sexta-feira, 2 de março de 2012

Lana Del Rey - Born to Die



Artista: Lana Del Rey
Álbum: Born to Die
Data de lançamento: 27 Janeiro 2012
Género: Pop alternativa, Indie Pop, Pop/Rock adulto, Sadcore
Editora: Interscope Records, Polydor Records
Lista de faixas:

1 – “Born to Die”
2 – “Off to the Races”
3 – “Blue Jeans”
4 – “Video Games”
5 – “Diet Mountain Dew”
6 – “National Anthem”
7 – “Dark Paradise”
8 – “Radio”
9 – “Carmen”
10 – “Million Dollar Man”
11 – “Summertime Sadness”
12 – “This Is What Makes Us Girls”

Assim que Elizabeth Grant, encarnando a sua personagem “Lana Del Rey” lançou o melodramático single “Video Games”, captou a atenção de meio mundo que previam a jovem como uma das “next big things” e uma artista a ter em olho para o futuro da música Pop mais inteligente. Conseguia ter uma boa porção do mundo na palma da sua mão, apenas com um single e com álbum ainda por ver luz do dia, o que só aumentava a expectativa.

Hoje em dia, com o disco já mostrado ao público, a adoração pela jovem como uma salvadora da música Pop fez-se sentir e ouvir. No entanto parece haver uma cruz e uma coroa de espinhos à espera dela em grande parte da imprensa Americana que não se parece convencer. Seja pelo facto de Lana ser filha de um magnata riquíssimo que lhe comprou o contrato e deu uma grande mão na sua promoção, quer pelo botox ora desmentido ora confirmado que existe nos lábios, ou simplesmente pela sua atitude distante e desconfortável em palco que lhe valeu uma performance no programa Saturday Night Live que não ficou muito longe do desastre.

Parece ser mesmo essa encarnação de personagem que a anteriormente conhecida como Lizzy Banks utiliza para Lana Del Rey, a rapariguinha materialista que querendo tudo e todo o tipo de dinheiro, não se consegue erguer do estado depressivo que mais causa confusão a alguns dos críticos mais rígidos. O que se pode de facto apontar e condenar pode ser que para um disco que segue uma linha interessante e atractiva da música Pop, que tenha um trabalho lírico muito aquém do que se poderia requerer, ficando as letras como ponto fraco de um disco com tudo para se apresentar forte. Não se pode seguir a linha do conceito do disco como sendo hipócrita, mas mais ficcional.

A maioria dos textos críticos de imprensas Americanas que ainda parecem ter descrito este disco com a performance no Saturday Night Live em replay constante, mal se conseguem largar desse conceito e mostram-se sempre desagradados com a “gimmick” que a artista segue para abordar a música, a atitude constrangedora, embaraçada e até estranha que utiliza – seja por estratégia publicitária ou não. Poucos deles se preocuparam em prestar atenção à música em si e muito menos se importaram em reparar se realmente havia aqui uma janela para deixar entrar bastante ar fresco na conturbada música Pop.

É nesse campo que se encontram ainda os factores mais interessantes: não há tentativa de soar minimamente usual e para além do trabalho vocal de Lana que varia entre o propositadamente monótono de forma sedutora e o mais arriscado e versatilmente trabalhado – aponto “Off to the Races” e  “Million Dollar Man” – a abordagem musical que adiciona experimentalismos de Indie ou Shoegaze juntamente com uns beats provenientes de uma sonoridade Hip Hop mais alternativa ou o tão relaxante Trip Hop, ainda completam os temas tornando cada um deles uma diferente e interessante experiência.

Para realmente se tornar o sucesso comercial que se tornou também era necessário um bom investimento nas melodias de cariz “catchy” e o trabalho está aqui bem sucedido, seja no tom melancólico de “Video Games” – o que conquistara bastante público já inicialmente – no tom irresistível de “Off to the Races”, o toque juvenil em “Diet Mountain Dew”, a essência mais Hip Hop regada com um arranjo sexual de “National Anthem”, ou em momentos em que escorregue mais para o “pastiche” Pop simples em “Summertime Sadness”. Talvez a qualidade do single “Video Games” aumentasse demais as expectativas para que alguns dos temas não se tenham sobressaído tanto como se esperaria.

Sólido suficiente é, mesmo que seja requerido algumas audições mais para alguns dos temas entrar e nenhum dos temas conseguir ser tão facilmente abraçado como “Video Games” ou até “Born to Die”, outro single que ergueu muitos ouvidos agradados. É uma atitude céptica, irónica e com tons sombrios de depressão que parece dar resultado e mesmo que seja mais uma personagem interpretada pela artista do que uma reflexão pessoal propriamente dita – até acredito que consiga fundir os dois – ainda dá para manter nome – mesmo que ela afirme que não tenha intenções de realizar outro álbum. Uma carreira não se pode deixar arruinar por uma má performance, mesmo que seja num programa rico em audiências – e se a Sinéad O’Connor também já fez asneiras nesse programa e afundou, ela já estava a ficar tola varrida e não o mostrava apenas aí.

Fora a atitude constrangedora, nervosa e desconfortável que ela utiliza – que mesmo assim pode seduzir alguns – que pareça algo que passe ao través da música em si e fora também um desempenho menos bom em televisão, goste-se ou não, que se retire o chapéu a “Born to Die” que certamente traz uma valente lufada de ar fresco ao espectro Pop e às corrompidas rádios que parecem mais agradadas com temas sobre “Stupid Hoes” ou coisa que as valha. E a sua amplitude em agradar a outras demografias que normalmente não entram por estes campos também pode significar algo, de facto.

Avaliação: 8,2


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