Artista: Meshuggah
Álbum: Koloss
Data de lançamento: 23 Março 2012
Género: Metal experimental, Metal progressivo,
Djent
Editora: Nuclear Blast
Lista de faixas:
1 –
“I Am Colossus”
2
– “The Demon’s Name Is Surveillance”
3
– “Do Not Look Down”
4
– “Behind the Sun”
5
– “The Hurt That Finds You First”
6
– “Marrow”
7
– “Break Those Bones Whose Sinews Gave It Motion”
8
– “Swarm”
9
– “Demiurge”
10
– “The Last Vigil”
Mais de duas décadas depois e depois de muita
inspiração que abria portas a algo muito semelhante à imitação, se é que não se
tratava disso mesmo, os Meshuggah ainda conseguem surpreender os amantes de
música extrema com os seus complexos novos lançamentos que nos recordam porque
é que numa onda recente de bandas que os “imitam”, diga-se assim directamente,
eles ainda conseguem olhar de cima e manter-se singulares.
Mesmo que nos dias actuais o estado boquiaberto
não se consiga puxar com tanta facilidade a partir das doidas composições do
talentoso grupo Sueco, porque já esperamos levar com um enxoval de riffs
técnicos e estruturas de canções que constantemente defecam em qualquer
conceito de “regras” estruturais para se fazer música… Os Meshuggah ainda
conseguem agarrar bem o ouvinte às brutais canções que facilmente o deliciam.
Mesmo que já se conte com o que vem, já esperamos que seja algo de fasquia
elevada, que rompa escalas e que fique na memória como mais uma razão para se
apontar a banda como uma das mais geniais e mais pesadas figuras a originar no
espectro metálico.
O seu som característico origina uma fácil
identificação à primeira audição, ao primeiro toque, ao primeiro arranhar na
grotesca guitarra de oito cordas que mais parece um brinquedo nas mãos destes
cavalheiros. Logo é normal que siga a mesma linha contínua que iniciou em 1995
com o “Destroy Erase Improve”. É quase o mesmo disco que têm vindo a fazer
desde então, parece levar a mesma receita, mas há algo que acrescentam à
essência para fazer cada disco variar – porque as composições insanas ainda não
eram suficientes. E depois de um ainda mais técnico que o que já podíamos imaginar
“obZen” de 2008 que reagiu directamente no estado de humidade das roupas
interiores de quem desfrutou da sua audição, vem “Koloss” que mesmo soando de
modo geral àquilo que queremos e esperamos dos Meshuggah, como sempre traz algo
mais no bico para se diferenciar e para comprovar o natural estado aventureiro
e experimental da banda.
Neste novo disco, os Meshuggah partem numa
exploração mais profunda ao campo do “Groove”. Os riffs soam tão brutais como
sempre mas estes também levam uma boa camada rítmica às costas. Já existia
muita influência de Jazz antes, agora até se sente uma veia mais Rockeira ali
no meio do estimado ruído habitual e por vezes parece que alguém decidiu pegar
em Blues e distorcê-los ao máximo. As canções ainda seguem a estrutura do
costume – “Demiurge”, uma das faixas que mais me cativou tem aquela contínua
alternância e mudança de riffs que já vem desde sempre e que bem se acentuou no
“obZen” – e ao ouvir o disco, o ouvido que tanto treme, ainda reconhece os
mesmos Meshuggah que se tornaram lendas a fazer música que mais nenhum grupo
faz. Mas com uma cara diferente, de novo lavada, como é feito de disco para
disco – e como deve sempre ser feito.
Outro pormenor que se nota para acrescentar e
talvez até para realçar esse mesmo Groove que aqui se sente, é uma estratégica
lentidão que parece resultar ao tornar as canções ainda mais brutais,
originando um efeito assombroso – que já é forte em passagens ambientais e
guitarras atmosféricas que encantam a meio das canções da forma vanguardista
que só os Meshuggah o sabem efectuar, fazendo-o parecer fácil. Ainda existem
temas com uma fúria veloz que dá para abanar o pescoço da forma tradicional –
mesmo que eu acredite que não exista um pescoço humano com a capacidade
matemática que a banda tem para riffar – como "The Demon's Name Is Surveillance" ou "The Hurt That Finds You First" que ainda tem o Diabo na bateria, mas aqui ainda se aborda um outro
nível rítmico mais lento, mais uma nova experiência pescada pelos Suecos para
nos dar que pensar. Mas se não se conseguir acompanhar as canções com um Headbang certo,
que se arranje outra maneira. Que se sinta só, que se deixe isto rebentar com
as colunas, ao vivo depois vê-se.
E com todas estas descrições – que podem ser
confusas, às vezes faço isso – chega-se a uma curiosa e engraçada conclusão. É
bem possível que este “Koloss” seja o álbum mais acessível da fenomenal e
influente discografia dos Meshuggah. Mas atenção que quando digo “acessível”
ainda falo dentro da escala dos Meshuggah. Se mostrarem isto a um ouvinte
casual de música da rádio que não se integre na música pesada, isto ainda é
cacofonia e para a malta doutra onda mais conservadora cujo ouvido nunca se
adaptará a isto, isto ainda lhes soará a algo como despejos de uma indústria
metalúrgica a ser triturados. E se mostrarem isto ao miúdo do Metalcore, ele
vai continuar à espera do refrão açucarado e do breakdown previsível enquanto
pergunta várias vezes se ainda estão a tocar a mesma música ou se já mudaram.
Ou seja, continua tão complexo como sempre, tão Meshuggah como sempre. Mas com
uma abordagem mais acessível dentro da brutalidade em que se integra.
Não será nenhuma surpresa se este disco constar no
final do ano, em variadas listas pessoais e de redacções de melhores discos de
Metal do ano, afinal de contas, anda à volta da habitual perfeição que já se
subentende apenas no nome da banda. E quanto ao polémico género “Djent” –
existe ou não existe, e que eles não consideram que façam parte – a banda, como
seu inventor, provou mais uma vez a todos aqueles que lhes seguem as passadas,
que ainda não há ninguém melhor a ser os Meshuggah que os Meshuggah…
Avaliação: 9,1
Sem comentários:
Enviar um comentário