; “Em Nome do Medo” que cantada na sua totalidade em Português, junta ao factor linguístico um inegável factor melódico brilhante para constituir uma das canções mais sedutoras no conjunto; e a instrumental “Sine Missione” que aproveita a sua estrutura instrumental para escorregar um pouco mais para os lados do “Night Eternal”, pulverizando-se mais com tons góticos e sinfónicos.

No entanto, a obra não está completa por aí. Faltava a cobertura. E ficou guardada para um segundo disco, com mais 8 temas, mais 38 minutos, que funcionam aqui como a obscura calma que se dá depois de uma tempestade. Muitos dos ingredientes que foram cortados da receita para o primeiro CD foram resgatados para a confecção deste. Descansa-se um pouco assim que se baixa um pouco o volume das guitarras. O Fernando deixa de nos berrar como o lobo esfomeado que encarnava anteriormente e assume a sua personalidade vocal bipolar quando agora nos sussurra e canta calmamente. Todo o tom da música altera-se, passando do mais ruidoso e apocalíptico, para o mais gótico, nocturno e um pouquinho só depravado.

As oito canções que compõem “Omega White” assentam-se naquela estrutura mais Rock e ao mesmo tempo com tributo a actos do Metal gótico da veia de Type O Negative, My Dying Bride ou Paradise Lost, influências inegáveis à música dos Moonspell. E é assente nessa base que voltam a fazer o mesmo que no outro disco: temas igualmente bons, com trabalho excepcional em cada um deles, com composições e melodias capazes de dificultar o destaque de alguma certa e determinada faixa. Tenta-se assim um destaque à envolvente “A Greater Darkness” que conclui este disco e toda a viagem que é o álbum na totalidade, visto que é um dos temas que mais me agradou pessoalmente.

É de facto, uma obra completa e certamente competente no trabalho de completar um ciclo de vinte anos, deixando em aberto outros vinte se assim der. Mostrou-se bastante capaz no que diz respeito a abordar as várias fases que passaram ao longo de todos os discos e culminá-la num disco que com essa mistura, encontra o seu próprio som. Quanto ao estatuto do grupo – que no meio da polémica que eu quis evitar referir, é mencionado pelo líder Ribeiro com um certo tom arrogante que não o favoreceu muito – fica variável de sujeito a sujeito se existem e quantos existirão, casos de actos nacionais que superem os Moonspell em qualidade. É claro que é debatível e é claro que temos um espectro metálico nacional bastante abrangente para termos um vasto mar de escolhas. O único que não se pode negar é a qualidade dos Moonspell e a sua capacidade de fazer boa música e de a internacionalizar. Pelo menos podemos dar-nos por satisfeitos, por não estarmos mal representados lá fora…

Avaliação: 8,6


terça-feira, 15 de maio de 2012

Anathema - Weather Systems



Artista: Anathema
Álbum: Weather Systems
Data de lançamento: 16 Abril 2012
Género: Rock progressivo, Rock ambiental
Editora: Kscope, The End Records
Lista de faixas:

1 – “Untouchable, Part 1”
2 – “Untouchable, Part 2”
3 – “The Gathering of the Clouds”
4 – “Lightning Song”
5 – “Sunlight”
6 – “The Storm Before the Calm”
7 – “The Beginning and the End”
8 – “The Lost Child”
9 – “Internal Landscapes”

Sabem aqueles álbuns excelentes que são muito difíceis de descrever e até certo ponto quase nem são possíveis? Daqueles que por muito que se matute sobre que voltas a dar e por muita atenção que se preste aos detalhes para que se tenha uma noção descritiva, ainda fica muito aquém daquilo que os temas realmente apresentam? Daqueles que mais vale deixar a música falar por si? Pronto, este “Weather Systems” tal como o “We’re Here Because We’re Here” ou mais uma data de álbuns dos Anathema é um bom exemplo de tal.

O que esperaríamos seria uma ligação directa ao “We’re Here Because We’re Here” de 2010 que foi suficientemente fascinante para nos fazer querer mais dentro da mesma onda. Assim fica, longe vão os tempos do Doom Metal mais rígido e o peso cru que se sentia nos seus dias iniciais já foi definitivamente substituída pela suavidade berrante e pela complexidade das belas composições melancólicas e melódicas.

Prog Rock é o principal inquilino nas composições dos Anathema e é tal que puxa as restantes influências ambientais, os ritmos e letras emotivos, o peso de fundo que suporta os temas e os torna mais belos e até o fascinante toque mercantil que permite pegar no melhor que existe na música acessível e criar melodias fantásticas que se encaixam nos temas com comodidade. Existe também um certo feeling de Post-Rock mesmo que sempre abraçado com um tenebroso factor melódico.

O disco abre, de imediato, com “Untouchable”, um tema dividido em duas partes separadas, cuja entrada acústica e saída orquestrada, com muita emoção pelo meio já nos deixou de ouvido alapado e atento para o que se seguir. Já estamos agarrados e prontos para a seguinte “The Gathering of the Clouds” que volta a seguir o esquema que parece ser a principal fórmula para este álbum: o acústico, entrelaçado com o enérgico, sem deixar de servir de um calmante mais barato e eficaz que os próprios medicamentos. E isto envolvido numa composição envolvente que acresce até culminar num hino bem orquestrado. Belo para um registo completo, já nos maravilha num tema só.

Saliente-se também o trabalho vocal feminino de Lee Douglas que adiciona uma pitada mais dócil às composições já belas. É um tema que, em conjunto com outros como “The Beginning and the End” e mais exemplos, tanto pode ter os instrumentos a sussurrar-nos ou a gritar para nós depende de como estamos a ouvir, em que situação estamos a ouvir, o que é que queremos ouvir e qual a disposição ou sensação com que queremos ouvir. Essa bizarra essência volta a ser exposta em “Lightning Song”, liderada pela voz de Lee Douglas, cuja envolvente emoção torna-a uma das faixas de destaque e uma das favoritas pessoais.

A estrutura curta e mais simplificada de “Sunlight” dá-lhe um cargo mais separador e serve quase de interlúdio ao anteceder aquela que é realmente a faixa predilecta pessoal, “The Storm Before the Calm” que se faz sentir em duas partes, com uma inicial bastante orelhuda e com uma fantástica experiência ruidosa industrial que se pode considerar aprovada, e com a outra, conclusiva já migrando de volta para o seu ponto de partida e ligando-se mais directamente com a fórmula dos restantes temas.

O disco finaliza com três belas faixas que, de novo, dão uso ao bom gosto e à boa junção, pegando no acústico, no melódico, no colorido e no escuro, no quente e no frio, nas orquestrações, nas letras sombrias e no ambiental. Não há grande coisa a apontar que as distinga das restantes mas tão pouco existe qualquer defeito a apontar e não deixam de ser temas memoráveis e que ajudem a concluir, a completar e a favorecer a realização de um disco brilhante.

Não é só a musicalidade que impressiona aqui e nos álbuns que o antecederam e tal como tem sido hábito na música da banda de Liverpool, há uma notável dedicação ao factor ambiental e às disposições e sensações às quais se pode associar. Não é por acaso que o disco se chama “Weather Systems”, chega a haver factores climáticos neste álbum, com temas que nos levam ao frio, temas que fazem despertar o Sol por trás de outra parte mais nublada da canção, recorre-se ao chuvoso e passamos por curtas tempestades sem que se esqueça um belo dia solarengo Primaveril. Todas as estações e diferentes climas estão por aqui e existem até músicas com variações muito diferentes entre si que até se pode associar e assemelhar ao descontrolado clima que paira sobre Portugal.

No entanto, é disco para se ouvir a qualquer momento e em diferentes situações pode ser ouvido e sentido de forma diferente. E é mais uma prova vivíssima de que os Anathema são das mais eficazes bandas da actualidade e que, quando se reúnem para a criação de um novo trabalho, não se preocupam apenas em fazer um conjunto de temas que resultem bem e que consigam sobreviver ao factor tempo. Muito mais que isso, os Anathema preocupam-se em criar material que após concluído e arranjado vá valer ouro musical e que vá constar inevitavelmente em inúmeras listas subjectivas de discos do ano. Entende-se. É a perfeição em forma de disco.

Avaliação: 9,4


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Bless the Oggs - It All Starts with a Seed



Artista: Bless the Oggs
Álbum: It All Starts with a Seed
Data de lançamento: 2012
Género: Metalcore, Hardcore melódico
Editora: Independente
Lista de faixas:

1 – “It All Starts with a Seed (Intro)
2 – “Reprint Yourself Tonight”
3 – “Deliver”
4 – “We All Take Different Paths”
5 – “This Is Our Last Night”
6 – “Hate Days Later”
7 – “Comaprison”
8 – “Walls of Truth (We’ve Built This Fire)”
9 – “For Only Those Who Dare to Fail”
10 – “A Cold Day in December”
11 – “This Charming War”

Não são muitas as vezes que incluo por aqui bandas nacionais estreantes em geral ou só na longa duração, mas quando o faço nunca posso ter o intuito de deitar abaixo – barreira anti-oposição por eu já o ter feito antes. Estes são os casos em que tem que se olhar aos pormenores e ter em conta a maturidade da banda, para analisar um impacto no futuro. Se depois disso, ainda não atinarem, então que se mandem para baixo de Braga.

Não estou a incluir estes Bless the Oggs nesse exemplo, quando nem parece haver grande defeito crucial a apontar a não ser um género que vai fazer torcer narizes de uma parte da população. Mas isso já é a entrar em subjectividades do povo, há que ter em conta como tocam nos ouvintes que apreciam disto. E situá-los no mercado do género.

Apesar de se sentir a saturação do Metalcore/Hardcore melódico a nível internacional, a nível nacional o que tem vindo a fazer-se sentir com mais força normalmente é um Thrash moderno que se roça facilmente nas raízes Core ou então um puro Hardcore mais nu. No entanto com a ascensão notável de bandas como More Than a Thousand e Hills Have Eyes, talvez a frincha da porta para que entre uma onda de bandas a abordar este som esteja mais aberta.

Logo, para já, este jovem quinteto Lisboeta tem espaço para manobrar o carro e tem um posto confortável onde estacionar. Agora só falta saber se têm o que é necessário para evitar a estagnação e se têm os requisitos necessários para evoluir, ou seja, manter o carro estacionado no mesmo posto por muito tempo sem correr qualquer risco de serem rebocados. Felizmente, nota-se bastante potencial na banda no que diz respeito à escrita de canções. Um ponto de onde se retira esta conclusão facilmente: no que toca a escrever melodias, este grupo Lisboeta não brinca.

Não é tarefa fácil ficar indiferente a cada refrão que a banda atira aqui para o meio da agressividade mais crua e berrada, com ideias suficientes para distribuir ao longo de todo o disco sem que se sinta ali algum forasteiro menos inspirado, inserido ali à força para encher. Isso não, os Bless the Oggs constituem um disco com canções directas mas todas com a mesma complexidade, para que se consiga desfrutar do registo como um todo em vez de dispersar favoritos.

E é o factor que mais se destaca, mesmo que não tenha necessariamente que se desprender a atenção à impecabilidade do grupo em abordar os seus instrumentos e em saber administrar bem o balanço entre a agressividade mais Hardcore e faceta mais “melosa” do Metalcore. Logo, mesmo que sejam temas simples e directos – e cuja estrutura não vai agradar a uma significativa porção da população da pesada – são temas inteligentes e cuidados. E claro, volto a mencionar, porque não há como deixar passar ao lado: muito bom olho/ouvido para a escrita de refrães peganhentos que bem requerem que se malhe ao vivo.

Estratégias: não deixar que o disco se prolongue durante demasiado tempo, correndo o risco de gastar a fórmula e começar a fartar. Bem trabalhado com o tempo ideal para que ao final do disco ainda se tenha a mesma energia que ao início, sem que se esteja já farto de ouvir “gritaria” inter-semelhante. O uso bem distribuído de factores diferentes que agradem ao seu povo-alvo – o tal balanço entre a crua agressividade e a melódica suavidade. E é verdade que há muitas bandas a fazer isso.

Como conclusão, espera-se pelo futuro dos Bless the Oggs, afinal de contas, de agora para a frente, é só amadurecimento que há para aparecer. Esperemos pela evolução que se desenrolará em futuros discos, que tanto está implícita nestes onze temas aqui apresentados como é obrigatória. Ainda soa com tudo no sítio. Para quem não fica agradado com este estilo, apenas lhes fica a tarefa difícil de retirar as melodias dos refrães da cabeça… De todas, praticamente…

Avaliação: 6,9