terça-feira, 5 de junho de 2012

Marilyn Manson - Born Villain



Artista: Marilyn Manson
Álbum: Born Villain
Data de lançamento: 1 Maio 2012
Género: Rock/Metal industrial/alternativo
Editora: Hell, etc., Cooking Vinyl
Lista de faixas:

1 – “Hey, Cruel World…”
2 – “No Reflection”
3 – “Pistol Whipped”
4 – “Overneath the Path of Misery”
5 – “Slo-Mo-Tion”
6 – “The Gardener”
7 – “The Flower of Evil”
8 – “Children of Cain”
9 – “Disengaged”
10 – “Lay Down Your Goddamn Arms”
11 – “Murderers Are Getting Prettier Every Day”
12 – “Born Villain”
13 – “Breaking the Same Old Ground”
14 – “You’re So Vain (Bonus, Cover de Carly Simon, com Johnny Depp)

Longe vão os dias em que Marilyn Manson era uma figura icónica e representativa da rebeldia juvenil e que constava na playlist dos miúdos que ouviam com metade da intenção sendo realmente desfrutar e a outra metade sendo para chatear e/ou impressionar os pais. Brian Warner, o homem por trás do cognome Marilyn Manson que também rotula toda a banda, hoje encontra-se na sua meia-idade e não parece tão intimidador como já foi anteriormente – se é que ele realmente o foi alguma vez. Hoje em dia já não podem construir uma imagem chocante à base do consumo do produto Marilyn Manson. Um miúdo que queira parecer mais fora de linha ao apontar Manson como influência, sujeita-se até que se riam dele. E se ainda existe aquela personalidade chocante e provocativa que deixou a banda industrial nas bocas do mundo pela década de 90, hoje soa mais cansada.

Mas isto aos olhos do consumidor comum e para os que se deixaram seduzir por essa imagem que parecia mais pesada que a própria música. O que não falta são apreciadores de cara mais séria que apreciam o trabalho de Marilyn Manson por se deixar seduzir pela escrita do músico, pelas melodias cativantes e pelas canções electronicamente metalizadas com um peso submerso nos ritmos de Glam à antiga. O que realmente se pode considerar o produto genuíno daquilo que Marilyn Manson realmente representa – esqueça-se a imagem que aparenta possuir mais importância, quem se importa com o artista/banda não vai atrás desse factor.

É para isso mesmo que me debruço e direcciono e é aí que reside o interesse de ouvir música: se não olharmos para a imagem berrante que catapultou o grupo um pouco mais para a fama, notámos que não existe grande pecado a apontar na música e o ódio é uma questão de gosto pessoal e não de consideração unânime estabelecida como facto de que o que ele/eles faz(em) seja algo mau. Os que se interessam pela música de MM reconhecem isso. Mas no entanto, nem assim se safam da desilusão que têm vindo a sentir ao longo da última década, com dois álbuns que não encherem muito as medidas dos fãs: o romântico-gótico-vampiresco “Eat Me, Drink Me” apresentou uma sonoridade mais leve que deixou fãs cépticos – mas que eu pessoalmente achei que fosse uma obra muito bem conseguida – e “The High End of Low” que procurando resgatar a sonoridade antiga ficou a soar cansado e com pouco sabor.

Fica de novo a promessa de um retorno à raiz. Este parecia mais encaminhado para tal, com um regresso ao estúdio antigo. O entusiasmo que se ia sentindo na escrita das canções elevava a fasquia para um disco melhor que os seus antecedentes. No entanto há que ter cuidado com a altitude em que se colocam as expectativas, afinal de contas o “Antichrist Superstar” e o “Mechanical Animals” já estão feitos e uma repetição ou tentativa de tal não devia sequer constar nos livros como opção. E o grosso da relevância para com o público jovem ficou algures por entre o “Holy Wood”, logo para este “Born Villain” ficava a obrigação de trazer a fórmula antiga aos dias de hoje com o devido cuidado para mantê-lo situado em relevância.

Quando o álbum viu a luz do dia, já se sentiu uma sensação diferente dos últimos dois: já parecia haver aqui alguma força! O aceleramento das canções e o peso da velha guarda da banda fez-se sentir em temas como “Hey, Cruel World…”, “Pistol Whipped”, “Lay Down Your Goddamn Arms” ou “Murderers Are Getting Prettier Everyday”. As guitarras foram promovidas de novo como já conhecíamos antes. Os ritmos obscuros que dançam por entre uma estranha dose de cor e alegria, a constituir um feeling algo sádico voltam a proporcionar-nos mais melodias pegajosas como é de se sublinhar em faixas como “No Reflection”, “The Gardener” ou “The Flower of Evil”. Os tons baladescos que não se escapam do perturbador por muito calmo que sejam voltam a fazer-se sentir em canções como “Children of Cain”, “Born Villain” ou “Breaking the Same Old Ground”. Até mesmo a cover “tongue-in-cheek” que se tornou uma das várias marcas de Marilyn Manson, com a personalização de um clássico tema que tanto pode ser bem apreciado como pode ser questionado de forma humorística para quem não vir cabimento na sua realização. Temos essa em “You’re So Vain” de Carly Simon que consta com nada mais nada menos que Johnny Depp, o grande actor que muito vemos a brilhar de forma impecável no grande ecrã, aqui dá ares da sua graça à guitarra e à bateria – o gajo ainda por cima tem vários talentos, esqueçam, nunca vão conseguir ser como ele nem andar lá perto…

Apimenta-se tudo com as habituais letras. Por acaso essa foi a parte que não ficou enterrada nos discos anteriores e Warner/Manson tem uma boa queda para a escrita. E as letras com a escuridão, sadismo e um certo romantismo auto-prejudicial – este último foi mais abraçado recentemente – aqui andam de novo, desta vez condimentadas com um recurso a poesia perturbadora com acenares ao estilo clássico e até Shakespeare se recita por sussurros – ouça-se a introdução de “Overneath the Path of Misery”.

São os ingredientes que mencionei e mais alguns que juntos originam um álbum de Marilyn Manson em boa forma, com uma estrutura óssea bem mais forte que “The High End of Low” – que na verdade, separando o ponto de vista pessoal do crítico, até consigo desfrutar normalmente do dito cujo, mas é reconhecível que fica aquém de muitos outros. No entanto já não dá para obter o mesmo “boom” que teve durante a década de 90. Simplesmente porque o Marilyn Manson da década de 90 já não pega nos dias de hoje e o que outrora chocava, hoje causa um sentimento que varia entre o gosto, indiferença e ódio, por vezes juntando-se tudo numa bola. Logo, os fãs que pouco ou nada ligam a isso, quando inserem o CD para o ouvir – ou clicam Play nos ficheiros sacados – procuram apenas uma simples coisa: satisfação. Algo que os faça querer ouvir o disco alternado com os antigos, em vez de mandá-lo para a prateleira e ficar-se pelos antigos. Nisso “Born Villain” parece suceder e apresenta uma força bruta e imperativa para corresponder à etiqueta “Marilyn Manson”. Desde que ainda dê bastante gozo a quem aprecia e abrace a sua apreciação, já temos um trabalho completo.

Avaliação: 7,5


terça-feira, 29 de maio de 2012

Moonspell - Alpha Noir / Omega White



Artista: Moonspell
Álbum: Alpha Noir / Omega White
Data de lançamento: 27 Abril 2012
Género: Black/Death Metal, Metal gótico, Rock gótico/dark/ambiente
Editora: Napalm Records
Lista de faixas:

Alpha Noir:

1 – “Axis Mundi”
2 – “Lickanthrope”
3 – “Versus”
4 – “Alpha Noir”
5 – “Em Nome do Medo”
6 – “Opera Carne”
7 – “Love Is Blasphemy”
8 – “Grandstand”
9 – “Sine Missione”

Omega White:

1 – “Whiteomega”
2 – “White Skies”
3 – “Fireseason”
4 – “New Tears Eve”
5 – “Herodisiac”
6 – “Incantatrix”
7 – “Sacrificial”
8 – “A Greater Darkness”

Um mês depois de o disco ter saído cá para o mundo e numa altura em que o vocalista Fernando Ribeiro se encontra envolvido numa polémica às custas de uma mera página de Facebook que parece ter ofendido e ferido profundamente o seu campo vital privado, eis que decido comentar este duplo registo. Não é mau timing decidir escrever texto em alturas em que o nome de Fernando Ribeiro ficou mais associado a devaneios filosóficos e insultos solutos em discursos semanticamente ricos que mais depressa lhe mancharam a imagem. Não é mau timing porque essa parte nunca foi a que mais me interessou, se sei que o Fernando é um indivíduo inteligente chego lá através do seu talento para escrever boas canções negras e pesadas e não pela quantidade de palavras longas que utiliza para chamar filho da puta a alguém de uma forma mais disfarçada e envolta em intelecto. Arrume-se desde já essa parte, porque não é isso que interessa. Aqui o grosso é o disco em questão.

Vinte anos já lá vão desde que o grupo deu os primeiros passos daqueles que viriam a ser uns passos bem longos e que não vinham de curta perna: os Moonspell viriam a liderar a música pesada em Portugal e encabeçavam uma longa fila de seguidores que os podiam utilizar como ponto objectivo: alcançar o mesmo sucesso que eles. Um dos nomes mais internacionalizados ou até o mais pelo menos no que diz respeito ao género de música em questão. Com este estatuto fica no ar a questão se no culminar destas duas décadas, a banda fica sob pressão na criação de um novo disco ou se o seu estatuto alto os deixa em posição confortável. O certo é que os Moonspell não se deixaram adormecer e sucederam na concepção de um álbum bem focado e sólido, pegando em vários factores identificativos da marca da banda.

No entanto, apesar da mistura de influências, a impressão que fica no ar é a de procura de um registo mais pesado, veloz e violentamente faminto. Sublinha-se principalmente pelo trabalho de guitarras que aparenta ser a linha condutora de todo o disco: canções mais ferozes, bem riffadas com alguns exemplos a apresentar toques de Thrash. Completa-se com o trabalho vocal de Fernando que cospe agressividade a cada verso, balançando entre uns guturais de Death Metal e uns berros frios mais à la Black, é o meio-termo que já conhecemos dele. Os sedutores vocais limpos e graves com tons vampirescos ficaram guardados para o disco secundário “White Omega”. No entanto até chegarmos lá, o que ouvimos é bem mais violento que o “Night Eternal” e compila e enverniza as variadas influências e trademarks sonoros da banda ao longo da sua longa e galardoada carreira.

E já que trouxe o “Night Eternal” à baila, volto a fazer um paralelismo. É bem possível que não se sinta a mesma sensação épica de “Night Eternal” e talvez as canções não sejam tão concentradas como nesse disco. Não só as de “Alpha Noir” soam mais pesadas, mas também parecem seguir uma fórmula muito mais directa e em vez de procurar a co-relação entre temas para colidir num álbum propriamente dito, este último registo apresenta canções mais soltas que funcionam mais independentemente do que num todo. São facilmente descartáveis. Mas não deixam de ser boas, aliás esse pormenor nem é obstáculo, até se nota que no meio de todas as faixas não é fácil destacar-se algumas faixas em concreto, são todas bem trabalhadas e todas conseguem ser bem captadas para se resguardarem no nosso ouvido.

No entanto, pode-se tentar destacar algo: “Axis Mundi” é um perfeito início arrebatador com o seu refrão / ante-refrão cuspido na língua de Camões; “Lickanthrope” enrola-se nuns tons meios Samael-escos para expor assim um tema representante, evidenciado pela sua escolha como principal single; o tema-título “Alpha Noir” que despeja um dos mais agressivos riffs com um peso bem equivalente ao Thrash feio e mau; “Em Nome do Medo” que cantada na sua totalidade em Português, junta ao factor linguístico um inegável factor melódico brilhante para constituir uma das canções mais sedutoras no conjunto; e a instrumental “Sine Missione” que aproveita a sua estrutura instrumental para escorregar um pouco mais para os lados do “Night Eternal”, pulverizando-se mais com tons góticos e sinfónicos.

No entanto, a obra não está completa por aí. Faltava a cobertura. E ficou guardada para um segundo disco, com mais 8 temas, mais 38 minutos, que funcionam aqui como a obscura calma que se dá depois de uma tempestade. Muitos dos ingredientes que foram cortados da receita para o primeiro CD foram resgatados para a confecção deste. Descansa-se um pouco assim que se baixa um pouco o volume das guitarras. O Fernando deixa de nos berrar como o lobo esfomeado que encarnava anteriormente e assume a sua personalidade vocal bipolar quando agora nos sussurra e canta calmamente. Todo o tom da música altera-se, passando do mais ruidoso e apocalíptico, para o mais gótico, nocturno e um pouquinho só depravado.

As oito canções que compõem “Omega White” assentam-se naquela estrutura mais Rock e ao mesmo tempo com tributo a actos do Metal gótico da veia de Type O Negative, My Dying Bride ou Paradise Lost, influências inegáveis à música dos Moonspell. E é assente nessa base que voltam a fazer o mesmo que no outro disco: temas igualmente bons, com trabalho excepcional em cada um deles, com composições e melodias capazes de dificultar o destaque de alguma certa e determinada faixa. Tenta-se assim um destaque à envolvente “A Greater Darkness” que conclui este disco e toda a viagem que é o álbum na totalidade, visto que é um dos temas que mais me agradou pessoalmente.

É de facto, uma obra completa e certamente competente no trabalho de completar um ciclo de vinte anos, deixando em aberto outros vinte se assim der. Mostrou-se bastante capaz no que diz respeito a abordar as várias fases que passaram ao longo de todos os discos e culminá-la num disco que com essa mistura, encontra o seu próprio som. Quanto ao estatuto do grupo – que no meio da polémica que eu quis evitar referir, é mencionado pelo líder Ribeiro com um certo tom arrogante que não o favoreceu muito – fica variável de sujeito a sujeito se existem e quantos existirão, casos de actos nacionais que superem os Moonspell em qualidade. É claro que é debatível e é claro que temos um espectro metálico nacional bastante abrangente para termos um vasto mar de escolhas. O único que não se pode negar é a qualidade dos Moonspell e a sua capacidade de fazer boa música e de a internacionalizar. Pelo menos podemos dar-nos por satisfeitos, por não estarmos mal representados lá fora…

Avaliação: 8,6


terça-feira, 15 de maio de 2012

Anathema - Weather Systems



Artista: Anathema
Álbum: Weather Systems
Data de lançamento: 16 Abril 2012
Género: Rock progressivo, Rock ambiental
Editora: Kscope, The End Records
Lista de faixas:

1 – “Untouchable, Part 1”
2 – “Untouchable, Part 2”
3 – “The Gathering of the Clouds”
4 – “Lightning Song”
5 – “Sunlight”
6 – “The Storm Before the Calm”
7 – “The Beginning and the End”
8 – “The Lost Child”
9 – “Internal Landscapes”

Sabem aqueles álbuns excelentes que são muito difíceis de descrever e até certo ponto quase nem são possíveis? Daqueles que por muito que se matute sobre que voltas a dar e por muita atenção que se preste aos detalhes para que se tenha uma noção descritiva, ainda fica muito aquém daquilo que os temas realmente apresentam? Daqueles que mais vale deixar a música falar por si? Pronto, este “Weather Systems” tal como o “We’re Here Because We’re Here” ou mais uma data de álbuns dos Anathema é um bom exemplo de tal.

O que esperaríamos seria uma ligação directa ao “We’re Here Because We’re Here” de 2010 que foi suficientemente fascinante para nos fazer querer mais dentro da mesma onda. Assim fica, longe vão os tempos do Doom Metal mais rígido e o peso cru que se sentia nos seus dias iniciais já foi definitivamente substituída pela suavidade berrante e pela complexidade das belas composições melancólicas e melódicas.

Prog Rock é o principal inquilino nas composições dos Anathema e é tal que puxa as restantes influências ambientais, os ritmos e letras emotivos, o peso de fundo que suporta os temas e os torna mais belos e até o fascinante toque mercantil que permite pegar no melhor que existe na música acessível e criar melodias fantásticas que se encaixam nos temas com comodidade. Existe também um certo feeling de Post-Rock mesmo que sempre abraçado com um tenebroso factor melódico.

O disco abre, de imediato, com “Untouchable”, um tema dividido em duas partes separadas, cuja entrada acústica e saída orquestrada, com muita emoção pelo meio já nos deixou de ouvido alapado e atento para o que se seguir. Já estamos agarrados e prontos para a seguinte “The Gathering of the Clouds” que volta a seguir o esquema que parece ser a principal fórmula para este álbum: o acústico, entrelaçado com o enérgico, sem deixar de servir de um calmante mais barato e eficaz que os próprios medicamentos. E isto envolvido numa composição envolvente que acresce até culminar num hino bem orquestrado. Belo para um registo completo, já nos maravilha num tema só.

Saliente-se também o trabalho vocal feminino de Lee Douglas que adiciona uma pitada mais dócil às composições já belas. É um tema que, em conjunto com outros como “The Beginning and the End” e mais exemplos, tanto pode ter os instrumentos a sussurrar-nos ou a gritar para nós depende de como estamos a ouvir, em que situação estamos a ouvir, o que é que queremos ouvir e qual a disposição ou sensação com que queremos ouvir. Essa bizarra essência volta a ser exposta em “Lightning Song”, liderada pela voz de Lee Douglas, cuja envolvente emoção torna-a uma das faixas de destaque e uma das favoritas pessoais.

A estrutura curta e mais simplificada de “Sunlight” dá-lhe um cargo mais separador e serve quase de interlúdio ao anteceder aquela que é realmente a faixa predilecta pessoal, “The Storm Before the Calm” que se faz sentir em duas partes, com uma inicial bastante orelhuda e com uma fantástica experiência ruidosa industrial que se pode considerar aprovada, e com a outra, conclusiva já migrando de volta para o seu ponto de partida e ligando-se mais directamente com a fórmula dos restantes temas.

O disco finaliza com três belas faixas que, de novo, dão uso ao bom gosto e à boa junção, pegando no acústico, no melódico, no colorido e no escuro, no quente e no frio, nas orquestrações, nas letras sombrias e no ambiental. Não há grande coisa a apontar que as distinga das restantes mas tão pouco existe qualquer defeito a apontar e não deixam de ser temas memoráveis e que ajudem a concluir, a completar e a favorecer a realização de um disco brilhante.

Não é só a musicalidade que impressiona aqui e nos álbuns que o antecederam e tal como tem sido hábito na música da banda de Liverpool, há uma notável dedicação ao factor ambiental e às disposições e sensações às quais se pode associar. Não é por acaso que o disco se chama “Weather Systems”, chega a haver factores climáticos neste álbum, com temas que nos levam ao frio, temas que fazem despertar o Sol por trás de outra parte mais nublada da canção, recorre-se ao chuvoso e passamos por curtas tempestades sem que se esqueça um belo dia solarengo Primaveril. Todas as estações e diferentes climas estão por aqui e existem até músicas com variações muito diferentes entre si que até se pode associar e assemelhar ao descontrolado clima que paira sobre Portugal.

No entanto, é disco para se ouvir a qualquer momento e em diferentes situações pode ser ouvido e sentido de forma diferente. E é mais uma prova vivíssima de que os Anathema são das mais eficazes bandas da actualidade e que, quando se reúnem para a criação de um novo trabalho, não se preocupam apenas em fazer um conjunto de temas que resultem bem e que consigam sobreviver ao factor tempo. Muito mais que isso, os Anathema preocupam-se em criar material que após concluído e arranjado vá valer ouro musical e que vá constar inevitavelmente em inúmeras listas subjectivas de discos do ano. Entende-se. É a perfeição em forma de disco.

Avaliação: 9,4


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Bless the Oggs - It All Starts with a Seed



Artista: Bless the Oggs
Álbum: It All Starts with a Seed
Data de lançamento: 2012
Género: Metalcore, Hardcore melódico
Editora: Independente
Lista de faixas:

1 – “It All Starts with a Seed (Intro)
2 – “Reprint Yourself Tonight”
3 – “Deliver”
4 – “We All Take Different Paths”
5 – “This Is Our Last Night”
6 – “Hate Days Later”
7 – “Comaprison”
8 – “Walls of Truth (We’ve Built This Fire)”
9 – “For Only Those Who Dare to Fail”
10 – “A Cold Day in December”
11 – “This Charming War”

Não são muitas as vezes que incluo por aqui bandas nacionais estreantes em geral ou só na longa duração, mas quando o faço nunca posso ter o intuito de deitar abaixo – barreira anti-oposição por eu já o ter feito antes. Estes são os casos em que tem que se olhar aos pormenores e ter em conta a maturidade da banda, para analisar um impacto no futuro. Se depois disso, ainda não atinarem, então que se mandem para baixo de Braga.

Não estou a incluir estes Bless the Oggs nesse exemplo, quando nem parece haver grande defeito crucial a apontar a não ser um género que vai fazer torcer narizes de uma parte da população. Mas isso já é a entrar em subjectividades do povo, há que ter em conta como tocam nos ouvintes que apreciam disto. E situá-los no mercado do género.

Apesar de se sentir a saturação do Metalcore/Hardcore melódico a nível internacional, a nível nacional o que tem vindo a fazer-se sentir com mais força normalmente é um Thrash moderno que se roça facilmente nas raízes Core ou então um puro Hardcore mais nu. No entanto com a ascensão notável de bandas como More Than a Thousand e Hills Have Eyes, talvez a frincha da porta para que entre uma onda de bandas a abordar este som esteja mais aberta.

Logo, para já, este jovem quinteto Lisboeta tem espaço para manobrar o carro e tem um posto confortável onde estacionar. Agora só falta saber se têm o que é necessário para evitar a estagnação e se têm os requisitos necessários para evoluir, ou seja, manter o carro estacionado no mesmo posto por muito tempo sem correr qualquer risco de serem rebocados. Felizmente, nota-se bastante potencial na banda no que diz respeito à escrita de canções. Um ponto de onde se retira esta conclusão facilmente: no que toca a escrever melodias, este grupo Lisboeta não brinca.

Não é tarefa fácil ficar indiferente a cada refrão que a banda atira aqui para o meio da agressividade mais crua e berrada, com ideias suficientes para distribuir ao longo de todo o disco sem que se sinta ali algum forasteiro menos inspirado, inserido ali à força para encher. Isso não, os Bless the Oggs constituem um disco com canções directas mas todas com a mesma complexidade, para que se consiga desfrutar do registo como um todo em vez de dispersar favoritos.

E é o factor que mais se destaca, mesmo que não tenha necessariamente que se desprender a atenção à impecabilidade do grupo em abordar os seus instrumentos e em saber administrar bem o balanço entre a agressividade mais Hardcore e faceta mais “melosa” do Metalcore. Logo, mesmo que sejam temas simples e directos – e cuja estrutura não vai agradar a uma significativa porção da população da pesada – são temas inteligentes e cuidados. E claro, volto a mencionar, porque não há como deixar passar ao lado: muito bom olho/ouvido para a escrita de refrães peganhentos que bem requerem que se malhe ao vivo.

Estratégias: não deixar que o disco se prolongue durante demasiado tempo, correndo o risco de gastar a fórmula e começar a fartar. Bem trabalhado com o tempo ideal para que ao final do disco ainda se tenha a mesma energia que ao início, sem que se esteja já farto de ouvir “gritaria” inter-semelhante. O uso bem distribuído de factores diferentes que agradem ao seu povo-alvo – o tal balanço entre a crua agressividade e a melódica suavidade. E é verdade que há muitas bandas a fazer isso.

Como conclusão, espera-se pelo futuro dos Bless the Oggs, afinal de contas, de agora para a frente, é só amadurecimento que há para aparecer. Esperemos pela evolução que se desenrolará em futuros discos, que tanto está implícita nestes onze temas aqui apresentados como é obrigatória. Ainda soa com tudo no sítio. Para quem não fica agradado com este estilo, apenas lhes fica a tarefa difícil de retirar as melodias dos refrães da cabeça… De todas, praticamente…

Avaliação: 6,9

segunda-feira, 23 de abril de 2012

3 Inches of Blood - Long Live Heavy Metal



Artista: 3 Inches of Blood
Álbum: Long Live Heavy Metal
Data de lançamento: 15 Março 2012
Género: Heavy Metal
Editora: Century Media Records
Lista de faixas:

1 – “Metal Woman”
2 – “My Sword Will Not Sleep“
3 – “Leather Lord”
4 – “Chief and the Blade”
5 – “Dark Messenger”
6 – “Look Out”
7 – “4000 Torches”
8 – “Leave It on the Ice”
9 – “Die for Gold (Upon the Boiling Sea IV)
10 – “Storming Juno”
11 – “Men of Fortune”
12 – “One for the Ditch”

Se há banda que represente actualmente o Heavy Metal na sua forma tradicional de uma forma única e até humorística, os Canadianos 3 Inches of Blood são fortes candidatos a esse posto. Com um título totalmente directo e absolutamente nada enganador, “Long Live Heavy Metal” contém mais uma vez a banda a livrar-se de qualquer tipo de floreados e a expelir “catchyness” e agressividade, com hinos brutais e memoráveis prontos para abanar umas quantas cabeleiras e barbas. Juntar as palavras “Heavy” e “Metal”.

Sem muitos rodeios, os 3 Inches of Blood foram capazes de manter o seu som característico, dando-lhe mais uma pequena torcida na porca para que não soe sempre igual e para que se aperte mais para estabelecer a singularidade. O principal factor que distingue de imediato a banda é a voz, isso é inegável. Os vocais peculiares de Cam Pipes continuam tão impressionantes como sempre e desde o preciso momento em que a goela é aberta, é reconhecido o portador da mesma e o nome da banda salta logo ao de cima. A voz ainda mostra a sua escola óbvia em actos lendários como Rob Halford ou King Diamond, mas progressivamente vai-se tornando influente por si e não me surpreenderia se no futuro surgisse alguma banda que desse para dizer “este gajo faz lembrar o Cam Pipes”.

Na parte da voz, continua impecável, tão agressivamente agudo como se quer. Na parte da outra voz mais áspera e berrada, cabia à banda tentar pegar no que deixaram cair no anterior “Here Waits Thy Doom” que sem o vocalista/berrador desiludiu alguns fãs que acharam que os vocais berrados do guitarrista não enchiam as medidas. Trabalhando um pouco à volta disso, com uma concentração maior em Pipes e com o trabalho vocal de Justin Hagberg – o tal guitarrista – reduzido e melhorado e já se pode pelo menos tentar contornar aquilo que poderia ser um obstáculo. No entanto entrar por aí e analisar isso já seria entrar muito a fundo em pormenores que não se devem notar quando se põe desta música a dar aos berros para abanar crânios.

A parte instrumental continua a aperfeiçoar aquilo que já se pretende fazer e em conjunto com o trabalho vocal, pode-se considerar imediatamente que, mesmo que já tenham um som próprio, que se isto fosse um trabalho ou uma redacção escolar, o “Painkiller” dos Judas Priest constaria obrigatoriamente na bibliografia. É daquele tipo de música pesada que dá gosto ouvir, os riffs que por aqui constam são deliciosos e não podiam integrar-se melhor nas melodias orelhudas que Pipes vai gritando.

Para singularizar um pouco mais a coisa e para a tornar ainda mais agressiva, abram-se as portas para as influências do Metal mais extremo, sem recorrer aos vocais ásperos. Se já tínhamos uma boa dose de NWOBHM – o tema de abertura “Metal Woman” consegue ser do mais cliché mas também dos mais brutal - e até Power Metal sempre a dar umas espreitadelas, enquanto se encaixa no ouvido do fã a usar colete coberto de remendos de logótipos de bandas, há espaço para encaixar outros subgéneros mais agressivos nas influências. Exemplos: o riff a puxar ao Black Metal que se pode verificar em “Dark Messenger” ou as boas-vindas de portões abertos que se dá ao Thrash em temas como “Leave It on the Ice” ou “Die for Gold”.

Experimente-se um tema épico como é “Men of Fortune”, com direito a voz limpa de forma que ainda não tinha sido usada na música dos 3 Inches of Blood e uma utilização de teclados que também se confirma em “Look Out”. E experimente-se também um interlúdio folclórico como é “Chief and the Blade”, cuja musicalidade Folk regressa para a conclusiva instrumental “One for the Ditch” agora envolvendo-se pelos elementos habituais da música dos 3IoB e com um solo de guitarra bem jeitoso.

São 12 temas que representam bem o Heavy Metal como ele é, misturando a velha guarda com o tom moderno e que mais importante de tudo, representam os 3 Inches of Blood na sua unicidade. Porque de especial ou inovador até nem tem nada, mas é tão bem feito, tão divertido e tão dinâmico que o único que resta a fazer é deixá-lo tocar, abanar a cabeça, reagir às notas mais loucas da voz de Pipes e seguir o lema do título do disco. Após concluído, repetir. Dá para isso.

Avaliação: 8,2


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Epica - Requiem for the Indifferent



Artista: Epica
Álbum: Requiem for the Indifferent
Data de lançamento: 9 Março 2012
Género: Metal gótico/sinfónico, Metal progressivo
Editora: Nuclear Blast
Lista de faixas:

1 – “Karma”
2 – “Monopoly on Truth”
3 – “Storm the Sorrow”
4 – “Delirium”
5 – “Internal Walfare”
6 – “Requiem for the Indifferent”
7 – “Anima”
8 – “Guilty Demeanor”
9 – “Deep Water Horizon”
10 – “Stay the Course”
11 – “Deter the Tyrant”
12 – “Avalanche”
13 – “Serenade of Self-Destruction”

O metal sinfónico liderado por voz feminina conseguiu encurralar-se num canto criativo com pouca saída de modo a que bandas do género tenham lançamentos novos de pouco interesse que apenas vão cativar os mais devotos. São todas bem capazes de escrever boas canções e de fazer música agradável mas não costumam fazer nada para que agarre e impressione uma massa de ouvintes novos. Ficou assim e agora passa trabalhos para sair daí. No entanto, para cada um desses géneros estagnados tem sempre que existir uma banda que se sobressaia e tem sempre que haver aquela selecção de grupos que ainda conseguem liderar o movimento e fazê-lo com uma estratégia criativa bem-feita.

Felizmente, os Holandeses Epica são um dos exemplos dessa selecção de bandas, não só conseguem ficar por cima de outras bandas, mas ainda se conseguem afastar um pouco mais para conseguir um som próprio. E ainda são uma das bandas que consegue mudança de disco para disco, mesmo que consiga permanecer a soar a Epica. É o que acontece no recente e ainda fresco “Requiem for the Indifferent”. Temos aquele som característico da banda que pega no tal Metal sinfónico de cara bonita à frente como base e acrescenta-lhe uma boa dose de peso com influências de Black e Death – os guturais de Mark Jansen são o principal factor-exemplo – com temas de estrutura progressiva, arranjos orquestrais ainda mais excedidos, enquanto nos deparamos com melodias agressivas e dóceis num contraste belo.

É o que se estende ao longo do “Requiem for the Indifferent” mas com outros factores a apontar. Os Epica são uma banda inteligente, afinal foram capazes de se destacar no movimento em que se inserem, logo sabem como procurar inovação mesmo que algumas vezes mais subtil que outras, e procura sempre mudança e variação de álbum para álbum. Neste quinto disco, a banda afrouxa um pouco o peso e a intensidade que mais se sobressaía no antecessor “Design Your Universe”, procura mais progressão e alterações dentro dos temas em si, fazendo deles também mais técnicos, dessa forma realçando a parte progressiva da música. Há aqui material com capacidade para agradar um bom fã de Rock/Metal progressivo.

Continua bem pesadinho mas também mais flexível, alternando entre canções complexas e outras mais directas. Outro ponto a sublinhar no que diz respeito aos experimentalismos do disco, é de realçar também a forte influência de música oriental que fica bem saliente na faixa-título, acabando por se tornar no grosso da mesma. Até a voz evoluiu neste disco. Sim, porque a lindíssima Simone Simons não é só uma cara bonita, também tem imenso talento nas cordas vocais para acompanhar e completar a sua estonteante beleza. E, por estranho que pareça, a sua voz também consegue incluir mais flexibilidade e versatilidade, ficando ainda superior aos discos anteriores – tarefa já difícil.

Quer fique a sensação de que no final das misturas, as guitarras podiam estar mais altas e menos ofuscadas pelas partes orquestradas, que toda a parte de guitarra esteja mais leve em comparação ao disco anterior, ou que simplesmente os vocais guturais não estejam em tanta abundância – ainda estão bem presentes e a apimentar bem os temas com mais brutalidade. O álbum mostra-se bastante competente e coeso. Funciona lindamente na sua duração sem parecer estar a prolongar-se demais e tem factores musicais suficientes para criar excitação a cada audição repetida com a descoberta de novos pormenores que façam adorar as músicas ainda mais. Isto ainda com o factor melódico a servir de cereja no topo do bolo, quando existem suficientes refrães para ficar em “repeat” na nossa cabeça. E o mais importante de tudo, não só apresentam um registo que dê para dizer “Isto soa a Epica”, mas que também dê para dizer “Isto soa a Epica do “Requiem for the Indifferent””.

Algumas faixas de destaque podem ser a dócil e orelhuda “Storm the Sorrow”, a surpreendente e emocional balada “Delirium”, a envolvente “Internal Warfare”, a bem regada de diferentes influências, bem progressiva e com uma valente dose de peso “Requiem for the Indifferent”, a mais grave e “groovy” “Stay the Course” para dar mais ao pescoço, a mais marcada pelo trabalho de guitarra e riff reminiscente ao Heavy Metal tradicional “Deter the Tyrant” e como sempre um épico de quase 10 minutos – mais curto que o habitual até – “Serenade of Self-Destruction” que conclui o disco em nota alta. Mas isto apenas citando e isolando alguns exemplos num disco que funciona lindamente no seu todo, por parte de uma banda que ainda não deve integrar a palavra “decepção” no seu dicionário…

Avaliação: 9,2


quinta-feira, 19 de abril de 2012

The Used - Vulnerable



Artista: The Used
Álbum: Vulnerable
Data de lançamento: 26 Março 2012
Género: Post-Hardcore, Rock alternativo, Emo Rock
Editora: Hopeless Records
Lista de faixas:

1 – “I Come Alive”
2 – “This Fire”
3 – “Hands and Faces”
4 – “Put Me Out”
5 – “Shine”
6 – “Now That You’re Dead”
7 – “Give Me Love”
8 – “Moving On”
9 – “Getting Over You”
10 – “Kiss It Goodbye”
11 – “Hurt No One”
12 – “Together Burning Bright”

Se há nome que polariza de imediato as opiniões que muito diferem mas todas se afirmam com certeza, esse nome é The Used. Os narizes torcidos como reacção ao nome, normalmente associam-se à sua abordagem juvenil e à sua associação com um movimento que levou o Pop e as melodias peganhentas ao Punk/Hardcore. Não só pela associação mas pelo reconhecimento de liderança. No entanto a moda tinha todo o ar de ser passageira e pelo que aparenta, essa maré já parece estar mais baixa e com uma tendência a vazar mais progressivamente. E no entanto, os The Used ainda aqui andam. A fazer o mesmo que lhes deu fama. Afinal de contas também não é isso que se quer que eles façam? – quem os quer a fazer algo.

E o certo é que se há algo que já elevou os The Used a um estatuto comercial alto, isso reside no factor melódico, enquanto brincam com o Pop, com as letras obscuras juvenis enquanto dá uns saltos pelo Post-Hardcore e pelo Punk. A combinação ainda faz muita gente de barba mais rija revirar os olhos em desdém mas também conseguiu agarrar muitos. E como banda de canções simples, têm automaticamente as principais sinalizações em cada refrão. E nessas melodias explosivamente orelhudas não deixa de haver uma inevitável sensação de pastilha elástica. No entanto é uma daquelas pastilhas que não perdem o sabor logo, ainda dá para mastigar e saborear por algum tempo. Deve ser por isso que eles ainda aí andam e os fãs ainda aguardam os seus lançamentos.

Descrição básica já feita, pode-se já dizer que com este “Vulnerable”, manteve-se o mesmo. Bert McCraken e companhia usam e abusam das melodias que entram pelo ouvido dentro sem pedir licença e apoderam-se do local. Tudo enquanto se vão mantendo mais afastados dos seus bem recebidos discos iniciais, à medida que se distanciam mais do som inicial mais agressivo e ainda é a parte mais púbere que aqui salta mais alto.

As principais passagens em que realmente haja ainda uma ligação com os dias iniciais podem ser em temas mais agressivos como “Now That You’re Dead” ou “”Kiss It Goodbye” – que experimenta uma bizarra conclusão meia rap, meia Mike Patton. De resto, não sobra muito mais a fazer a não ser recostar-se e deixá-los atirar as melodias que têm lá preparadas. Afinal de contas, é à volta dessa parte da música que gira a atenção à banda.

Não há risco, não há aventura, não há o impacto que o disco de estreia teve. No entanto, consegue ser um sólido álbum capaz de agradar uma legião de fãs desiludida com o anterior “Artwork”. Mesmo que ainda soe àquilo que os Used conquistaram até então no seu trajecto: a posição de sobrevivência/resistência em que se salvam do afundamento do género-onda por onde eles também navegaram – já parecem ter conseguido a primeira parte, falta resistir. Soa, no entanto, com mais convicção.

As letras, nunca foram o ponto mais forte da banda, logo ainda se fala do mesmo e ainda há-de haver mais jovens que se identifiquem. O que pode sugerir um lugar numa cruz próxima é mesmo a abordagem melódica adolescente com um acenar bem descarado ao Pop enquanto mantém uma espécie de “agressividade meiga” que quer se goste ou não, suscita ao cantar de pulmão cheio num concerto da banda. No entanto, ao contrário de outros actos companheiros no género que se tornam insuportáveis e poluentes, estes ainda estabelecem uma linha até onde devem ir para se conseguir manter aceitáveis. Menos na balada preguiçosa “Getting Over You”, única faixa dispensável do disco. Essa sim não se escapa a soar a uma balada gasta, sem imaginação e com limite de idade de consumo estampado na traseira da caixa.

De resto, são os Used a soar aos Used e para já enquanto não andar cópias espalhadas – nem eles parecem ser a banda mais ideal para se copiar – que se mantenham por quanto mais tempo conseguirem. É um questão de evitá-los para quem não os suportar, tarefa que não é difícil, porque para já, para os que os admiram, ainda têm credibilidade no que fazem e não parecem precisar de ajuda de uma cadeira de rodas para seguir em frente. Entretanto, que se continue a mascar desta pastilha se assim se desejar. Quer se vá cuspindo e variando de vez em quando ou fazer uma dieta exclusiva disto, depende da abertura de cada um para isto…

Avaliação: 6,9