segunda-feira, 5 de março de 2012

Crippled Black Phoenix - (Mankind) The Crafty Ape



Artista: Crippled Black Phoenix
Álbum: Mankind (The Crafty Ape)
Data de lançamento: 30 Janeiro 2012
Género: Rock progressivo, Rock psicadélico, Rock experimental, Pós-Rock
Editora: Mascot Records, Cool Green Recordings
Lista de faixas:

CD1:
1 – “Nothing (We Are…)”
2 – “The Heart of Every Country”
3 – “Get Down and Live with It”
4 – “(In the Yonder Marsh)
5– “A Letter Concerning Dogheads”
6 – “The Brain – Poznan”
7 – “Laying Traps”
8 – “Born in a Hurricane”
9 – “Release the Clowns”
10 – “(What?)”

CD2:
1 – “A Suggestion (Not a Very Nice One)
2 – “(Dig, Bury, Deny)”
3 – “Operation Mincemeat”
4 – “We Will Never Get Out This World Alive”
5 – “Faced with Complete Failure, Utter Defiance Is the Only Response”

O conjunto Britânico Crippled Black Phoenix não demorou muito tempo após o lançamento do majestoso “I, Vigilante” e já lançaram o seu sucessor quinto disco de originais, já com mais sonoridade retrospectiva deliciosamente abordada na bagagem para agradar os ouvidos de muitos.

A essência volta a ser a mesma utilizada e mantém-se infalível: de pés assentes no presente, a abordagem do Pós-Rock desta banda encaixaria perfeitamente numa colecção de discos de Rock progressivo da década de 70, com influências de actos enormes como Jethro Tull, King Crimson e o que mais se sente e transmite: Pink Floyd. Tanto ao ponto de serem a banda com a qual melhor se podem comparar. No entanto, após cinco geniais discos, os Crippled Black Phoenix já não funcionam apenas como uns Pink Floyd, Versão 2 para os mais saudadosos, já conseguiram muito bem criar a sua identidade, mesmo que moldada à face dos seus “progenitores”.

Este novo álbum varia do anterior, na forma como é abordado. “(Mankind) The Crafty Ape” procura mais temas que “I, Vigilante” e alguns relativamente mais curtos e directos com conteúdo tão ou mais rico. Como um bom disco que siga a estrada progressiva, agarra-se a um conceito e divide-se em várias partes – não só em 2 discos, existem 3 partes diferentes. As duas primeiras partes constam no primeiro CD e intitulam-se “A Thread” e “The Trap”, com cada uma delas a ocupar cinco faixas. A terceira parte à qual intitulam “The Blues of Man” encontra-se no segundo CD deste registo duplo. Esta divisão não está feita só por fazer e só por questões narrativas, essas partes soam diferentes. Enquanto que na primeira parte somos transportados para outro local com melodias lentas e melodramáticas ambientais – “The Heart of Every Country” é um exemplo perfeito – num bom Pós-Rock quase espacial como parece ser difícil voltar a reproduzir-se nos dias de hoje. Na segunda parte, acentuam-se um pouco mais as guitarras, e temos temas mais intensos e mais directos com alguma reminiscência a um Hard Rock de barbas grisalhas. Na terceira parte, o título “The Blues of Man” não engana e há uma influência de Blues, até com toques Zeppelinescos, simplesmente formidável.

A narrativa do conceito do álbum em si é que não parece ser fácil de acompanhar pelas letras, mas de acordo com a banda trata de todo o mal da humanidade que eventualmente a poderá destruir, mas sempre com esperança e crença de que eventualmente as coisas se resolvam. Incrível como conseguem transmitir isso mesmo apenas através da música, mesmo que não prestemos atenção ao conteúdo lírico e à história que possa estar a contar. A atmosfera criada pela música em si consegue mesmo fazer-nos imaginar aquela sensação de paz desconfortável ou de um pavor controlável que se torna difícil de explicar mas para a banda parece ter sido fácil de representar musicalmente.

É música de génio diga-se assim e os currículos dos integrantes da banda são bons exemplares de talento – Mogwai e Electric Wizard são apenas alguns exemplos. Melodias lentas mas tão entranhantes, guitarras que choram a cada solo perfeitamente tocado, vocais ásperos quase sussurrados que mesmo não sendo demonstradores de grande técnica são os que melhor se adequam e ainda aperfeiçoam a obra. A voz feminina volta a ter o seu uso de forma excelente, para ajudar a limar um pouco mais as arestas de uma sonoridade cada vez mais pessoal e característica.

As influências estão lá ainda bem destacadas, mesmo que a banda já tenha o seu próprio patamar, e um belíssimo tema como “A Letter Concerning Dogheads” poderia passar por uma canção perdida de Pink Floyd para um ouvinte mais distraído. Também é nesse mesmo tema, no seu final e na épica conclusiva “Faced with Complete Failure” que o Pós-Rock que supostamente é o género-base da banda se encontra mais realçado e até tem um certo feeling Drone, a fazer lembrar um pouco actos como Earth – o final de “A Letter Concerning Dogheads” remontava-me a algo saído de um “The Bees Made Honey in the Lion’s Skull” do conjuntivo instrumental mencionado.

Não há assim muito mais a apontar em relação a estes senhores, a não ser a recomendação quase obrigatória para quem ainda não os conhecer e apreciar uma boa obra que seja tanto inovadora como clássica. E se conseguiram persuadir uma pessoa mais velha – digamos um pai que viveu a era gloriosa do Prog Rock – a não desistir da música actual, assim que ele acabe de se viciar em trabalhos do Steven Wilson e dos seus projectos, é de lhe apresentar estes Crippled Black Phoenix logo a seguir, de imediato para lhe restaurar um pouco de fé na música actual. Que se façam mais discos com tanta qualidade.

Avaliação: 9,4


sexta-feira, 2 de março de 2012

Lana Del Rey - Born to Die



Artista: Lana Del Rey
Álbum: Born to Die
Data de lançamento: 27 Janeiro 2012
Género: Pop alternativa, Indie Pop, Pop/Rock adulto, Sadcore
Editora: Interscope Records, Polydor Records
Lista de faixas:

1 – “Born to Die”
2 – “Off to the Races”
3 – “Blue Jeans”
4 – “Video Games”
5 – “Diet Mountain Dew”
6 – “National Anthem”
7 – “Dark Paradise”
8 – “Radio”
9 – “Carmen”
10 – “Million Dollar Man”
11 – “Summertime Sadness”
12 – “This Is What Makes Us Girls”

Assim que Elizabeth Grant, encarnando a sua personagem “Lana Del Rey” lançou o melodramático single “Video Games”, captou a atenção de meio mundo que previam a jovem como uma das “next big things” e uma artista a ter em olho para o futuro da música Pop mais inteligente. Conseguia ter uma boa porção do mundo na palma da sua mão, apenas com um single e com álbum ainda por ver luz do dia, o que só aumentava a expectativa.

Hoje em dia, com o disco já mostrado ao público, a adoração pela jovem como uma salvadora da música Pop fez-se sentir e ouvir. No entanto parece haver uma cruz e uma coroa de espinhos à espera dela em grande parte da imprensa Americana que não se parece convencer. Seja pelo facto de Lana ser filha de um magnata riquíssimo que lhe comprou o contrato e deu uma grande mão na sua promoção, quer pelo botox ora desmentido ora confirmado que existe nos lábios, ou simplesmente pela sua atitude distante e desconfortável em palco que lhe valeu uma performance no programa Saturday Night Live que não ficou muito longe do desastre.

Parece ser mesmo essa encarnação de personagem que a anteriormente conhecida como Lizzy Banks utiliza para Lana Del Rey, a rapariguinha materialista que querendo tudo e todo o tipo de dinheiro, não se consegue erguer do estado depressivo que mais causa confusão a alguns dos críticos mais rígidos. O que se pode de facto apontar e condenar pode ser que para um disco que segue uma linha interessante e atractiva da música Pop, que tenha um trabalho lírico muito aquém do que se poderia requerer, ficando as letras como ponto fraco de um disco com tudo para se apresentar forte. Não se pode seguir a linha do conceito do disco como sendo hipócrita, mas mais ficcional.

A maioria dos textos críticos de imprensas Americanas que ainda parecem ter descrito este disco com a performance no Saturday Night Live em replay constante, mal se conseguem largar desse conceito e mostram-se sempre desagradados com a “gimmick” que a artista segue para abordar a música, a atitude constrangedora, embaraçada e até estranha que utiliza – seja por estratégia publicitária ou não. Poucos deles se preocuparam em prestar atenção à música em si e muito menos se importaram em reparar se realmente havia aqui uma janela para deixar entrar bastante ar fresco na conturbada música Pop.

É nesse campo que se encontram ainda os factores mais interessantes: não há tentativa de soar minimamente usual e para além do trabalho vocal de Lana que varia entre o propositadamente monótono de forma sedutora e o mais arriscado e versatilmente trabalhado – aponto “Off to the Races” e  “Million Dollar Man” – a abordagem musical que adiciona experimentalismos de Indie ou Shoegaze juntamente com uns beats provenientes de uma sonoridade Hip Hop mais alternativa ou o tão relaxante Trip Hop, ainda completam os temas tornando cada um deles uma diferente e interessante experiência.

Para realmente se tornar o sucesso comercial que se tornou também era necessário um bom investimento nas melodias de cariz “catchy” e o trabalho está aqui bem sucedido, seja no tom melancólico de “Video Games” – o que conquistara bastante público já inicialmente – no tom irresistível de “Off to the Races”, o toque juvenil em “Diet Mountain Dew”, a essência mais Hip Hop regada com um arranjo sexual de “National Anthem”, ou em momentos em que escorregue mais para o “pastiche” Pop simples em “Summertime Sadness”. Talvez a qualidade do single “Video Games” aumentasse demais as expectativas para que alguns dos temas não se tenham sobressaído tanto como se esperaria.

Sólido suficiente é, mesmo que seja requerido algumas audições mais para alguns dos temas entrar e nenhum dos temas conseguir ser tão facilmente abraçado como “Video Games” ou até “Born to Die”, outro single que ergueu muitos ouvidos agradados. É uma atitude céptica, irónica e com tons sombrios de depressão que parece dar resultado e mesmo que seja mais uma personagem interpretada pela artista do que uma reflexão pessoal propriamente dita – até acredito que consiga fundir os dois – ainda dá para manter nome – mesmo que ela afirme que não tenha intenções de realizar outro álbum. Uma carreira não se pode deixar arruinar por uma má performance, mesmo que seja num programa rico em audiências – e se a Sinéad O’Connor também já fez asneiras nesse programa e afundou, ela já estava a ficar tola varrida e não o mostrava apenas aí.

Fora a atitude constrangedora, nervosa e desconfortável que ela utiliza – que mesmo assim pode seduzir alguns – que pareça algo que passe ao través da música em si e fora também um desempenho menos bom em televisão, goste-se ou não, que se retire o chapéu a “Born to Die” que certamente traz uma valente lufada de ar fresco ao espectro Pop e às corrompidas rádios que parecem mais agradadas com temas sobre “Stupid Hoes” ou coisa que as valha. E a sua amplitude em agradar a outras demografias que normalmente não entram por estes campos também pode significar algo, de facto.

Avaliação: 8,2


quinta-feira, 1 de março de 2012

Ringo Starr - Ringo 2012



Artista: Ringo Starr
Álbum: Ringo 2012
Data de lançamento: 30 Janeiro 2012
Género: Rock
Editora: Hip-O Records
Lista de faixas:

1 – “Anthem”
2 – “Wings”
3 – “Think It Over”
4 – “Samba”
5 – “Rock Island Line”
6 – “Step Lightly”
7 – “Wonderful”
8 – “In Liverpool”
9 – “Slow Down”

Décimo sétimo disco de um integrante da metade restante dos Beatles e o mais activo dessa metade. Um disco que com os seus breves 29 minutos apresenta duas covers: “Think It Over” de Buddy Holly, com certeza um ídolo de juventude de Ringo e “Rock Island Line”, originalmente interpretada por John Lomax em 1934 e tendo tido desde então, inúmeras versões regravadas. A acrescentar a essas duas versões, juntam-se também dois temas clássicos de Ringo regravados: “Wings” que já integrava o seu disco “Ringo the 4th” de 1977 e “Step Lightly” originalmente lançado no seu terceiro disco a solo “Ringo”, em 1973.

Com isto, acabamos por ter apenas cinco temas originais para constituir um novo disco sucessor de “Y Not” de 2010. O que o lendário ex-Beatle aqui faz, tanto com os temas novos como com os restantes, é aquilo que se espera de um artista que já tenha atingido o seu estatuto. Aos 71 anos, já se espera que a sua fase aventureira já não tenha mais para dar e que agora Ringo seja apenas o veterano que sorri e se diverte, mas sem sair da sua zona de conforto. Apenas temas de Rock da raiz breves, com melodias agradáveis de estalar os dedos que podem ficar na cabeça.

É normal que o sentimento que prevaleça por estes curtos temas seja aquele de nostalgia. Ringo estava lá quando se começou a dar uma verdadeira revolução musical – muita dela vinda do seu próprio grupo – assistiu a toda uma evolução que mesmo sofrendo as alterações que sofreu não foi assim tão capaz de largar totalmente a sua influência. Outra nostalgia que possa existir pode ser uma ainda mais longínqua, com uma juventude e infância de Ringo que está cada vez mais longe – tal como em “Y Not”, temos mais um tema a falar-nos em Liverpool, sua terra natal e dos seus companheiros nos Beatles.

Uma abordagem clássica nos tempos modernos ou uma abordagem moderna dos tempos clássicos, algo assim. A música é suficientemente simples para se situar nesta época presente como em qualquer outra, mesmo que o aqui se toca seja um Rock and Roll do mais simples e extraído directamente da sua raiz.

Longe está de qualquer tipo de inovação, mas também nunca há-de ser para isso que se queria ouvir um disco de Ringo Starr. As canções estão lá bem escritas e com os arranjos certos, a diversão está lá, a melodia dançável nostálgica e sempre de mão estendida a acenar à música de outros tempos que não tem porque deixar de ser feita actualmente. Está tudo lá. Pronto para arrancar alguns sorrisos de fanáticos de Beatles que gostem de apreciar o que ainda sobra e ainda se vai fazendo dos ainda presentes cérebros dos Fab Four. E durante o processo ainda há muito bater de pé. Logo, missão cumprida.

Avaliação: 7,1


terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Lamb of God - Resolution



Artista: Lamb of God
Álbum: Resolution
Data de lançamento: 24 Janeiro 2012
Género: Groove Metal, Metalcore
Editora: Epic Records, Roadrunner Records
Lista de faixas:

1 – “Straight for the Sun”
2 – “Desolation”
3 – “Ghost Walking”
4 – “Guilty”
5 – “The Undertow”
6 – “The Number Six”
7 – “Barbarosa”
8 – “Invictus”
9 – “Cheated”
10 – “Insurrection”
11 – “Terminally Unique”
12 – “To the End”
13 – “Visitation”
14 – “King Me”

Os Lamb of God fazem parte de uma onda de bandas Americanas que atingiu sucesso na primeira metade da década anterior e conseguiram levantar a orelha a muitos dos ouvintes mais novos da música pesada. Partindo do Metalcore e desenvolvendo o seu próprio som pessoal mais Groove, hoje em dia associámos rapidamente os Lamb of God ao seu som característico. Assim, ao sétimo álbum “Resolution”, a tarefa dos Lamb of God é provavelmente manter-se iguais a si mesmos, enquanto o souberem fazer.

É aí que reside a divisão de opiniões no que toca a cada disco novo da banda: uns acham que o grupo assim se mantém porque assim deve e não faz sentido mudar nada, o que se quer é uma data de malhas e que dê para se pôr bem alto. Outros encontram aqui uma hora de aborrecimento e redundância.

Depende também muito da demografia à qual se intenciona projectar, pois afinal o que existe neste álbum são temas como os Lamb of God bem sabem fazer e nos habituaram a fazer. Não é caso para dizer que a banda está cada vez melhor, porque isso é difícil. O mais considerável é reconhecer os primeiros três ou quatro discos da banda como o pique da popularidade e da originalidade da música da banda e desde então para a frente, a banda apenas tinha que manter o seu estatuto sem cair num desagradável esquecimento.

Querem malhas simples e brutais? Aqui neste disco encontram do mais simples e brutal em faixas como “Desolation”, “Cheated” ou “Visitation” que funcionam como a desculpa mais-que-perfeita para se saltar para o meio da moshpit. A principal exigência é um bom riff cheio de Groove? “Ghost Walking” está lá bem para isso e “To the End” parece rebentar da semente de um estudo de uns quantos capítulos do manual de instruções de Dimebag – já é habitual o som dos LoG soar a sucessor de Pantera em qual quer que seja o trono em que eles estivessem. Se um requisito notório também for umas quantas melodias que se balancem bem entre o brutal e o orelhudo, destaco “The Number Six” para esse propósito.

No entanto, no meio de todo o material de hábito que resulta de um conhecimento integral dos fãs por parte da banda – eles não devem pedir muito mais que o já mencionado acima – tem que haver sempre alguns factores que mostrem que a banda sabe como se mobilizar em vez de se alapar confortavelmente no mesmo sítio. A faixa de abertura “Straight for the Sun” apresenta-nos um interessante riff com tons de sludge que abre interesse para o resto do disco, a experiência mais limpa de “Insurrection” e o principal destaque de todo o registo: “King Me” que com as suas partes narradas, arranjos orquestrais e voz feminina no background torna-se a canção mais interessante de todo o álbum e muito provavelmente se pode considerar – no meio de muitas malhas antigas – uma das melhores músicas e mais épicas de toda a carreira dos Lamb of God.

De modo geral, é um disco que caminha sempre rente ao habitual e esperado da banda sem dar grandes passos na direcção do risco e vai apenas procurando a maturidade naquele som que já sabem fazer, que lhes é característico e que podem reclamar como sendo seu. Portanto vai passar ao lado de alguns dos ouvintes com menos devoção, porque acaba por soar a um “Wrath, Part II” se não for ouvido com os ouvidos de fã mais erguidos. No entanto, é como já afirmei, o grupo já caminha para o território de veteranos e hoje em dia já não estão na fase de se tornarem ainda melhores. O disco cumpre o seu objectivo de fazer com que a banda se mantenha, mas não que se exceda ou supere.

Avaliação: 7,6


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Lacuna Coil - Dark Adrenaline



Artista: Lacuna Coil
Álbum: Dark Adrenaline
Data de lançamento: 23 Janeiro 2012
Género: Metal gótico, Metal alternativo
Editora: Century Media
Lista de faixas:

1 – “Trip the Darkness”
2 – “Against You”
3 – “Kill the Light”
4 – “Give Me Something More”
5 – “Upsidedown”
6 – “End of Time”
7 – “I Don’t Believe in Tomorrow”
8 – “Intoxicated”
9 – “The Army Inside”
10 – “Losing My Religion”
11 – “Fire”
12 – “My Spirit”

“Dark Adrenaline” é já o sexto álbum de originais dos Italianos Lacuna Coil e longe já vão os tempos de “Comalies” e ainda muito mais de “In a Reverie”. E quando se diz que já vai longe não significa apenas que se passaram muitos anos, as mudanças e evoluções sonoras já tomaram bastante conta da banda e hoje em dia já constam em mais tabelas de venda, com ajuda do seu actual som.

No entanto, nem sempre se pode levar uma banda à cruz por arriscar na sonoridade mais comercial, não significa que vá sempre sair de lá algo completamente descabido. E se realmente houve muitas desilusões com o anterior “Shallow Life” não há porque não perdoar e não tentar dar uma oportunidade a este “Dark Adrenaline”. Afinal de contas este parece manter uma linha mais saudável entre o “Pop Rock pesado” que agrade às massas jovens e o mais pesado e obscuro. Até pode ser um dos discos mais completos da banda.

Não há como negar que existe nestes temas uma procura de airplay e que vá sempre reinando aquele bichinho do negócio que proporcione a criação de umas melodias pegajosas para resultar em mais vendas. Mas não é por isso que deixa de haver aqui bastante “feeling” no que se faz. As melodias e refrães de se instalar e criar casulo no nosso ouvido estão aqui bem presentes em temas como o pegadiço single “Trip the Darkness”, “Against You”, “Give Me Something More”, “I Don’t Believe in Tomorrow” e que se dane a enumeração, praticamente no álbum todo.

Algo que tem sempre que estar bem destacado e no topo das preferências é o trabalho vocal de Cristina Scabbia que carrega talento vocal para acompanhar toda a beleza que já nos demonstra de imediato – e que também deve servir de factor para conseguir vender mais uns disquitos. Mesmo que alguns não apreciem tanto a parte vocal de Andrea Ferro, é certo que está lá bem administrada com a de Scabbia e ajuda a dar-lhes o toque pessoal – e mínimo dos mínimos, pelo menos ainda há-de servir para fazer Scabbia soar ainda melhor em comparação. Voz feminina ainda em muito boa forma e destaco o trabalho vocal de”Intoxicated” que deveras me encantou.

Mais pormenores com carga positiva serão a composição mais badalesca de “End of Time” cuja acessibilidade não a torna insípida, até pelo contrário. E para quem aprecie um clássico intemporal bem homenageado – e não violentamente assassinado – num tom mais pesado, os Lacuna Coil já nos habituaram a alguns e neste disco presenteiam-nos com “Losing My Religion” dos R.E.M. Admito que já fiz muitos cabelos ser arrancados cá por casa com a versão menos simpática da mesma canção, pelos Graveworm. Creio que com esta, mais polida, bem composta e decentemente personalizada com bom resultado, já tenho aqui algo que agrade mais a todos.

Reside no entanto, na agressividade acrescida deste registo em relação ao anterior “Shallow Life”, algo que pode entrar por vias de franzir sobrancelhas e testas. Existem por vezes, algumas brisas que parecem acenar ao Nu Metal em temas como “Upsidedown”, “I Don’t Believe in Tomorrow” ou “Fire”. Mas não parece ser factor de “polegar para baixo” pois afinal de contas, é um caso em que tanto pode fazer torcer o nariz a uns como ser a parte predilecta de tantos outros.

No geral é um álbum bem mais sólido, mais pesado e mais bem conseguido que o pobremente recebido “Shallow Life” que o precedeu. Já não é surpresa que isto tenha constado nas mais galardoadas tabelas de vendas e até quebrado alguns recordes da banda, dentro das mesmas. E continua a ser um disco aceitável para emprestar aos miúdos e miúdas que estejam em fase de iniciação na música pesada antes de se adaptarem a outras coisas menos “bonitas”. Mas inserindo este no actual contexto de Lacuna Coil – não se pode analisar os discos mais recentes usando os antigos como critério – a banda ainda é bastante competente naquilo que realiza e o que não lhe falta é identidade. Até se pode dizer que neste disco haja suficiente para agradar a tanto alguns dos fãs mais antiguinhos como a alguns dos recentemente introduzidos à sonoridade mais Americanizada. E novos ainda haverão de vir!

Avaliação: 7,9

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Aborted - Global Flatline



Artista: Aborted
Álbum: Global Flatline
Data de lançamento: 20 Janeiro 2012
Género: Deathgrind, Brutal Death Metal
Editora: Century Media Records
Lista de faixas:

1 – “Omega Mortis”
2 – “Global Flatline”
3 – “The Origin of Disease”
4 – “Coronary Reconstruction”
5 – “Fecal Forgery”
6 – “Of Scabs and Boils”
7 – “Vermicular, Obscene, Obese”
8 – “Expurgation Euphoria”
9 – “From a Tepid Whiff”
10 – “The Kallinger Theory”
11 – “Our Father, Who Art of Feces“
12 – “Grime”
13 – “Endstille”

Após um teasing em 2012 com o EP “Coronary Reconstruction” eis que chega o sétimo álbum de originais dos Aborted, intitulado “Global Flatline”. Para quem não estiver ainda familiarizado com a banda, tem muita informação acerca do som da banda já no seu nome. Uma banda com o nome “Aborted” não pode tocar música muito de “algodão doce” e o mais certo é que ande pelas praias do Brutal Death ou do Grindcore.

A cada disco que a banda lança, cada vez mais se estabilizam em sonoridade. Mas essa estabilidade é que pode andar a cambalear entre as boas e as más razões. É uma banda muito talentosa no que faz, já pavimentou o seu nome no cenário brutal e cada disco que lança é cada disco que um fã da banda junta à colecção após arruinar o pescoço a ouvi-lo com gosto. Não estão cá para desiludir. Outra coisa também é o facto de quase se aproximarem do tão gasto e contado Deathcore, mas só um cheirinho, contornando e superando a sua fácil fórmula e voltando a assentar-se no género mais “Grind”.

O trabalho vocal de Sven de Calowé é imediatamente reconhecível e o seu vocal gutural já tem um cargo identificativo na música dos Belgas. O som da banda também é, sem tirar nem pôr, aquilo que um fã desta música brutal pede: canções directas e ruidosas com temas violentos, abordados de forma tão pútrida que depois de o ouvirmos, não só temos o pescoço cansado, como também temos a sensação de ficar cobertos de vómito, sangue e tripas. Para os que estão fora do estilo… Essa descrição não é tão má como parece.

O único que pode ser o pecado dos Aborted é o factor da relevância. A banda já é veterana e não anda nisto há 3 dias, mas parece não haver muito para evoluir e ultrapassar outras bandas que surgem no espectro. Vale a pena ouvir qualquer álbum do grupo, mas que mais se encontrará por aqui que vá para além do que outras bandas façam? – aqui em Portugal temos os Grog a fazer algo do estilo de maneira que dá gosto. Não me levem a mal, também dá gosto ouvir os Aborted, mas se juntarmos o CD a um monte de outros de outras bandas que toquem o género – algumas novas – não parece haver nada muito distinto.

Uma faixa que se possa destacar é “Expurgation Euphoria” cuja abordagem mais lenta que segue uma arrepiante introdução de piano, pode acrescentar uma sonoridade mais sinistra a toda a brutalidade que a banda faz.

Mais uma vez acrescento que o álbum está muito bom no que diz respeito aos critérios que constituem um disco dos Aborted, a enumeração de mínimos defeitos são apenas reflexo de um ponto de vista crítico que procura trabalhos inovadores ou pelo menos infalíveis na sua repetição. Porque dando este CD a um fã do género e dos Aborted – cujo nome já é grande suficiente para que ao ser-se fã do estilo já se tenha uns CD’s deles em memória – é de ficar a salivar por mais podridão e ruído, que certamente que agradece pelo agradável enxerto de porrada que estes temas figurativamente dão.

Avaliação: 7,3 


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

[Clássico do Mês] The Beatles - Please Please Me



Artista: The Beatles
Álbum: Please Please Me
Data de lançamento: 22 Março 1963
Género: Rock and Roll
Editora: Parlophone
Lista de faixas:

1 – “I Saw Her Standing There”
2 – “Misery”
3 – “Anna (Go to Him)
4 – “Chains”
5 – “Boys”
6 – “Ask Me Why”
7 – “Please Please Me”
8 – “Love Me Do”
9 – “P.S. I Love You”
10 – “Baby It’s You”
11 – “Do You Want to Know a Secret”
12 – “A Taste of Honey”
13 – “There’s a Place”
14 – “Twist and Shout”

Sabem aqueles joguinhos do “amigo secreto” ou lá o que é, em que se mandam cartas e/ou prendas a um amigo em anonimato? Também já tive que fazer um na escola e até nem lhe achava muita piada. Lá andei eu a mandar cartas anónimas a quem me calhou e depois no final da brincadeira, comprar uma prenda suficientemente boa para aguentar pelo menos o resto da manhã sem ir parar ao lixo.

A brincadeira era engraçada, mas nunca cheguei a ter assim tanto gosto naquilo. Foi no dia final do joguinho em que se revelavam as identidades e se davam as prendas e no meio de prendinhas modestas, doces, e outras coisas mais jocosas alguém tinha tido a ideia de levar um vinil do “Please Please Me” dos Beatles. E não é que aquela relíquia com tão agradável cheiro a velho e com um aspecto gasto que só o tornava mais belo era para mim. De repente aquela brincadeira da qual eu não era assim grande fanático, fez com que valesse a pena escrever cartas para outra pessoa com letra incógnita e às vezes até, ilegível.

O disco aparentemente tinha sido retirado da colecção pessoal do pai à socapa. Ou seja, estou sujeito a um dia destes ter o homem à minha porta a fazer-me uma espera. Isso não se faz. O que também não se faz é dar a um gajo como eu uma prenda num jogo que se baseava em ninharias, tal presente que seria o equivalente a dar-me uma fortuna gorda em dinheiro – e não me refiro propriamente ao valor que isto pudesse ter se eu o vendesse que tal ideia eu não ponderaria sequer.

Agora graças a esse momento de confraternidade entre uma turma muito conflituosa – mas que no fundo todos se adoram – tenho guardada e estimada uma cópia em vinil do “Please Please Me”, álbum de estreia de uma das mais míticas bandas a alguma vez existir, os Beatles. Foi de um joguinho que saiu a colecção de hits simples mas intemporais como “Love Me Do”, “Please Please Me”, “P.S. I Love You” ou “Twist and Shout” que hoje orgulhosamente junto à minha modesta colecção – muito modesta mesmo, isto de viver na era digital e de não ter grande dinheiro dá nisto.

Quanto ao álbum em si há pouco a dizer, mas também se dispensa qualquer apresentação. É verdade que ainda não tinha iniciado a fase mais genial dos Beatles, e ainda faltava para o estrondo psicadélico de “Revolver”, o experimentalismo de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, a variedade de um “White Album” ou a seriedade e maturidade de “Abbey Road” mas foi aqui que se começou tudo.

As canções são todas muito curtas e directas e nenhuma delas chega aos 3 minutos, com algumas delas não chegando sequer aos 2, mas são do tipo de canções que definiram o conceito que conhecemos de hit, as melodias facilmente ficam agarradas ao ouvido, mantêm todas um “feeling” bastante alegre e causam o bater de pé involuntário enquanto se ouve a música fácil de ouvir, de gostar e que qualquer um consegue apreciar.

Foi com isto que se criou praticamente o conceito de banda que conhecemos hoje, com o colectivo a escrever os temas e a interpretá-los – previamente o que predominava era o tipo de bandas de líder e banda de suporte – e é feito de tal forma que sobrevive a qualquer moda, a qualquer época e define o que é a música intemporal. Tanto se ouviu isto na altura e se ficou agradado como pode ser ouvido a qualquer altura e a sua influência é inegável: dali em diante, muitos mais fizeram disto e seguiram este conceito, mas na altura não era do mais comum.

Como já disse antes, não é o álbum mais complexo da banda, até pelo contrário deve ser o menos. Não foi inovador como os outros e a sua inovação baseou-se noutros factores de simplicidade e são as várias imperfeições que o tornam perfeito. E o principal de tudo, foi aqui que começou uma lenda sobrevivente de infinitas gerações. E mais uma vez agradeço a quem me ofereceu este tesouro.