Artista: Moonspell
Álbum: Alpha Noir / Omega White
Data de lançamento: 27 Abril 2012
Género: Black/Death Metal, Metal gótico, Rock
gótico/dark/ambiente
Editora: Napalm Records
Lista de faixas:
Alpha Noir:
1 – “Axis Mundi”
2 – “Lickanthrope”
3 – “Versus”
4 – “Alpha Noir”
5 – “Em Nome do Medo”
6
– “Opera Carne”
7
– “Love Is Blasphemy”
8
– “Grandstand”
9
– “Sine Missione”
Omega
White:
1
– “Whiteomega”
2
– “White Skies”
3
– “Fireseason”
4
– “New Tears Eve”
5
– “Herodisiac”
6
– “Incantatrix”
7
– “Sacrificial”
8
– “A Greater Darkness”
Um mês depois de o disco ter saído cá para o mundo
e numa altura em que o vocalista Fernando Ribeiro se encontra envolvido numa
polémica às custas de uma mera página de Facebook que parece ter ofendido e
ferido profundamente o seu campo vital privado, eis que decido comentar este
duplo registo. Não é mau timing decidir escrever texto em alturas em que o nome
de Fernando Ribeiro ficou mais associado a devaneios filosóficos e insultos
solutos em discursos semanticamente ricos que mais depressa lhe mancharam a
imagem. Não é mau timing porque essa parte nunca foi a que mais me interessou,
se sei que o Fernando é um indivíduo inteligente chego lá através do seu
talento para escrever boas canções negras e pesadas e não pela quantidade de
palavras longas que utiliza para chamar filho da puta a alguém de uma forma
mais disfarçada e envolta em intelecto. Arrume-se desde já essa parte, porque
não é isso que interessa. Aqui o grosso é o disco em questão.
Vinte anos já lá vão desde que o grupo deu os
primeiros passos daqueles que viriam a ser uns passos bem longos e que não
vinham de curta perna: os Moonspell viriam a liderar a música pesada em
Portugal e encabeçavam uma longa fila de seguidores que os podiam utilizar como
ponto objectivo: alcançar o mesmo sucesso que eles. Um dos nomes mais
internacionalizados ou até o mais pelo menos no que diz respeito ao género de
música em questão. Com este estatuto fica no ar a questão se no culminar destas
duas décadas, a banda fica sob pressão na criação de um novo disco ou se o seu
estatuto alto os deixa em posição confortável. O certo é que os Moonspell não
se deixaram adormecer e sucederam na concepção de um álbum bem focado e sólido,
pegando em vários factores identificativos da marca da banda.
No entanto, apesar da mistura de influências, a
impressão que fica no ar é a de procura de um registo mais pesado, veloz e
violentamente faminto. Sublinha-se principalmente pelo trabalho de guitarras
que aparenta ser a linha condutora de todo o disco: canções mais ferozes, bem
riffadas com alguns exemplos a apresentar toques de Thrash. Completa-se com o
trabalho vocal de Fernando que cospe agressividade a cada verso, balançando
entre uns guturais de Death Metal e uns berros frios mais à la Black, é o
meio-termo que já conhecemos dele. Os sedutores vocais limpos e graves com tons
vampirescos ficaram guardados para o disco secundário “White Omega”. No entanto
até chegarmos lá, o que ouvimos é bem mais violento que o “Night Eternal” e
compila e enverniza as variadas influências e trademarks sonoros da banda ao
longo da sua longa e galardoada carreira.
E já que trouxe o “Night Eternal” à baila, volto a
fazer um paralelismo. É bem possível que não se sinta a mesma sensação épica de
“Night Eternal” e talvez as canções não sejam tão concentradas como nesse
disco. Não só as de “Alpha Noir” soam mais pesadas, mas também parecem seguir
uma fórmula muito mais directa e em vez de procurar a co-relação entre temas
para colidir num álbum propriamente dito, este último registo apresenta canções
mais soltas que funcionam mais independentemente do que num todo. São
facilmente descartáveis. Mas não deixam de ser boas, aliás esse pormenor nem é
obstáculo, até se nota que no meio de todas as faixas não é fácil destacar-se
algumas faixas em concreto, são todas bem trabalhadas e todas conseguem ser bem
captadas para se resguardarem no nosso ouvido.
No entanto, pode-se tentar destacar algo: “Axis
Mundi” é um perfeito início arrebatador com o seu refrão / ante-refrão cuspido
na língua de Camões; “Lickanthrope” enrola-se nuns tons meios Samael-escos para
expor assim um tema representante, evidenciado pela sua escolha como principal
single; o tema-título “Alpha Noir” que despeja um dos mais agressivos riffs com
um peso bem equivalente ao Thrash feio e mau; “Em Nome do Medo” que cantada na
sua totalidade em Português, junta ao factor linguístico um inegável factor
melódico brilhante para constituir uma das canções mais sedutoras no conjunto;
e a instrumental “Sine Missione” que aproveita a sua estrutura instrumental
para escorregar um pouco mais para os lados do “Night Eternal”, pulverizando-se
mais com tons góticos e sinfónicos.
No entanto, a obra não está completa por aí.
Faltava a cobertura. E ficou guardada para um segundo disco, com mais 8 temas,
mais 38 minutos, que funcionam aqui como a obscura calma que se dá depois de
uma tempestade. Muitos dos ingredientes que foram cortados da receita para o
primeiro CD foram resgatados para a confecção deste. Descansa-se um pouco assim
que se baixa um pouco o volume das guitarras. O Fernando deixa de nos berrar
como o lobo esfomeado que encarnava anteriormente e assume a sua personalidade
vocal bipolar quando agora nos sussurra e canta calmamente. Todo o tom da
música altera-se, passando do mais ruidoso e apocalíptico, para o mais gótico,
nocturno e um pouquinho só depravado.
As oito canções que compõem “Omega White”
assentam-se naquela estrutura mais Rock e ao mesmo tempo com tributo a actos do
Metal gótico da veia de Type O Negative, My Dying Bride ou Paradise Lost,
influências inegáveis à música dos Moonspell. E é assente nessa base que voltam
a fazer o mesmo que no outro disco: temas igualmente bons, com trabalho
excepcional em cada um deles, com composições e melodias capazes de dificultar
o destaque de alguma certa e determinada faixa. Tenta-se assim um destaque à
envolvente “A Greater Darkness” que conclui este disco e toda a viagem que é o
álbum na totalidade, visto que é um dos temas que mais me agradou pessoalmente.
É de facto, uma obra completa e certamente competente
no trabalho de completar um ciclo de vinte anos, deixando em aberto outros
vinte se assim der. Mostrou-se bastante capaz no que diz respeito a abordar as
várias fases que passaram ao longo de todos os discos e culminá-la num disco
que com essa mistura, encontra o seu próprio som. Quanto ao estatuto do grupo –
que no meio da polémica que eu quis evitar referir, é mencionado pelo líder
Ribeiro com um certo tom arrogante que não o favoreceu muito – fica variável de
sujeito a sujeito se existem e quantos existirão, casos de actos nacionais que
superem os Moonspell em qualidade. É claro que é debatível e é claro que temos
um espectro metálico nacional bastante abrangente para termos um vasto mar de
escolhas. O único que não se pode negar é a qualidade dos Moonspell e a sua
capacidade de fazer boa música e de a internacionalizar. Pelo menos podemos
dar-nos por satisfeitos, por não estarmos mal representados lá fora…
Avaliação: 8,6