terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Lamb of God - Resolution



Artista: Lamb of God
Álbum: Resolution
Data de lançamento: 24 Janeiro 2012
Género: Groove Metal, Metalcore
Editora: Epic Records, Roadrunner Records
Lista de faixas:

1 – “Straight for the Sun”
2 – “Desolation”
3 – “Ghost Walking”
4 – “Guilty”
5 – “The Undertow”
6 – “The Number Six”
7 – “Barbarosa”
8 – “Invictus”
9 – “Cheated”
10 – “Insurrection”
11 – “Terminally Unique”
12 – “To the End”
13 – “Visitation”
14 – “King Me”

Os Lamb of God fazem parte de uma onda de bandas Americanas que atingiu sucesso na primeira metade da década anterior e conseguiram levantar a orelha a muitos dos ouvintes mais novos da música pesada. Partindo do Metalcore e desenvolvendo o seu próprio som pessoal mais Groove, hoje em dia associámos rapidamente os Lamb of God ao seu som característico. Assim, ao sétimo álbum “Resolution”, a tarefa dos Lamb of God é provavelmente manter-se iguais a si mesmos, enquanto o souberem fazer.

É aí que reside a divisão de opiniões no que toca a cada disco novo da banda: uns acham que o grupo assim se mantém porque assim deve e não faz sentido mudar nada, o que se quer é uma data de malhas e que dê para se pôr bem alto. Outros encontram aqui uma hora de aborrecimento e redundância.

Depende também muito da demografia à qual se intenciona projectar, pois afinal o que existe neste álbum são temas como os Lamb of God bem sabem fazer e nos habituaram a fazer. Não é caso para dizer que a banda está cada vez melhor, porque isso é difícil. O mais considerável é reconhecer os primeiros três ou quatro discos da banda como o pique da popularidade e da originalidade da música da banda e desde então para a frente, a banda apenas tinha que manter o seu estatuto sem cair num desagradável esquecimento.

Querem malhas simples e brutais? Aqui neste disco encontram do mais simples e brutal em faixas como “Desolation”, “Cheated” ou “Visitation” que funcionam como a desculpa mais-que-perfeita para se saltar para o meio da moshpit. A principal exigência é um bom riff cheio de Groove? “Ghost Walking” está lá bem para isso e “To the End” parece rebentar da semente de um estudo de uns quantos capítulos do manual de instruções de Dimebag – já é habitual o som dos LoG soar a sucessor de Pantera em qual quer que seja o trono em que eles estivessem. Se um requisito notório também for umas quantas melodias que se balancem bem entre o brutal e o orelhudo, destaco “The Number Six” para esse propósito.

No entanto, no meio de todo o material de hábito que resulta de um conhecimento integral dos fãs por parte da banda – eles não devem pedir muito mais que o já mencionado acima – tem que haver sempre alguns factores que mostrem que a banda sabe como se mobilizar em vez de se alapar confortavelmente no mesmo sítio. A faixa de abertura “Straight for the Sun” apresenta-nos um interessante riff com tons de sludge que abre interesse para o resto do disco, a experiência mais limpa de “Insurrection” e o principal destaque de todo o registo: “King Me” que com as suas partes narradas, arranjos orquestrais e voz feminina no background torna-se a canção mais interessante de todo o álbum e muito provavelmente se pode considerar – no meio de muitas malhas antigas – uma das melhores músicas e mais épicas de toda a carreira dos Lamb of God.

De modo geral, é um disco que caminha sempre rente ao habitual e esperado da banda sem dar grandes passos na direcção do risco e vai apenas procurando a maturidade naquele som que já sabem fazer, que lhes é característico e que podem reclamar como sendo seu. Portanto vai passar ao lado de alguns dos ouvintes com menos devoção, porque acaba por soar a um “Wrath, Part II” se não for ouvido com os ouvidos de fã mais erguidos. No entanto, é como já afirmei, o grupo já caminha para o território de veteranos e hoje em dia já não estão na fase de se tornarem ainda melhores. O disco cumpre o seu objectivo de fazer com que a banda se mantenha, mas não que se exceda ou supere.

Avaliação: 7,6


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Lacuna Coil - Dark Adrenaline



Artista: Lacuna Coil
Álbum: Dark Adrenaline
Data de lançamento: 23 Janeiro 2012
Género: Metal gótico, Metal alternativo
Editora: Century Media
Lista de faixas:

1 – “Trip the Darkness”
2 – “Against You”
3 – “Kill the Light”
4 – “Give Me Something More”
5 – “Upsidedown”
6 – “End of Time”
7 – “I Don’t Believe in Tomorrow”
8 – “Intoxicated”
9 – “The Army Inside”
10 – “Losing My Religion”
11 – “Fire”
12 – “My Spirit”

“Dark Adrenaline” é já o sexto álbum de originais dos Italianos Lacuna Coil e longe já vão os tempos de “Comalies” e ainda muito mais de “In a Reverie”. E quando se diz que já vai longe não significa apenas que se passaram muitos anos, as mudanças e evoluções sonoras já tomaram bastante conta da banda e hoje em dia já constam em mais tabelas de venda, com ajuda do seu actual som.

No entanto, nem sempre se pode levar uma banda à cruz por arriscar na sonoridade mais comercial, não significa que vá sempre sair de lá algo completamente descabido. E se realmente houve muitas desilusões com o anterior “Shallow Life” não há porque não perdoar e não tentar dar uma oportunidade a este “Dark Adrenaline”. Afinal de contas este parece manter uma linha mais saudável entre o “Pop Rock pesado” que agrade às massas jovens e o mais pesado e obscuro. Até pode ser um dos discos mais completos da banda.

Não há como negar que existe nestes temas uma procura de airplay e que vá sempre reinando aquele bichinho do negócio que proporcione a criação de umas melodias pegajosas para resultar em mais vendas. Mas não é por isso que deixa de haver aqui bastante “feeling” no que se faz. As melodias e refrães de se instalar e criar casulo no nosso ouvido estão aqui bem presentes em temas como o pegadiço single “Trip the Darkness”, “Against You”, “Give Me Something More”, “I Don’t Believe in Tomorrow” e que se dane a enumeração, praticamente no álbum todo.

Algo que tem sempre que estar bem destacado e no topo das preferências é o trabalho vocal de Cristina Scabbia que carrega talento vocal para acompanhar toda a beleza que já nos demonstra de imediato – e que também deve servir de factor para conseguir vender mais uns disquitos. Mesmo que alguns não apreciem tanto a parte vocal de Andrea Ferro, é certo que está lá bem administrada com a de Scabbia e ajuda a dar-lhes o toque pessoal – e mínimo dos mínimos, pelo menos ainda há-de servir para fazer Scabbia soar ainda melhor em comparação. Voz feminina ainda em muito boa forma e destaco o trabalho vocal de”Intoxicated” que deveras me encantou.

Mais pormenores com carga positiva serão a composição mais badalesca de “End of Time” cuja acessibilidade não a torna insípida, até pelo contrário. E para quem aprecie um clássico intemporal bem homenageado – e não violentamente assassinado – num tom mais pesado, os Lacuna Coil já nos habituaram a alguns e neste disco presenteiam-nos com “Losing My Religion” dos R.E.M. Admito que já fiz muitos cabelos ser arrancados cá por casa com a versão menos simpática da mesma canção, pelos Graveworm. Creio que com esta, mais polida, bem composta e decentemente personalizada com bom resultado, já tenho aqui algo que agrade mais a todos.

Reside no entanto, na agressividade acrescida deste registo em relação ao anterior “Shallow Life”, algo que pode entrar por vias de franzir sobrancelhas e testas. Existem por vezes, algumas brisas que parecem acenar ao Nu Metal em temas como “Upsidedown”, “I Don’t Believe in Tomorrow” ou “Fire”. Mas não parece ser factor de “polegar para baixo” pois afinal de contas, é um caso em que tanto pode fazer torcer o nariz a uns como ser a parte predilecta de tantos outros.

No geral é um álbum bem mais sólido, mais pesado e mais bem conseguido que o pobremente recebido “Shallow Life” que o precedeu. Já não é surpresa que isto tenha constado nas mais galardoadas tabelas de vendas e até quebrado alguns recordes da banda, dentro das mesmas. E continua a ser um disco aceitável para emprestar aos miúdos e miúdas que estejam em fase de iniciação na música pesada antes de se adaptarem a outras coisas menos “bonitas”. Mas inserindo este no actual contexto de Lacuna Coil – não se pode analisar os discos mais recentes usando os antigos como critério – a banda ainda é bastante competente naquilo que realiza e o que não lhe falta é identidade. Até se pode dizer que neste disco haja suficiente para agradar a tanto alguns dos fãs mais antiguinhos como a alguns dos recentemente introduzidos à sonoridade mais Americanizada. E novos ainda haverão de vir!

Avaliação: 7,9

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Aborted - Global Flatline



Artista: Aborted
Álbum: Global Flatline
Data de lançamento: 20 Janeiro 2012
Género: Deathgrind, Brutal Death Metal
Editora: Century Media Records
Lista de faixas:

1 – “Omega Mortis”
2 – “Global Flatline”
3 – “The Origin of Disease”
4 – “Coronary Reconstruction”
5 – “Fecal Forgery”
6 – “Of Scabs and Boils”
7 – “Vermicular, Obscene, Obese”
8 – “Expurgation Euphoria”
9 – “From a Tepid Whiff”
10 – “The Kallinger Theory”
11 – “Our Father, Who Art of Feces“
12 – “Grime”
13 – “Endstille”

Após um teasing em 2012 com o EP “Coronary Reconstruction” eis que chega o sétimo álbum de originais dos Aborted, intitulado “Global Flatline”. Para quem não estiver ainda familiarizado com a banda, tem muita informação acerca do som da banda já no seu nome. Uma banda com o nome “Aborted” não pode tocar música muito de “algodão doce” e o mais certo é que ande pelas praias do Brutal Death ou do Grindcore.

A cada disco que a banda lança, cada vez mais se estabilizam em sonoridade. Mas essa estabilidade é que pode andar a cambalear entre as boas e as más razões. É uma banda muito talentosa no que faz, já pavimentou o seu nome no cenário brutal e cada disco que lança é cada disco que um fã da banda junta à colecção após arruinar o pescoço a ouvi-lo com gosto. Não estão cá para desiludir. Outra coisa também é o facto de quase se aproximarem do tão gasto e contado Deathcore, mas só um cheirinho, contornando e superando a sua fácil fórmula e voltando a assentar-se no género mais “Grind”.

O trabalho vocal de Sven de Calowé é imediatamente reconhecível e o seu vocal gutural já tem um cargo identificativo na música dos Belgas. O som da banda também é, sem tirar nem pôr, aquilo que um fã desta música brutal pede: canções directas e ruidosas com temas violentos, abordados de forma tão pútrida que depois de o ouvirmos, não só temos o pescoço cansado, como também temos a sensação de ficar cobertos de vómito, sangue e tripas. Para os que estão fora do estilo… Essa descrição não é tão má como parece.

O único que pode ser o pecado dos Aborted é o factor da relevância. A banda já é veterana e não anda nisto há 3 dias, mas parece não haver muito para evoluir e ultrapassar outras bandas que surgem no espectro. Vale a pena ouvir qualquer álbum do grupo, mas que mais se encontrará por aqui que vá para além do que outras bandas façam? – aqui em Portugal temos os Grog a fazer algo do estilo de maneira que dá gosto. Não me levem a mal, também dá gosto ouvir os Aborted, mas se juntarmos o CD a um monte de outros de outras bandas que toquem o género – algumas novas – não parece haver nada muito distinto.

Uma faixa que se possa destacar é “Expurgation Euphoria” cuja abordagem mais lenta que segue uma arrepiante introdução de piano, pode acrescentar uma sonoridade mais sinistra a toda a brutalidade que a banda faz.

Mais uma vez acrescento que o álbum está muito bom no que diz respeito aos critérios que constituem um disco dos Aborted, a enumeração de mínimos defeitos são apenas reflexo de um ponto de vista crítico que procura trabalhos inovadores ou pelo menos infalíveis na sua repetição. Porque dando este CD a um fã do género e dos Aborted – cujo nome já é grande suficiente para que ao ser-se fã do estilo já se tenha uns CD’s deles em memória – é de ficar a salivar por mais podridão e ruído, que certamente que agradece pelo agradável enxerto de porrada que estes temas figurativamente dão.

Avaliação: 7,3 


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

[Clássico do Mês] The Beatles - Please Please Me



Artista: The Beatles
Álbum: Please Please Me
Data de lançamento: 22 Março 1963
Género: Rock and Roll
Editora: Parlophone
Lista de faixas:

1 – “I Saw Her Standing There”
2 – “Misery”
3 – “Anna (Go to Him)
4 – “Chains”
5 – “Boys”
6 – “Ask Me Why”
7 – “Please Please Me”
8 – “Love Me Do”
9 – “P.S. I Love You”
10 – “Baby It’s You”
11 – “Do You Want to Know a Secret”
12 – “A Taste of Honey”
13 – “There’s a Place”
14 – “Twist and Shout”

Sabem aqueles joguinhos do “amigo secreto” ou lá o que é, em que se mandam cartas e/ou prendas a um amigo em anonimato? Também já tive que fazer um na escola e até nem lhe achava muita piada. Lá andei eu a mandar cartas anónimas a quem me calhou e depois no final da brincadeira, comprar uma prenda suficientemente boa para aguentar pelo menos o resto da manhã sem ir parar ao lixo.

A brincadeira era engraçada, mas nunca cheguei a ter assim tanto gosto naquilo. Foi no dia final do joguinho em que se revelavam as identidades e se davam as prendas e no meio de prendinhas modestas, doces, e outras coisas mais jocosas alguém tinha tido a ideia de levar um vinil do “Please Please Me” dos Beatles. E não é que aquela relíquia com tão agradável cheiro a velho e com um aspecto gasto que só o tornava mais belo era para mim. De repente aquela brincadeira da qual eu não era assim grande fanático, fez com que valesse a pena escrever cartas para outra pessoa com letra incógnita e às vezes até, ilegível.

O disco aparentemente tinha sido retirado da colecção pessoal do pai à socapa. Ou seja, estou sujeito a um dia destes ter o homem à minha porta a fazer-me uma espera. Isso não se faz. O que também não se faz é dar a um gajo como eu uma prenda num jogo que se baseava em ninharias, tal presente que seria o equivalente a dar-me uma fortuna gorda em dinheiro – e não me refiro propriamente ao valor que isto pudesse ter se eu o vendesse que tal ideia eu não ponderaria sequer.

Agora graças a esse momento de confraternidade entre uma turma muito conflituosa – mas que no fundo todos se adoram – tenho guardada e estimada uma cópia em vinil do “Please Please Me”, álbum de estreia de uma das mais míticas bandas a alguma vez existir, os Beatles. Foi de um joguinho que saiu a colecção de hits simples mas intemporais como “Love Me Do”, “Please Please Me”, “P.S. I Love You” ou “Twist and Shout” que hoje orgulhosamente junto à minha modesta colecção – muito modesta mesmo, isto de viver na era digital e de não ter grande dinheiro dá nisto.

Quanto ao álbum em si há pouco a dizer, mas também se dispensa qualquer apresentação. É verdade que ainda não tinha iniciado a fase mais genial dos Beatles, e ainda faltava para o estrondo psicadélico de “Revolver”, o experimentalismo de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, a variedade de um “White Album” ou a seriedade e maturidade de “Abbey Road” mas foi aqui que se começou tudo.

As canções são todas muito curtas e directas e nenhuma delas chega aos 3 minutos, com algumas delas não chegando sequer aos 2, mas são do tipo de canções que definiram o conceito que conhecemos de hit, as melodias facilmente ficam agarradas ao ouvido, mantêm todas um “feeling” bastante alegre e causam o bater de pé involuntário enquanto se ouve a música fácil de ouvir, de gostar e que qualquer um consegue apreciar.

Foi com isto que se criou praticamente o conceito de banda que conhecemos hoje, com o colectivo a escrever os temas e a interpretá-los – previamente o que predominava era o tipo de bandas de líder e banda de suporte – e é feito de tal forma que sobrevive a qualquer moda, a qualquer época e define o que é a música intemporal. Tanto se ouviu isto na altura e se ficou agradado como pode ser ouvido a qualquer altura e a sua influência é inegável: dali em diante, muitos mais fizeram disto e seguiram este conceito, mas na altura não era do mais comum.

Como já disse antes, não é o álbum mais complexo da banda, até pelo contrário deve ser o menos. Não foi inovador como os outros e a sua inovação baseou-se noutros factores de simplicidade e são as várias imperfeições que o tornam perfeito. E o principal de tudo, foi aqui que começou uma lenda sobrevivente de infinitas gerações. E mais uma vez agradeço a quem me ofereceu este tesouro.


["Ai Louvado..." do Mês] Hypnotica - La Rebelión del Ser



Artista: Hypnotica
Álbum: La Rebelión del Ser
Data de lançamento: Agosto 2010
Género: Power Metal (?)
Editora: Self release
Lista de faixas:

1 – “Intro / Mantram”
2 – “El Gran Arcano”
3 – “Ecos de Furia”
4 – “Guerrero de la Libertad”
5 – “Estrella de la Nada”
6 – “Verdad”
7 – “Séptimo Hecatombe”
8 – “El Juicio de la Conciencia”
9 – “Almas en Fuego”

Power Metal, dizem eles. Encontrei esta relíquia de forma bastante caricata. Num momento de entretenimento pessoal lá andei eu a vaguear por listas de álbuns para me divertir. Um dos meus temas favoritos é sempre “Worst Ever” e encontrei-me com uma lista bastante subjectiva acerca do que o autor achava que eram os piores álbuns de Metal de sempre. Uma grande parte era dedicada a bandas de Folk Metal que nem lhes via grande mal, o habitual “bashing” ao Nu Metal e a discografia inteira dos Krokus – estes até se percebe. Todos os discos tinham um pequeno texto que justificava o porquê do autor do texto crer que cada disco constasse entre os piores. Deparo-me com este “La Rebelión del Ser” de uns tais Hypnotica que nem tinha qualquer comentário.

Isso aumentou-me a curiosidade e tive que pesquisar acerca da banda. Descobri que são Colombianos que apenas têm este disco – é praticamente uma Demo – e começaram há pouco tempo. Então está errado, ainda agora começaram, totalmente amadores e já se vai cair encima deles? Tinha que ouvir para saber a razão. Primeiro li algumas críticas e comentários ao álbum e variava entre “lixo” e “pura comédia”. Cada vez mais curioso para ouvir estava e finalmente aconteceu. Assim que carrego no botão “Play” no player do MySpace da banda, sou bombardeado com tamanha desafinação que até um coro de infantário deve impressionar.

Primeiro, eles dizem ser Power Metal e pelo que se ouve aqui é que a tentativa é de fazer aquele Power Metal épico que quando está bem feito já roça na lamechice muitas das vezes. No entanto para se fazer isso, na voz requer-se uma voz bastante ampla que consiga atingir uns valentes agudos. Ou seja, é preciso saber cantar. Os teclados dão-lhe outro toque e esses também têm que se saber tocar. O estilo também é muito característico pelo trabalho de guitarra, tanto dos riffs como dos solos, mas para isso não se pode soar a alguém que está a treinar para o teste final em aulas de guitarra que começou há menos de um semestre. No entanto, fizeram nove canções e longuíssimas canções com esses “skills”.

As letras nem as percebo ao serem cuspidas em tamanho choro, mas talvez com uma análise a esse sector, encontrava mais uma fonte de risos ou coçares de cabeça. As músicas com a mistura de todo aquele amadorismo dos instrumentos soam dolorosas, ainda para mais quando apostam em músicas longas que andam pelos 6 minutos ou até 7. Ao ouvir isto, parece que uns quantos miúdos se juntaram para um recital qualquer da escola e que por acaso ouviam uns discos dos Blind Guardian, Stratovarius ou dos Rhapsody – dizem eles que são exemplos de influências e as pobres bandas que aguentem com o cargo de serem apontados como influentes desta coisa – e tentavam fazer igual. No final, os pais aplaudiam, mas com estes nem sei.

No entanto, não quero levar já os moços à cruz, é verdade que estão a começar. Só é pena que soe a algo feito ainda antes de começar. Se quiserem tocar Power Metal, força, mas pelo menos aprendam a fazer as coisas. Sim, porque não digo melhorar, têm mesmo que começar a aprender do início a ver se sai alguma coisa. E um vocalista se quiser ter esse cargo convém que cante no mínimo melhor que uma velhota cigana a vender meias na feira. Também ainda não sei tocar nada para dizer algo mas pelo menos ainda não faço nada, só alapo o traseiro na cadeira e ponho-me à frente do ecrã a comentar coisas que os outros fazem e para já ainda sou feliz assim, não me posso armar em esperto a fazer coisas que ainda não sei – este foi um estranho momento de auto-realização que podia despertar-me para a vida, mas deixa para lá.

Para concluir digo para irem ouvir isto e para se deixarem apaixonar pela desafinação tamanha que para aqui vai, pela inexperiência de quem passou do nível “Easy” do Guitar Hero para a guitarra eléctrica e para erguerem o punho ao som da voz sofrida do vocalista que nem no chuveiro se safa. Se quiserem também podem desfrutar das melodias. Porque eu nem as encontrei sequer, não consegui pegar em nada no meio do ruído todo.

No entanto desejo tudo de bom para o futuro dos Hypnotica e recomendo-lhes Eu e Os Meus Onanismos, que sempre é para não ser levado a sério – nem tenho ouvido nada desse(s) indivíduo(s) recentemente…

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

The Big Pink - Future This



Artista: The Big Pink
Álbum: Future This
Data de lançamento: 16 Janeiro 2012
Género: Indie Rock, Rock alternativo, Rock electrónico
Editora: 4AD
Lista de faixas:

1 – “Stay Gold”
2 – “Hit the Ground (Superman)”
3 – “Give It Up”
4 – “The Palace”
5 – “1313”
6 – “Rubbernecking”
7 – “Jump Music”
8 – “Lose Your Mind”
9 – “Future This”
10 – “77”

Um exemplo de uma banda que tomou bastante partido da popularidade da música alternativa orientada mais pela electrónica do que pela guitarra, foram os The Big Pink. O seu hit de 2009 no álbum de estreia “Dominos” era daquelas músicas que nos perseguia e nos dizia descaradamente que era daquelas de ficar na cabeça, que lá iam ficar e que o cantarolar involuntário ia ser frequente. Tinham um êxito e isso já diz muito. Então quando foi utilizado como sample por Nicki Minaj, que se soltasse o Inferno, todo o mundo andava louco – os que se identificam com a artista, vá.

A dimensão do êxito demonstrou uma boa capacidade por parte da banda em escrever “cantigas” orelhudas e engrandeceram-se logo no seu início. Só ficava aquela: se um sucesso, notoriedade e aclamação como a que tiveram iria facilitar ou dificultar a confecção do álbum que se seguiria.

Julgando pelo resultado deste “Future This” fica a ideia de que há alguns obstáculos no trajecto dos The Big Pink para fugirem à aterradora classificação de “One Hit Wonder” que parece persegui-los subtilmente. Os temas de entrada como “Stay Gold” e “Hit the Ground (Superman)” parecem seguir a mesma vertente do hit anterior, o que por si já deixa uma ideia: a banda encostou-se à fórmula anterior e tentou conceber uma nova “Dominos”. Infelizmente, não é a melhor ideia.

O álbum em si não tem nada de mau, até pelo contrário, os Big Pink continuam a escrever boas canções com interessantes melodias, misturam bem a Pop com a electrónica e traços de Shoegaze. Conseguem ainda tirar daqui um bom punhado de canções com formato amigável para as rádios, mesmo com uma base mais “ruidosa”. A banda ainda tem tudo no sítio.

O problema parece estar nos pormenores que poderiam tornar este álbum mais grandioso, afinal de contas é o segundo álbum, é sempre aquele álbum. No entanto, o recosto na ideia de criar um hit a partir do anterior não parece ter resultado muito bem e a ambição e vontade com que a banda espremeu toda a receita para um êxito, tornou o disco um pouco disperso.

Apesar das boas melodias cativantes, o álbum não parece manter-se assim tão seguro ao longo da sua duração e nas várias canções – muitas a mandar piscadelas de olho aos anos 80 – que se encontram pelo meio dificilmente se encontra um tema ao qual se possa agarrar tão bem como aos dois temas inicias “Stay Gold” e “Hit the Ground (Superman)” – esta última que utiliza um sample de “O Superman” de Laurie Anderson. Pelo menos até à faixa final “77” que utiliza uma letra e formato mais emocional. Talvez com umas experiências mais com este tipo de material intercaladas entre outras faixas pelo meio pudesse haver um produto mais interessante. Com isto, ficam essas 3 canções de destaque.

Talvez com mais algumas audições o disco se solidifique um pouco mais, mas para já, mesmo que até seja um conjunto de canções agradáveis de se ouvir, é um disco suficiente e parece ficar-se por aí. Ninguém esperava que se retirasse daqui outra “Dominos” mas havia muito mais para fazer que pudesse pelo menos aproximar-se à grandiosidade do “A Brief History of Love”. Esperemos por um terceiro que talvez venha com mais gás.

Avaliação: 6,4


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Enter Shikari - A Flash Flood of Colour



Artista: Enter Shikari
Álbum: A Flash Flood of Colour
Data de lançamento: 16 Janeiro 2012
Género: Post-Hardcore, Rock/Metal alternativo, Electronica
Editora: Ambush Reality, Hopeless Records
Lista de faixas:

1 – “System…”
2 – “…Meltdown”
3 – “Sssnakepit”
4 – “Search Party”
5 – “Arguing with Thermometers”
6 – “Stalemate”
7 – “Gandhi Mate, Gandhi”
8 – “Warm Smiles Do Not Make You Welcome Here”
9 – “Pack of Thieves”
10 – “Hello Tyrannosaurus, Meet Tyrannicide”
11 – “Constellations”

O Post-Hardcore já leva um caminho muito longo e já deu voltas que nunca se previam na altura do seu aparecimento. Hoje em dia, esse rótulo, não só representa uma grande mudança cronológica, mas também uma grande igualdade actual, quando anda muita coisa por volta do mesmo e cada vez mais se focam numa audiência que esteja a experimentar a suas primeiras menstruações. Qual não será a sensação de miragem suspeita num deserto quando nos aparece algo mais palpável, com mais qualidade e com mais potencial para sobreviver ao factor tempo.

Os Enter Shikari bem que podem sair desse saco adolescente e estabelecer-se onde bem quiserem e enquadrem. Musicalmente são muito mais estrategas e cuidadosos quanto aos arranjos que acrescentam e o seu objectivo com certeza que supera apenas colocar uns quantos miúdos a bailar e a mexer os braços numa moshpit. As suas letras também fogem ao pastiche juvenil e em vez de se focarem em si próprios, em insultar uma ex qualquer e em concentrarem-se no próprio umbigo – ou pulso – estes jovens carregam uma forte mensagem política e ambiental com indícios de terem estudado alguns capítulos do manual de instruções dos Rage Against the Machine.

O que causaria e permitiria isso? São mesmo os Enter Shikari indivíduos com mentalidade e ambição suficientes para serem das bandas mais suportáveis, aceitáveis e porque não gostáveis do cenário? Será por serem Britânicos e são os ares Europeus que extraem algo melhor de um grupo como este? O que seja, tem estado a resultar.

Este “A Flash Flood of Colour” tinha os componentes necessários para elevar a banda de estatuto e também mais alguns capazes de polarizar. Entre o último disco e este houve uma ascensão do Dubstep que parece ter caído nas graças de várias bandas que têm ideias a rolar na cabeça. Os Enter Shikari, que sempre utilizaram elementos electrónicos na distinção da sua música, decidiram abrir também as portas ao género modístico mas fazem-no de uma forma mais inteligente de maneira a que não nos afogue no ruído por que se conhece o estilo – pelo menos não soa a epilepsia – e mais parece apenas um desenvolvimento dos elementos electrónicos já habituais na banda. Para completar a ideia de que os jovens Ingleses sabem o que fazer sem cair no “Same Old BS” acrescentam-lhe os riffs e vocais agressivos dignos de abanar cabeças e corpos, mas sem fazer o breakdown que todos fazem. Sim, porque andam muitos a tocar o mesmo breakdown aparentemente.

A descrição da música já não é estranha para quem conhece a banda, o que indica que não se reinventaram, mas certamente que enriqueceram. Temas como “Sssnakepit” ou “Gandhi Mate, Gandhi” transportam uma forte veia de protesto político, assim como “Arguing with Thermometers” – uma das que mais realça a parte Dubstep – que cospe uma mensagem ambiental poderosa acerca do problemático aquecimento global. E quando o disco se abranda em “Stalemate”, não significa que abrande a mensagem e o espírito revolucionário, até pelo contrário. Musicalmente, apenas se opõe em termos enérgicos a “…Meltdown” que põe já de imediato a juventude aos saltos, mas ambos os temas se encaixam no mesmo sítio. “Search Party” é o que aqui se pode distinguir como sendo um tema mais “rádio friendly”, enquanto que “Warm Smiles Do Not Make You Welcome Here” e o seu refrão fácil são mais direccionados a um público pronto a cantá-lo de pulmão cheio. Abranda com temas simples sem factores destacáveis até ao final em “Constellations” que acaba em nota alta, dividindo a faixa em parte calma e parte agressiva com a crítica político-social presente em todo o tema.

Mesmo que seja um disco sério e reflectivo não indica que a banda não seja estritamente séria e ainda desliza alguns momentos humorísticos pelo meio do disco, safando-se com um “Yabba-Dabba-Doo” no meio de “Gandhi Mate, Gandhi” e com uma espécie de imitação humorística de Louis Armstrong no final de “Sssnakepit”.

Mas com tudo isto não quero dizer que os Enter Shikari sejam a salvação de todo o Post-Hardcore nem acho que só por meterem electrónica pelo meio é que se distinguem. Da mesma forma que soam mais refrescantes a uns, podem passar completamente ao lado a outros. E quer se associem ainda ao género adolescente ou se emancipem dele, enquanto levarem esse rótulo às costas, ainda se pode afirmar que são das melhores e mais singulares bandas que lá se pescam…

Avaliação: 8,4


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Alcest - Les Voyages de l'Âme



Artista: Alcest
Álbum: Les Voyages de l’Âme
Data de lançamento: 6 Janeiro 2012
Género: Post-Metal, Black Metal, Shoegazing
Editora: Prophecy Productions
Lista de faixas:

1 – “Autre Temps”
2 – “Là où Naissent les Couleurs Nouvelles”
3 – “Les Voyages de l’Âme”
4 – “Nous Sommes l’Emeraude”
5 – “Beings of Light”
6 – “Faiseurs de Mondes”
7 – “Havens”
8 – “Summer’s Glory”

Faz dois anos que o músico Francês Neige com o seu projecto Alcest impressionou muitos ouvidos e alargou a sua base de seguidores com “Écailles de Lune”. O seu primeiro disco “Souvenirs d’un Autre Monde” já se tinha tornado um marco na história do Black Metal por alargar as fronteiras no que diz respeito ao que se pode fazer dentro da música “negra”. A capacidade em misturar o “negrume” e agressividade do Black Metal com os elementos de Shoegazing e Post-Rock causou um imenso debate entre os puristas do Black Metal, mas a aceitação como algo fresco e inovador rapidamente se instalou - fora do espectro Black até.

Assim que Neige deita as mãos à obra para um terceiro trabalho, volta a confiar totalmente na sua anterior fórmula e mesmo assim voltar a impressionar-nos. É aí onde melhor se nota a grande capacidade de Neige como compositor – para além do óbvio facto de que cada faixa é uma obra-prima musical – quando escreve utilizando a mesma base e consegue evitar a redundância e manter-se tão surpreendentemente bom como das primeiras vezes que o ouvimos.

O disco não acrescenta muito ao repertório “Alcest” mas sim reforça a identidade. Não procura um novo ponto de partida após os anteriores discos, procura em ambos algo totalmente novo para fazer – sente-se nos temas um balanço entre o mais agressivo “Écailles” e o mais sereno “Souvenirs”. E com a mesma fórmula com que fez dois brilhantes álbuns, faz mais um que não fica atrás.

“Les Voyages de l’Âme” é um daqueles discos que reconforta a ideia de qualquer fã de Metal de que nesse seu género se encontram maravilhas, composições, fusões e belíssimas canções ao contrário do que contam as fábulas do povo – a não ser que sejam daqueles “fãs” de Metal que só querem muito barulho para ser pesado, nesse caso, nunca hão de perceber isto e muita mais coisa boa que aí anda.

Com uma produção melhorada, este disco é daqueles que permite-nos deixar-nos levar, mas também dá para prestar atenção aos pormenores. De novo, o Black Metal frio a dar a mão ao Shoegazing que de monótono não tem nada – muito menos aqui. A voz de Naige tanto nos pode seduzir através de sussurros ou cantares melancólicos, como pode estar a berrar frenético, de tal forma tão bem encaixada que nem nos apercebemos que tenha mudado alguma coisa. A música, essa daria para servir de ambiente, seja quando toca melodias dóceis acústicas ou quando arranca um riff gelado como conhecemos do Black Metal. E, de forma fabulosa, voltam a fundir-se lindamente. E todas as canções se arrastam de forma vagarosa e melancólica mas também tão bela e preenchida, com um positivismo subtil na abordagem obscura de toda a música.

Mesmo que não dê logo para isolar faixas como favoritas e que este seja um disco de audição completa por várias vezes, numa tentativa de destaque, aconselharia uma faixa como “Autre Temps”, tema de abertura que é o que mais se encosta ao Post-Rock e não caminha ainda pela parte pesada. É apenas uma canção lindíssima e boa amostra do que Neige é capaz de fazer com os Alcest – os putos que só querem “mosh” e barulho é que se calhar até tiram os narizes do sítio de tanto os torcer. E talvez a tal faixa que se sobressaia e que por si só consiga representar toda a essência do projecto é “Là Où Naissent les Couleurs Nouvelles” que em quase 9 minutos nos dá uma completa lição sobre o que consiste a música de Alcest e que nos faz querer ouvir mais. E se quiserem viajar para um local muito longínquo daquele onde estiverem sem levantar o traseiro da cadeira, é a conclusiva “Summer’s Glory” e o seu fascinante Post-Rock que nos transporta para saberá cada um onde.

Disco a começar bem o ano de 2012 e esperemos que venham mais lançamentos tão ricos como este. Não é algo propriamente novo em relação aos outros registos de Alcest, mas cimentou bem o legado e fundiu bem os dois discos anteriores. Confiamos na capacidade de Neige em compor para que evite este refrescante e fascinante projecto de se tornar repetitivo. Para já, são os Alcest que reinam esse estranho rótulo a que se pode chamar de “Blackgaze”. Até porque são os únicos e não há muita coisa melhor que singularidade…

Avaliação: 9,1