terça-feira, 5 de junho de 2012

Marilyn Manson - Born Villain



Artista: Marilyn Manson
Álbum: Born Villain
Data de lançamento: 1 Maio 2012
Género: Rock/Metal industrial/alternativo
Editora: Hell, etc., Cooking Vinyl
Lista de faixas:

1 – “Hey, Cruel World…”
2 – “No Reflection”
3 – “Pistol Whipped”
4 – “Overneath the Path of Misery”
5 – “Slo-Mo-Tion”
6 – “The Gardener”
7 – “The Flower of Evil”
8 – “Children of Cain”
9 – “Disengaged”
10 – “Lay Down Your Goddamn Arms”
11 – “Murderers Are Getting Prettier Every Day”
12 – “Born Villain”
13 – “Breaking the Same Old Ground”
14 – “You’re So Vain (Bonus, Cover de Carly Simon, com Johnny Depp)

Longe vão os dias em que Marilyn Manson era uma figura icónica e representativa da rebeldia juvenil e que constava na playlist dos miúdos que ouviam com metade da intenção sendo realmente desfrutar e a outra metade sendo para chatear e/ou impressionar os pais. Brian Warner, o homem por trás do cognome Marilyn Manson que também rotula toda a banda, hoje encontra-se na sua meia-idade e não parece tão intimidador como já foi anteriormente – se é que ele realmente o foi alguma vez. Hoje em dia já não podem construir uma imagem chocante à base do consumo do produto Marilyn Manson. Um miúdo que queira parecer mais fora de linha ao apontar Manson como influência, sujeita-se até que se riam dele. E se ainda existe aquela personalidade chocante e provocativa que deixou a banda industrial nas bocas do mundo pela década de 90, hoje soa mais cansada.

Mas isto aos olhos do consumidor comum e para os que se deixaram seduzir por essa imagem que parecia mais pesada que a própria música. O que não falta são apreciadores de cara mais séria que apreciam o trabalho de Marilyn Manson por se deixar seduzir pela escrita do músico, pelas melodias cativantes e pelas canções electronicamente metalizadas com um peso submerso nos ritmos de Glam à antiga. O que realmente se pode considerar o produto genuíno daquilo que Marilyn Manson realmente representa – esqueça-se a imagem que aparenta possuir mais importância, quem se importa com o artista/banda não vai atrás desse factor.

É para isso mesmo que me debruço e direcciono e é aí que reside o interesse de ouvir música: se não olharmos para a imagem berrante que catapultou o grupo um pouco mais para a fama, notámos que não existe grande pecado a apontar na música e o ódio é uma questão de gosto pessoal e não de consideração unânime estabelecida como facto de que o que ele/eles faz(em) seja algo mau. Os que se interessam pela música de MM reconhecem isso. Mas no entanto, nem assim se safam da desilusão que têm vindo a sentir ao longo da última década, com dois álbuns que não encherem muito as medidas dos fãs: o romântico-gótico-vampiresco “Eat Me, Drink Me” apresentou uma sonoridade mais leve que deixou fãs cépticos – mas que eu pessoalmente achei que fosse uma obra muito bem conseguida – e “The High End of Low” que procurando resgatar a sonoridade antiga ficou a soar cansado e com pouco sabor.

Fica de novo a promessa de um retorno à raiz. Este parecia mais encaminhado para tal, com um regresso ao estúdio antigo. O entusiasmo que se ia sentindo na escrita das canções elevava a fasquia para um disco melhor que os seus antecedentes. No entanto há que ter cuidado com a altitude em que se colocam as expectativas, afinal de contas o “Antichrist Superstar” e o “Mechanical Animals” já estão feitos e uma repetição ou tentativa de tal não devia sequer constar nos livros como opção. E o grosso da relevância para com o público jovem ficou algures por entre o “Holy Wood”, logo para este “Born Villain” ficava a obrigação de trazer a fórmula antiga aos dias de hoje com o devido cuidado para mantê-lo situado em relevância.

Quando o álbum viu a luz do dia, já se sentiu uma sensação diferente dos últimos dois: já parecia haver aqui alguma força! O aceleramento das canções e o peso da velha guarda da banda fez-se sentir em temas como “Hey, Cruel World…”, “Pistol Whipped”, “Lay Down Your Goddamn Arms” ou “Murderers Are Getting Prettier Everyday”. As guitarras foram promovidas de novo como já conhecíamos antes. Os ritmos obscuros que dançam por entre uma estranha dose de cor e alegria, a constituir um feeling algo sádico voltam a proporcionar-nos mais melodias pegajosas como é de se sublinhar em faixas como “No Reflection”, “The Gardener” ou “The Flower of Evil”. Os tons baladescos que não se escapam do perturbador por muito calmo que sejam voltam a fazer-se sentir em canções como “Children of Cain”, “Born Villain” ou “Breaking the Same Old Ground”. Até mesmo a cover “tongue-in-cheek” que se tornou uma das várias marcas de Marilyn Manson, com a personalização de um clássico tema que tanto pode ser bem apreciado como pode ser questionado de forma humorística para quem não vir cabimento na sua realização. Temos essa em “You’re So Vain” de Carly Simon que consta com nada mais nada menos que Johnny Depp, o grande actor que muito vemos a brilhar de forma impecável no grande ecrã, aqui dá ares da sua graça à guitarra e à bateria – o gajo ainda por cima tem vários talentos, esqueçam, nunca vão conseguir ser como ele nem andar lá perto…

Apimenta-se tudo com as habituais letras. Por acaso essa foi a parte que não ficou enterrada nos discos anteriores e Warner/Manson tem uma boa queda para a escrita. E as letras com a escuridão, sadismo e um certo romantismo auto-prejudicial – este último foi mais abraçado recentemente – aqui andam de novo, desta vez condimentadas com um recurso a poesia perturbadora com acenares ao estilo clássico e até Shakespeare se recita por sussurros – ouça-se a introdução de “Overneath the Path of Misery”.

São os ingredientes que mencionei e mais alguns que juntos originam um álbum de Marilyn Manson em boa forma, com uma estrutura óssea bem mais forte que “The High End of Low” – que na verdade, separando o ponto de vista pessoal do crítico, até consigo desfrutar normalmente do dito cujo, mas é reconhecível que fica aquém de muitos outros. No entanto já não dá para obter o mesmo “boom” que teve durante a década de 90. Simplesmente porque o Marilyn Manson da década de 90 já não pega nos dias de hoje e o que outrora chocava, hoje causa um sentimento que varia entre o gosto, indiferença e ódio, por vezes juntando-se tudo numa bola. Logo, os fãs que pouco ou nada ligam a isso, quando inserem o CD para o ouvir – ou clicam Play nos ficheiros sacados – procuram apenas uma simples coisa: satisfação. Algo que os faça querer ouvir o disco alternado com os antigos, em vez de mandá-lo para a prateleira e ficar-se pelos antigos. Nisso “Born Villain” parece suceder e apresenta uma força bruta e imperativa para corresponder à etiqueta “Marilyn Manson”. Desde que ainda dê bastante gozo a quem aprecia e abrace a sua apreciação, já temos um trabalho completo.

Avaliação: 7,5