sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"Weird Al" Yankovic - Alpocalypse



Artista: “Weird Al” Yankovic
Álbum: Alpocalypse
Data de lançamento: 21 Junho 2011
Género: Comédia, Paródia, Pop Rock
Editora: Volcano Records
Lista de faixas:

1 – “Perform This Way” (paródia de “Born This Way” de Lady Gaga)
2 – “CNR” (paródia de estilo de The White Stripes)
3 – “TMZ” (paródia de “You Belong with Me” de Taylor Swift)
4 – “Skipper Dan” (paródia de estilo de Weezer)
5 – “Polka Face”
6 – “Craigslist” (paródia de estilo de The Doors)
7 – “Party in the CIA” (paródia de “Party in the USA” de Miley Cyrus)
8 – “Ringtone” (paródia de estilo de Queen)
9 – “Another Tattoo” (paródia de “Nothin’ on You” de B.o.B. e Bruno Mars)
10 – “If That Isn’t Love” (paródia de estilo de Hanson)
11 – “Whatever You Like” (paródia de “Whatever You Like” de T.I.)
12 – “Stop Forwarding That Crap to Me” (paródia de estilo de Jim Steinman)

“Finalmente”, podiam muitos fãs de “Weird Al” Yankovic dizer assim que um novo disco sai, um sucessor do aclamado “Straight Outta Lynwood” de 2006. Já com um pequeno teaser de há 2 Verões atrás, o EP “Internet Leaks” já nos apresentava algum material que confirmava a ideia de que Weird Al ainda se encontra em forma para o que faz e ainda tem a sua mente e o seu sentido de humor bastante apurados para nos puxar algumas risadas. A acrescentar a essas canções – “Whatever You Like” de T.I. numa versão mais… modesta, assim digamos; “Craigslist”, uma canção sobre o site de anúncios ao estilo dos The Doors; “CNR” com as suas piadas sobre Charles Nelson Reilly bem à maneira de uns “Chuck Norris Facts” ao som de música à la White Stripes; “Skipper Dan”, que piscando o olho aos Weezer conta-nos a história de um promissor actor com carreira falhada; Ou “Ringtone” que parodiando o estilo dos Queen fala-nos de um indivíduo com um toque de telemóvel extremamente irritante. 5 canções que o público já conhecia e que foram incluídas neste novo disco humoristicamente intitulado “Alpocalypse” – porque as paranóias do povo em torno de Apocalipses e outras parvoíces também merecem a sua paródia. A juntar a um punhado de canções já aprovadas, juntam-se as paródias dos hits actuais, aquelas que nos fazem esboçar um sorriso por reconhecermos a música e já estarmos tão fartos dela, mas não dá para evitar consolo quando Weird Al retoca a música com letra humorística, satirizando algum ponto na cultura popular ou no próprio artista que interpreta a música original. “Born This Way” de Lady Gaga – a enormíssima popularidade da Lady Gaga não podia passar sem ter pelo menos uma paródia do Sr. Yankovic – e o seu satírico vídeo já é suficiente para nos conquistar, com a sua letra a relatar de forma exagerada as extravagâncias da proclamada por alguns como nova Rainha da Pop. Acrescentam-se outros hits como “You Belong with Me” de Taylor Swift, em “TMZ” a falar dos absurdos dos paparazzi, “Party in the USA” de Miley Cyrus com a sua bizarra história decorrida na CIA ou “Nothin’ on You” de B.o.B. com Bruno Mars – que era quase capaz de me pôr a arrancar as orelhas a cada vez que voltava a dar na rádio ou na TV – retrata um indivíduo viciado em tatuagens – e de repente a música na sua forma parodiada já é muito bem-vinda ao meu ouvido. Só aqui já tínhamos material suficiente para darmos os “polegares para cima” a Weird Al por mais uma vez nos fornecer divertimento e tornar toleráveis alguns dos êxitos actuais que já fartavam ou já não se gostavam inicialmente. Mas ainda existem as músicas originais – normalmente apenas paródias de estilo de algum artista – que apesar de serem das mais subvalorizadas do repertório do comediante, são muitas das vezes das que mais me cativam em termos de letras. “If That Isn’t Love” foi uma das músicas que mais me fez rir e por vezes quase cuspir o que bebia enquanto ouvia, com a sua letra a retratar verdadeiros “actos amorosos” do sujeito, que envolve desde deixar-lhe a água na banheira se ainda estiver quente após o banho para ela usar a seguir, dizer-lhe quando está gorda porque os falsos amigos o negam, ou dizer alguma palavra de encorajamento sempre que a vir a pegar em algum objecto pesado, entre muitas outras coisas. E como diz no refrão, “If that isn’t love/I don’t know what love is”. E sem esquecer “Stop Forwarding That Crap to Me” que pode muito bem servir como hino para todos nós que odiamos receber lixo e spam nas nossas caixas de correio electrónico. E um dos pontos mais altos de sempre nos discos de  Weird Al - as medleys. As suas famosas medleys de vários êxitos recentes transformados em música Polka trazem-nos sempre um sorriso pela sua abordagem diferente de canções que conhecemos bem - Enumero alguns exemplos presentes em "Polka Face", como "Poker Face" da Lady Gaga, "Womanizer" da Britney Spears, "Baby" do Justin Bieber, "So What" da Pink, "I Kissed a Girl" da Katy Perry, "Tik Tok" da Ke$ha, entre muitos outros. Entretenimento de uma ponta à outra, para quem apreciar uma paródia mais “family-friendly” ou para quem já era apreciador de Weird Al Yankovic anteriormente, muitas risadas se dão com este novo álbum, que promete ser mais um marcante e inesquecível da sua carreira. Se não tem momentos que nos agarram imediatamente e nos fazem rir descontroladamente como já aconteceu anteriormente com êxitos como “Smells Like Nirvana”, “Like a Surgeon”, “Eat It”, “Amish Paradise” “White & Nerdy”, entre muitos outros, já não importa muito. “Weird Al” Yankovic ainda é o rei de qualquer tipo de música de comédia/paródia.

Avaliação: 8,3


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

[Clássico do Mês] Uriah Heep - Very 'eavy Very 'umble



Artista: Uriah Heep
Álbum: Very ‘eavy Very ‘umble
Data de lançamento: Junho 1970
Género: Rock progressivo, Hard Rock, Heavy Metal, Rock psicadélico, Metal progressivo, Blues Rock, Protometal
Editora: Vertigo Records, Bronze Records, Mercury Records
Lista de faixas:

1 – “Gypsy”
2 – “Walking in Your Shadow”
3 – “Come Away Melinda”
4 – “Lucy Blues”
5 – “Dreammare”
6 – “Real Turned On”
7 – “I’ll Keep on Trying”
8 – “Wake Up (Set Your Sights)”

Ainda andava o Heavy Metal a dar os primeiros passos. Mas já conseguia andar, já não gatinhava e já havia discos bem sólidos que hoje em dia se podem considerar como sendo discos de Metal, sem tirar nem pôr, e não apenas influências de Heavy Metal, protótipos. O álbum de estreia da lendária banda Britânica Uriah Heep, “Very ‘eavy Very ‘umble” consiste mais ou menos numa linha entre esses 2 conceitos, o protótipo de Heavy Metal e o Heavy Metal propriamente dito. Mas como fosse, naquele tempo era um disco bastante atrevido e ousado e as críticas mais mainstream da altura não tinham muitas mais maneiras de falar ainda pior do álbum. Citando uma crítica vinda da própria Rolling Stone, de uma jornalista Melissa Mills: “Se esta banda conseguir suceder, terei que cometer suicídio. Desde a primeira nota que se sabe que não se quer ouvir mais.” – algo entre estas linhas. Críticas destas a um disco destes hoje em dia soam totalmente descabidas, mas aparentemente nestes tempos alguns dos críticos tinham pânico a artistas que gostavam de pensar um pouco fora da caixa. E assim o faziam os Uriah Heep que com “Very ‘eavy Very ‘umble” se juntaram a outras influentes bandas e ajudaram a estabelecer um género que hoje em dia se mantém como um dos mais complexos e com a legião de fãs das mais dedicadas que existem: O Heavy Metal – e que se incluam depois todos os seus subgéneros. Sem ser propriamente um disco de Rock progressivo, mas sim um bom conjunto de canções de Hard Rock que conseguem realçar bem uma veia progressiva, com uns toques psicadélicos, bem regado de Blues e criar um som característico – mesmo que a banda se tivesse vindo a afastar do som do álbum de estreia, não podem negar este disco como a base de todo o seu trabalho. Autênticas malhas como a pessoal favorita que soa tão intemporal “Dreammare”, ou outros soberbos exemplos como “Walking in Your Shadow”, “Real Turned On”, uma “rocking love song” à antiga ou “I’ll Keep on Trying”. Outras obras-primas onde se note mais a parte progressiva como a genial faixa de abertura “Gypsy” ou a conclusiva “Wake Up (Set Your Sights)”. E sem poder ignorar um destaque a uma música tal como “Come Away Melinda” que com o seu formato acústico de balada e a sua abordagem também a piscar o olho bem descaradamente ao Prog Rock puro e duro, consegue ser dos pontos mais baixos em termos de energia mas dos mais altos quanto ao destaque, importância no disco e genialidade de composição. Apesar da curiosa capa, este não é um disco de ficar esquecido a ganhar teias de aranha, é mesmo daqueles que é feito para continuamente nos dar prazer a cada audição. Também não se pode enganar aqui, não é de facto daqueles discos que se diz que soa muito actual, tão fresco nos dias de hoje como na altura em que foi editado. Não. Este disco é mesmo daqueles que a ouvir-se sente-se bem o quão velhinho é, o Hard Rock que hoje já tem longas barbas brancas, naquela altura era quase uma criança; e quase se sente bem aquele cheiro ao mofo de um disco que já vive há décadas e quase que se sente o pó recentemente sacudido de um gira-discos ali meio arrumado para o canto – mesmo que eu tenha pouca experiência com estes “equipamentos”. Mas consegue ser daqueles que quanto mais velhinho soar, melhor, aquele som antigo dá-lhe certamente um outro valor diferente. E os Uriah Heep são daquelas grandes bandas geniais das mais subvalorizadas que deviam receber agradecimentos de muitos actos pesados/semi-pesados/progressivos de hoje em dia e tendem a ser um pouco esquecidos. Mas desvalorizados é que não são. E temporários muito menos. E quanto ao comentário daquela jornalista… Pergunto-me se ainda será viva ou se cumpriu a sua parva promessa…


terça-feira, 4 de outubro de 2011

Painted Black - Cold Comfort



Artista: Painted Black
Álbum: Cold Comfort
Data de lançamento: 3 Maio 2010
Género: Death/Doom Metal
Editora: Ethereal Sound Works
Lista de faixas:

1 – “Via Dolorosa”
2 – “Shadowbound”
3 – “The End of Tides”
4 – “Absent Heart”
5 – “Cold Comfort (Release)”
6 – “Winter (Storm)”
7 – “The Rain in June (Out of Season)”
8 – “Inevitability”

Falando de música nacional e nas novas apostas que há cá para apresentar, não se pode excluir uma banda tão promissora como os Painted Black. Esta banda oriunda da Covilhã, após os lançamentos de dois atractivos EP’s e de captarem a atenção do público que rapidamente lhes reconheceu o talento – por três anos consecutivos que eram votados como a melhor banda sem contrato pelos leitores da revista LOUD! – eis que lançam em 2010 o seu primeiro disco de originais intitulado “Cold Comfort”. Já nos 2 EP’s anteriores que se sentia uma maturidade e avanço na escrita e composição dos temas, como em “AaBbYyZz” – que ainda aponto como um dos temas pessoalmente favoritos da banda – no primeiro EP “The Neverlight” e a melancólica “Expire” presente no EP “Verbo”. Já com um talento inegável e já carregando alguma experiência na bagagem, quando chega à edição do primeiro longa duração, o que os Painted Black têm a fazer é reforçar aquilo que já mostraram saber fazer, acrescentar-lhes uns toques ainda mais sérios, polir o som apostando em melhor produção e acrescentar-lhes o toque pessoal que lhes dá identidade, enquanto mantém o respeito e referência às suas influências – que se podem sentir como sendo oriundas de uns Katatonia, uns antigos Anathema, My Dying Bride ou até um nome de relevo nacional, os Moonspell. “Cold Comfort” apresenta-se como um poderosíssimo registo de quase uma hora, fornecendo-nos 8 temas que funcionam tão bem como um todo assim como individualmente, sempre com aquele fio condutor que nos permite distinguir o que estamos a ouvir e após nos familiarizarmos, quem estamos a ouvir. Um excelente trabalho de Death/Doom que mantém a sua sonoridade lenta, melancólica com uma atmosfera negra e triste mas que não tem medo de acelerar quando necessário, criando não só um balanço, mas também um excepcional peso que se torna tão agradável para o ouvido fanático do género. Os riffs são brilhantemente compostos por guitarras que “gritam” e tanto na sua forma mais lenta como na mais agressiva e acelerada, são o suficiente para mostrar o quão bem “educados” estão os guitarristas Luís Fazendeiro e Miguel Matos. Para além disso, também temos direito a umas passagens acústicas que apenas contribuem ainda mais para aquela atmosfera que tanto se quer e pede num disco destes. O vocalista Daniel Lucas também desempenha um trabalho digno de vénia, mostrando a sua flexibilidade vocal, através da facilidade com que alterna entre a voz limpa, cantando as lentas melodias que tão facilmente nos seduzem, e a voz gutural a berrar e a grunhir as passagens poderosas que tão facilmente nos despertam. Não é com dúvidas que aponto que Portugal poderia ser uma excelente fonte de bandas de Metal, já com uma longa lista de promissores grupos que ainda nos seus primeiros passos já conseguem dar passos tão longos. E que o nome Painted Black não venha a ficar de fora das enumerações das boas bandas do underground metálico Português.

Avaliação: 9,0



terça-feira, 27 de setembro de 2011

R.E.M. - Collapse Into Now



Artista: R.E.M.
Álbum: Collapse Into Now
Data de lançamento: 7 Março 2011
Género: Rock alternativo
Editora: Warner Bros. Records
Lista de faixas:

1 – “Discoverer”
2 – “All the Best”
3 – “Uberlin”
4 – “Oh My Heart”
5 – “It Happened Today”
6 – “Every Day Is Yours to Win”
7 – “Mine Smell Like Honey”
8 – “Walk It Back”
9 – “Alligator_ Aviator_Autopilot_Antimatter”
10 – “That Someone Is You”
11 – “Me, Marlon Brando, Marlon Brando and I”
12 – “Blue”

É com muita pena que escrevo este artigo já depois da banda de Michael Stipe, Peter Buck e Mike Mills ter anunciado o seu fim após uma mítica e lendária carreira de 31 anos. Adiando várias vezes a audição deste disco – os motivos saltavam entre questões de tempo e questões de preguiça – apenas o ouvi agora, quando já estava ciente de que este era o último álbum da banda. Mas não é com ouvidos diferentes que se ouve um álbum que se sabe que seja o último, principalmente no caso dos R.E.M. que já não têm nada a provar. Só o nome deles, três simples letras já carrega um legado que muitas bandas desejariam ter e não tantas o conseguem, repleto de excelentes canções, hits intemporais, influência e aquele tom que faz com que praticamente toda a gente goste pelo menos um pouquinho ou pelo menos de algumas músicas da banda. Não haveria qualquer pressão sobre os R.E.M. para a realização de um disco final, e de qualquer das maneiras, banda que saiba bem o que faz são eles. Ainda para mais, depois de um excelente “Accelerate” de 2008, que resgata uma sonoridade mais rockeira, mais “agressiva” que de certa forma não só contrasta outros trabalhos anteriores como também os completa. Este “Collapse Into Now” prossegue do ponto onde ficou “Accelerate” mas indo buscar mais influências ao repertório calmo dos R.E.M. para fazer um trabalho mais global. O resultado é um disco que perfeitamente pode representar o estilo/género/nome/legado R.E.M. Melodias perfeitamente compostas pelo trio, com a voz única e inigualável de Michael Stipe a sobressair-se. As letras parecem lidar com factores etários, como o crescente afastamento da juventude dos membros do grupo, completos com passagens que questionam os miúdos de hoje em dia – que são, com certeza, muito diferentes dos miúdos dos tempos em que andavam a editar o “Murmur” ou até mesmo o “Out of Time” ou o “Automatic for the People”, para citar alguns exemplos de álbuns lendários da espectacular carreira da banda. As canções são daquelas que já conhecemos que carregam o selo identificativo “R.E.M.” mas das quais não nos fartamos por serem tão características e ao mesmo tempo tão moldáveis. Exemplifico com “Discoverer” que como primeira faixa do disco já é suficiente para nos abrir o apetite e deixar-nos motivados para o que se segue, “Walk It Back” que com o seu “slow tempo” pode-nos fazer lembrar uma “E-Bow the Letter”, a faixa que a segue que pode imediatamente mudar os ares e a disposição do disco, ao apresentar-se como sendo mais enérgica “Alligator_Aviator_Autopilot_Antimatter” que pede emprestada alguma essência do “Accelerate”, uma curtíssima mas semelhante em energia “That Someone Is You” e a final abordada meia em “spoken word” que ainda nos lembra mais o clássico “E-Bow the Letter” por repetir a participação de Patti Smith. É assim que se faz um disco de uma banda que já tem a sua base de fãs mais que conquistada, já tem o seu nome pela parada das maiores bandas de Rock de sempre, das mais influentes e construiu uma carreira de invejar. Da minha (nossa) parte, o único que se pode dizer é… Obrigado por tudo o que nos deixaram, R.E.M…

Avaliação: 8,8



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Katra - Out of the Ashes



Artista: Katra
Álbum: Out of the Ashes
Data de lançamento: 26 Outubro 2010
Género: Metal sinfónico, Metal gótico
Editora: Nuclear Blast, Napalm Records
Lista de faixas:

1 – “Delirium”
2 – “One Wish Away”
3 – “If There’s No Tomorrow”
4 – “Vendetta”
5 – “Out of the Ashes”
6 – “Envy”
7 – “Mirror”
8 – “Anthem”
9 – “The End of the Scene”
10 – “Hide and Seek”

Não há necessidade de introduzir este artigo explicando no que consiste o género de música e enumerando exemplos de principais bandas que lá se encontram. Já todos conhecemos bem a base e essência do Metal sinfónico orientado pelos vocais femininos. Esta banda oriunda da Finlândia, Katra é mais um bom exemplo. Centram a imagem da banda na belíssima vocalista Katra Solopuro – que dá o seu nome à banda – e a própria música também se encontra bastante orientada pela sua voz. Depois de um relativamente bem recebido “Beast Within”, o grupo Finlandês não se quis repetir e procurou evitar uniformizar-se quanto à sua abordagem do estilo, portanto na transição para o novo “Out of the Ashes”, largaram-se alguns pormenores e procuraram-se utilizar outros. Por exemplo, a utilização da influência de música étnica já não surge aqui como factor de destaque. A atmosfera obscura do anterior também já não soa igual e parecem haver aqui temas mais influenciados por Pop e Rock através de melodias bastante pegajosas. O disco parece ser mais orientado por guitarra e a jovem Katra já experimenta utilizar outros tons vocais, procurando por vezes tons mais agudos. Portanto, para uma banda que escolhe tocar um determinado estilo que já tem poucas voltas a dar e que também já tem a sua lista de clichés, os Katra pelo menos não se deixam estagnar, e vão procurando mudanças, mesmo que mínimas – não davam para ser mudanças bruscas também. Tudo em favor do crescimento musical e a banda demonstra-se bastante competente na composição do disco. O seguidor de “Beast Within” encontra-se recheado de bons temas, alguns com um toquezinho épico e melodias belíssimas com refrães que se mostram como autênticas obras catchy – aqui posso destacar faixas como a introdutória “Delirium”, o single promocional “One Wish Away”, “If There’s No Tomorrow”, o tema de som épico e letra tenebrosa “Anthem” ou a conclusiva "Hide and Seek”. Mesmo com faixas a destacar-se mais do que outras, é um álbum que pode perfeitamente funcionar bem como um todo. E se o objectivo do grupo era solidificar-se como banda credível, criando uma obra sucessora a outra diferente mas na mesma ligada a ela, bem que o conseguiram e é bem possível que com mais alguns anos, o nome Katra seja mais soante no género e talvez já sejam enumerados juntamente com todas aquelas bandas que eu poderia ter dito no início do artigo mas que não achei necessário. E para quem for fã deste estilo de música e gostar de uma banda que seja liderada por uma cara bonita mas que não seja só isso e também esteja bem recheada de talento, – curiosamente, acho sempre muito mais beleza e talento num pack inteiro por aqui por estas bandas, do que na música pop propositadamente orientada pelo factor visual atractivo – é um disco suficiente ou talvez um pouco mais.

Avaliação: 7,6



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Mão Morta - Pesadelo em Peluche



Artista: Mão Morta
Álbum: Pesadelo em Peluche
Data de lançamento: 19 Abril 2010
Género: Rock Alternativo, Rock experimental
Editora: Universal Music Group
Lista de faixas:

1 – “Novelos da Paixão”
2 – “Teoria da Conspiração”
3 – “Paisagens Mentais”
4 – “Biblioteca Espectral”
5 – “Tardes de Inverno”
6 – “Como um Vampiro”
7 – “Penitentes Sofredores”
8 – “O Seio Esquerdo de R.P.”
9 – “Fazer de Morto”
10 – “Metalcarne”
11 – “Estância Balnear”
12 – “Tiago Capitão”

Muitas vezes quando se enumeram as grandes – maiores – bandas Portuguesas, mencionam-se sempre os óbvios e deixam-se os Mão Morta de fora. Claro que não é em todos os casos, não é muito dificilmente que se encontra um apreciador que diga que em termos de Rock e música alternativa propriamente dita, os Mão Morta reinam singularmente. Normalmente ao falar-se em actos dos bons e importantes na música nacional como Xutos & Pontapés, GNR, UHF e afins já sabemos que esses grupos têm a sua base musical “standard” e fazem canções reconhecíveis pelo seu estilo. Já esta banda Bracarense, tendo quase tanta experiência como os mencionados anteriormente, difere em todos os sentidos. E não só deles para as outras bandas, dentro do repertório musical deles há muita variação de música para música, de disco para disco. Portanto, falando das maiores bandas únicas e originais? Talvez os Mão Morta liderem à sua vontade. Se muita gente se surpreendeu com o tema Rockeiro meio dançável meio bizarro de “Budapeste (Sempre a Rock ‘N Rollar)”, não muito menos surpreendidos devem ter ficado com uma frenética “Quero Morder-te as Mãos” cantada toda aos berros. Já para não mencionar a capacidade em escrever tamanhas canções de protesto como “Bófia”, longas narrações de contos sádicos como em “O Divino Marquês” ou até explosivos derrames de energia, alguma raiva e quase aleatoriedade de “Oub’lá”. Isto apenas alguns dos exemplos do que a gloriosa carreira dos Mão Morta tem para oferecer. Mas não se ficam por aí, não cruzam os braços a lançar reedições e compilações de êxitos para ganhar mais uns trocos à custa deles e dos concertos que dão. Mantêm-se sempre como uma banda activa, disposta a escrever um novo disco, com cabeça para prosseguir com álbuns conceptuais, para escrever música que tanto pode passar na rádio como pode ser evitado pela mesma. Mas é certo que passando os anos, toda aquela variação de géneros tem tendência a afrouxar e este “Pesadelo em Peluche” lançado em 2010 já abranda um pouco e procura um som mais estandardizado e até mais leve. Mas os factores que identificam a etiqueta “Mão Morta” estão lá. Seja nas melodias dos refrães de “Novelos da Paixão” – que pode facilmente ter rotação diária em qualquer rádio que se importe em passar algo minimamente decente – “Fazer de Morto” ou “Tardes de Inverno”; seja mais uma vez o “storytelling” que bem conhecemos das canções dos Mão Morta com a voz áspera e por vezes sussurrada de Adolfo Luxúria Canibal a narrar-nos histórias pouco ortodoxas mas fantásticas de tão surreais que o são – ou em alguns casos de tão perturbadoras e reais. A esses e outros factores característicos desta banda oriunda de Braga, juntam-se outros pontos no disco que lhe reforçam o poderoso sabor: desde a participação notável e brilhante de Fernando Ribeiro – dos Moonspell – em “Como um Vampiro”, à melancolia obscura ligeiramente orquestrada de “O Seio Esquerdo de R.P.”, passando por uma divertida enumeração de bebidas em “Estância Balnear” e concluindo com uma belíssima obra-prima progressiva, “Tiago Capitão”, uma balada – a contar uma história como é habitual nas músicas dos MM – que se prolonga até aos 8 minutos e cujo refrão “Vamos em frente, olho por olho, dente por dente, ó capitão!”orientado por piano pode muito facilmente levar-nos. É um excelente disco, mas é possível que hajam fãs da banda que acreditem que para o calibre desta banda, o disco seja mais fraco em comparação a anteriores, afirmando a sua antiga passagem nos anos 80 e até meados dos 90 como a sua “era de ouro”, mas isso já se torna habitual em qualquer banda que suba na carreira. Porque em comparação a muitos discos que se editam hoje em dia – e muitos que representam erradamente a música portuguesa nas tabelas de venda – este álbum vale ouro.

Avaliação: 8,1



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Dream of Poe - The Mirror of Deliverance



Artista: A Dream of Poe
Álbum: The Mirror of Deliverance
Data de lançamento: 25 Fevereiro 2011
Género: Death/Doom Metal, Metal gótico, Metal progressivo
Editora: ARX Productions
Lista de faixas:

1 – “Neophyte”
2 – “Os Vultos”
3 – “Lady of Shalott”
4 – “Liber XLIX”
5 – “The Lost King of the Lyre”
6 – “Chrysopoeia”

Começo logo por dizer que quem diz que cá em Portugal existe pouca boa música, simplesmente não procura. É claro que no caso de se basearem nos tops de vendas, há pouca fruta fresca para escolher, mas uma pesquisa mais profunda é capaz de dar em surpresas bastante agradáveis – e não estou a dizer que não haja boa música nos mais vendidos, é apenas ofuscado por outras coisas. O que vale é que a comunidade de Metal é uma das que mais dá valor ao trabalho nacional, não só porque já estão habituados a aprofundar a procura da música para além de tabelas de vendas – ou exclusivamente fora dessas tabelas – e porque o Metal em si é muito universal, acaba por ter todo o mundo unido e qualquer país pode ser uma boa fonte de música pesada. Esta introdução serviu apenas para apresentar esta banda de Doom Metal, notoriamente influenciada por My Dying Bride, oriunda dos Açores, cujo disco de longa duração de estreia “The Mirror of Deliverance” mostra-se um trabalho bastante interessante e competente, a fazer valer a pena depositar tempo nele. A Dream of Poe é o nome do projecto que fica inteiramente ao cargo do músico Bruno “Spell” Santos, que já tem alguma experiência com outros projectos do mesmo género. É um disco que não pretende propriamente abrir uma nova porta no que toca à música Doom, mas é um trabalho bastante maduro para um projecto a solo formado por volta de 2005. As influências de actos influentes e essenciais da música Doom internacional como os My Dying Bride são, como já afirmei, evidentes, mas é dentro dessa influência que o projecto Açoriano procura construir a sua própria identidade. Os riffs lentos mas pesados e a chorar melancolia são competentes, os vocais limpos suaves dando o tom assombroso bem acompanhados de outros guturais que dão ainda mais força a um ambiente já obscuro estão muito bem administrados. São 6 longas canções com tudo no sítio, com todos os factores bem aplicados e toda a essência do género bem espremida. Uma aposta mais diferente mas igualmente bem conseguida é a faixa “Os Vultos”, na qual predomina exclusivamente a língua portuguesa. E resulta bem, os versos em português encaixam perfeitamente no género e os vocais guturais na nossa língua mãe só mostra que se pode grunhir em qualquer língua – já haviam casos disto por parte de outros actos como os Morbid Death em “Silêncio Profundo” do “Echoes of Solitude”, ou dos Bizarra Locomotiva que também nos vão apresentando vocais menos “simpáticos” na língua de Camões, e com certeza que inúmeros mais exemplos existem. E para finalizar a minha vaga descrição que, de maneira nenhuma substitui uma boa audição atenta, menciono as melodias que mesmo estando bem carregadas de melancolia, sabem bem como penetrar o ouvido e ficar lá entranhadas, fazendo canções simplesmente belas. Portanto lá está, mesmo que não seja algo exclusivo no género, é algo que está tão bem conseguido, tão bem feito que não há como negar o valor e qualidade que existe na obra-prima destes A Dream of Poe – que por hábito ainda os trato pelo plural, mesmo sendo um projecto de um só. Vale a pena acrescentar à colecção e ouvir várias vezes. Vale também a pena ter orgulho no trabalho nacional, quando é assim.

Avaliação: 8,6