sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mão Morta - Pesadelo em Peluche



Artista: Mão Morta
Álbum: Pesadelo em Peluche
Data de lançamento: 19 Abril 2010
Género: Rock Alternativo, Rock experimental
Editora: Universal Music Group
Lista de faixas:

1 – “Novelos da Paixão”
2 – “Teoria da Conspiração”
3 – “Paisagens Mentais”
4 – “Biblioteca Espectral”
5 – “Tardes de Inverno”
6 – “Como um Vampiro”
7 – “Penitentes Sofredores”
8 – “O Seio Esquerdo de R.P.”
9 – “Fazer de Morto”
10 – “Metalcarne”
11 – “Estância Balnear”
12 – “Tiago Capitão”

Muitas vezes quando se enumeram as grandes – maiores – bandas Portuguesas, mencionam-se sempre os óbvios e deixam-se os Mão Morta de fora. Claro que não é em todos os casos, não é muito dificilmente que se encontra um apreciador que diga que em termos de Rock e música alternativa propriamente dita, os Mão Morta reinam singularmente. Normalmente ao falar-se em actos dos bons e importantes na música nacional como Xutos & Pontapés, GNR, UHF e afins já sabemos que esses grupos têm a sua base musical “standard” e fazem canções reconhecíveis pelo seu estilo. Já esta banda Bracarense, tendo quase tanta experiência como os mencionados anteriormente, difere em todos os sentidos. E não só deles para as outras bandas, dentro do repertório musical deles há muita variação de música para música, de disco para disco. Portanto, falando das maiores bandas únicas e originais? Talvez os Mão Morta liderem à sua vontade. Se muita gente se surpreendeu com o tema Rockeiro meio dançável meio bizarro de “Budapeste (Sempre a Rock ‘N Rollar)”, não muito menos surpreendidos devem ter ficado com uma frenética “Quero Morder-te as Mãos” cantada toda aos berros. Já para não mencionar a capacidade em escrever tamanhas canções de protesto como “Bófia”, longas narrações de contos sádicos como em “O Divino Marquês” ou até explosivos derrames de energia, alguma raiva e quase aleatoriedade de “Oub’lá”. Isto apenas alguns dos exemplos do que a gloriosa carreira dos Mão Morta tem para oferecer. Mas não se ficam por aí, não cruzam os braços a lançar reedições e compilações de êxitos para ganhar mais uns trocos à custa deles e dos concertos que dão. Mantêm-se sempre como uma banda activa, disposta a escrever um novo disco, com cabeça para prosseguir com álbuns conceptuais, para escrever música que tanto pode passar na rádio como pode ser evitado pela mesma. Mas é certo que passando os anos, toda aquela variação de géneros tem tendência a afrouxar e este “Pesadelo em Peluche” lançado em 2010 já abranda um pouco e procura um som mais estandardizado e até mais leve. Mas os factores que identificam a etiqueta “Mão Morta” estão lá. Seja nas melodias dos refrães de “Novelos da Paixão” – que pode facilmente ter rotação diária em qualquer rádio que se importe em passar algo minimamente decente – “Fazer de Morto” ou “Tardes de Inverno”; seja mais uma vez o “storytelling” que bem conhecemos das canções dos Mão Morta com a voz áspera e por vezes sussurrada de Adolfo Luxúria Canibal a narrar-nos histórias pouco ortodoxas mas fantásticas de tão surreais que o são – ou em alguns casos de tão perturbadoras e reais. A esses e outros factores característicos desta banda oriunda de Braga, juntam-se outros pontos no disco que lhe reforçam o poderoso sabor: desde a participação notável e brilhante de Fernando Ribeiro – dos Moonspell – em “Como um Vampiro”, à melancolia obscura ligeiramente orquestrada de “O Seio Esquerdo de R.P.”, passando por uma divertida enumeração de bebidas em “Estância Balnear” e concluindo com uma belíssima obra-prima progressiva, “Tiago Capitão”, uma balada – a contar uma história como é habitual nas músicas dos MM – que se prolonga até aos 8 minutos e cujo refrão “Vamos em frente, olho por olho, dente por dente, ó capitão!”orientado por piano pode muito facilmente levar-nos. É um excelente disco, mas é possível que hajam fãs da banda que acreditem que para o calibre desta banda, o disco seja mais fraco em comparação a anteriores, afirmando a sua antiga passagem nos anos 80 e até meados dos 90 como a sua “era de ouro”, mas isso já se torna habitual em qualquer banda que suba na carreira. Porque em comparação a muitos discos que se editam hoje em dia – e muitos que representam erradamente a música portuguesa nas tabelas de venda – este álbum vale ouro.

Avaliação: 8,1



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